capítulo: 23

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Mas se descobrir um jeito de discutir o assunto com Anahí foi fácil, colocar o plano em prática não foi. Desde que Alfonso a beijara, ela se fechara. A Srta. Plimm notou e comentou com Alfonso a súbita timidez e apreensão da jovem.

- Na idade dela, apesar da fraqueza e da dor, ela deveria estar se recuperando mais rapidamente. Ela anda muito nervosa e notei que piora quando o senhor está por perto.

Ele reclinou-se na poltrona de couro, exausto após um longo dia na sala de cirurgia.

- Eu também notei - respondeu, convidando-a a se sentar num sofá de couro preto. - A senhora tem conhecimento de que eu e Anahí tivemos uns desentendimentos ao logo dos anos? - perguntou, fitando-a com olhos argutos.

Ela cruzou os braços no peito.

- Anahí comentou.

- Foi culpa minha, por não aceitar que ela tivesse deixado minha mulher sozinha em estado crítico e a deixado morrer. - Ele ergueu a mão quando ela fez menção de falar. - Por favor, deixe-me terminar. Agora sei que não havia motivo para culpá-la. Errei muito, bem como os tios dela, e reconhecemos nosso erro. Mas Anahí tornou-se tão distante que achamos impossível nos aproximarmos. - Ele estendeu as mãos. - Chegamos a um impasse. Nenhum de nós sabe como agir. Não a culpo por se sentir assim, a senhora entende, mas queremos fazer as pazes e ela não permite.

- Ela ainda está sentindo muita dor - comentou a enfermeira -, e o senhor sabe que uma cirurgia radical por vezes provoca certa confusão mental. Ela precisa de tempo para se adaptar. Só isso. Tenha paciência.

- Essa não é uma de minhas maiores qualidades, exceto na sala de cirurgia, mas tentarei - respondeu com um sorriso pálido.

- Por falar nisso - disse, levantando-se -, pedi ao Sr. Uckermann para não trazer mais flores. Não é aconselhável após uma cirurgia. Ele devia saber.

Os olhos dele estreitaram-se.

- Ele veio visitá-la?

Então, ela pareceu realmente constrangida.

- Ele vem todos os dias. Pensei que soubesse.

Ele a dispensou e sentou-se meditativo, os olhos verdes duros num rosto exausto. Não, não sabia. Irritava-se por Christopher continuar aparecendo. Anahí era responsabilidade sua não dele. Bem, estaria em casa da próxima vez em que o visitante chegasse, e daria um jeito nele. Nunca lhe ocorreu estar sendo irracional.
Não até abrir a porta para Christopher na sexta-feira e dizer que Anahí não podia receber visitas.

- Por que não?

Ficou sem palavras, pois não tinha uma boa desculpa para criar objeções às visitas do jovem.

- Tomo cuidado para não cansá-la - continuou Christopher, tentando aplacar o médico, cujos olhos faiscavam. - Sei como está fraca.
Fraca. Sim, pensou Alfonso, quase frágil. Sempre o fora, mas sua independência e energia o haviam cegado. Exausto, encostou-se no batente da porta.

- Ela não está se recuperando com a rapidez que eu esperava. Não dorme direito à noite, apesar dos analgésicos, e mostra-se constantemente inquieta.

Christopher ergueu o queixo.

- Talvez seja o ambiente, embora eu entenda o fato de o senhor não controlar seus sentimentos. Mas ela sente a hostilidade, apesar de o senhor tentar esconder.

Ela fica sempre tensa.

Aquilo foi um golpe, mas Alfonso aceitou-o sem explodir. Fora hostil por tanto tempo... Todos sabiam. Agora a instalara em seu apartamento e esperara que ela gostasse dele. Ressentia-se por tal não acontecer. Devia estar fora de si para esperar isso, apesar de ela ter se derretido em seus braços. Mesmo a demonstração de afeto poderia soar como ameaça, como um modo dissimulado de brincar com sua vulnerabilidade e magoá-la. Ele jamais faria isso, mas ela não podia adivinhar. Ele era o maior obstáculo à recuperação. Incrível precisar de um estranho para mostrar-lhe a verdade.

- Converse com ela - disse inesperadamente. - Veja se ela prefere voltar para casa. A Srta. Plimm pode acompanhá-la e ela terá toda a ajuda de que necessita.

- Muita gentileza sua, doutor - disse o jovem, surpreso. As sobrancelhas escuras de Alfonso arquearam-se.

- Eu o surpreendi?

O jovem remexeu-se inquieto.

- Todos sabem o quanto o senhor odeia Anahí.

Alfonso acenou em direção ao quarto dela e voltou para o escritório, fechando a porta devagar. Mas estava preocupado demais para conseguir se concentrar.

Christopher sorriu da porta para a amiga, que se animou um pouco ao vê-lo.

- Deprimida de novo? - ele provocou, deixando a porta encostada. A expressão no rosto dela iluminou-se de pronto. Sentou-se ao seu lado na cama. - O Dr. Herrera acabou de dizer que, se você quiser, pode ir para casa com a Srta. Plimm.

Anahí expirou, aliviada. Ficar perto de Alfonso era pura tortura.

- Quando? - perguntou imediatamente.

- Quando quiser, suponho. Ele me pediu que a avisasse. - Afagou-lhe os cabelos. - Você não gosta daqui, não é?

Ela fez que não com a cabeça, baixando o olhar.

- Ele tem sido muito gentil, mas queria estar na minha casa, com as coisas que me são familiares. Eu o atrapalho, embora ele evite demonstrar. Ele nem pode convidar... Pessoas... Comigo aqui.

- Pessoas?

- Mulheres - murmurou.

- Essa é boa. Nem a maior fofoqueira do hospital consegue dizer nada sobre ele. Ele não sai com ninguém. Acho que ainda está de luto.

- É - disse e ficou magoada. - Ele era louco por ela. Tiveram que arrastá-lo do caixão. - Ela não gostava de se lembrar.

- Ele devia amá-la muito.

- Mais do que a própria vida. Por isso me odeia tanto. Acho que não é tão crítico quanto no passado, desde que fiz a cirurgia. Mas o fato é que ele me deixou encarregada de cuidar dela e eu a deixei morrer. - Os olhos demonstravam desespero ao erguer o rosto. - Eu também a amava - disse com voz rouca. - Apesar de eles não acreditarem. Ela podia ser gentil quando queria. Todos a mimavam por ser tão linda, até mesmo eu.

- A beleza é superficial - afirmou Christopher friamente. - Não tem nada a ver com o caráter da pessoa. Eu me apaixonaria por você, se meu coração fosse livre.

- Obrigada. - Ela sorriu. Ele deu-lhe um tapinha na mão.

- Você também nunca namora. Também sofre por um amor não correspondido?

A paciente (Adaptada) ayaOnde histórias criam vida. Descubra agora