capítulo: 29

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Ele tocou-lhe o rosto com afeto, percebendo a indecisão dela.

— Dê tempo ao tempo. Só peço que pense a respeito.

— Pensarei — ela prometeu.

— E agora — murmurou olhando ao redor —, acho que seria uma boa idéia andarmos um pouco e pararmos de bloquear a passagem.

Ela soltou uma gargalhada, agarrando-se a seu braço.

— Está bem.

Ele conduziu-a devagar até a esquina e deixou-a descansar antes de voltarem. Ela estava sem ar e vermelha, mas era natural. Examinou-lhe o pulso. Forte, ritmo regular, como era de se esperar nessa etapa da recuperação. Ele sorriu.

— Aos poucos conseguirá fazer exercícios com mais facilidade — prometeu.

Era verdade Ele a levava para caminhar todos os dias, exceto quando tinha emergências. Os dias transformaram-se em semanas; as semanas, em meses. Ela recobrou a força e o ânimo; o peito parou de doer. Ele ainda lia para ela à noite, a voz baixa e suave no silêncio do apartamento. Compartilhava com ela suas preocupações; Tratava-a com carinho, mas mantinha a distância física, e Anahí começou a questionar se ele mudara de idéia quanto ao pedido de casamento impulsivo. Ele já tivera uma péssima experiência e, na certa, não estava disposto a arriscar-se novamente. Anahí sentiu-se impelida a depender dele como paciente. Não podia afastar a idéia, apesar de seus protestos, de que ele tentava corrigir os erros do passado. Se fosse esse o caso, então ele podia ter começado a alimentar dúvidas sobre um futuro a dois.

De toda maneira, ele a observava como um abutre, certificando-se de que ela comparecesse às consultas com o cardiologista, fizesse exame de coagulação toda semana, tomasse os remédios... Seu sócio, que a examinara, e o cardiologista concordaram que ela já podia não apenas dirigir, mas voltar ao trabalho. Alfonso subiu pelas paredes assim que ela fez menção a isso, após os check-ups preliminares.

A Srta. Plimm havia sido dispensada, pois Anahí não mais precisava de uma enfermeira. Ainda bem, pois a voz zangada ecoou por todo o apartamento. Qualquer possível reserva desapareceu. Enfureceu-se, exibindo o temperamento latino, xingando em dois idiomas e perguntando onde estava com a cabeça. Ela tentou argumentar.

— Sou grata a você por tudo que fez, mas não é responsável pelo meu sustento. Quero ganhar meu próprio dinheiro. Tenho um aluguel que você vem pagando desde a cirurgia.

— Você não precisa morar sozinha. É cedo ainda.

Estou aqui há três meses. Todos os médicos disseram que estou capacitada a voltar ao trabalho. O resultado do teste prova que meu coração funciona como um relógio, caminho todos os dias, como feito um animal... Por que você se comporta assim?

Ele atirou as mãos para o alto, murmurando algo em espanhol sobre falar com as paredes.

— Não sou uma parede — retorquiu com as mãos nos quadris. Apesar da raiva, os olhos dele brilharam diante de sua disposição. Quando doente, era uma sombra de si mesma e tivera medo de deixá-la sozinha com a enfermeira. Mas agora estava bem disposta, o coração funcionava quase como novo, talvez até melhor, e ela podia trabalhar, pelo menos em meio expediente. Gostaria de encontrar uma desculpa para mantê-la em sua casa. Não sabia como suportaria voltar a viver sozinho.

— Não pode levar Mosquito — disse, afinal, procurando um argumento que a impedisse de partir. Ele a fitou com as mãos enfiadas nos bolsos. — Ela sofrerá.

A paciente (Adaptada) ayaOnde histórias criam vida. Descubra agora