capítulo: 25

327 19 9
                                    

Ele chegou mais perto da cama.

— Sua pronúncia é perfeita. Você entende tão bem quanto fala?

— Às vezes — admitiu. — Depende de quem fala. Entendo melhor o sotaque cubano, pois meu professor era de Havana.

— Costumamos pular algumas palavras. Então pode me entender quando falo espanhol — acrescentou, franzindo os lábios. — Então, se ficasse aqui, até estar em condições de cuidar de si mesma, eu poderia ler Baroja para você todas as noites.

Ela apertou a coberta.

— Diana lhe deu um exemplar de Cuentos e de Paradox Rey — recordou-se.

— Que você escolheu — retrucou, surpreendendo-a —, pois Diana nunca falara uma palavra em espanhol. Achava um idioma chato e sentia desprezo pelos autores espanhóis, como Baroja.

— Ele é um dos meus favoritos — admitiu. — Era um renegado, mas entendia de sofrimento e pobreza. Conhecia a alma das pessoas.

— Claro. Ele era médico antes de ser escritor. — Ele sorriu. — Você gosta de Zonilla?

Ela sorriu.

— Don Juan Tenorio — citou.

— Que apropriado você lembrar-se dessa obra em particular. Diferentemente do Don Juan que foi condenado, na versão da história de Tirso de Molina, o Don Juan de Zonilla foi salvo do inferno pelo amor de uma boa mulher.

— Sim, uma história linda. — Ela moveu os ombros e recostou-se nos travesseiros com um longo suspiro hesitante, pois ainda sentia certo desconforto. A mão tocou a cicatriz.

— A cicatriz vai desaparecer quase toda — comentou ao vê-la tocar a incisão. — Eu me orgulho dos meus pontos.

Ela sorriu.

— Você é um excelente cirurgião. — Fitou-o. — E tem sido muito gentil.

— E você acha que tal gentileza deve-se à minha consciência pesada?

— Essa idéia me ocorreu.

As mãos moveram-se dentro dos bolsos.

— Bem, não é só culpa. Pelo menos, não mais. Eu gosto de cuidar de você, não é estranho? Nunca tive ninguém por quem voltar para casa, muito menos alguém que precisasse de mim. — Retorceu a boca. — Acostumei-me a... Ter você aqui. — O sorriso sumiu. — Você odiará seu apartamento — disse abruptamente. — Apesar da companhia da Srta. Plimm.

— Você acha sua companhia tão indispensável? — perguntou ela irritada.

— Talvez seja, Anahí — disse com voz profunda e séria. —Acho que não se dá conta do quanto me acostumei a ter você em minha rotina. Você se encaixa aqui.

Seu coração voltou a acelerar. Sentiu-se aprisionada. Entretanto, ele não dera um passo em sua direção.

— Fique — pediu.

Ela enrubesceu. Não conseguia fazer a mente funcionar.

— Estou atrapalhando. E Christopher vem aqui e você não gosta...

— Posso tolerar seu amigo. E você não atrapalha.

Ela hesitou. Não queria ficar; tampouco queria partir. Era um risco permanecer perto dele. Ele ainda não sabia o que ela sentia por ele, mas, se ficasse mais tempo, descobriria. Por outro lado, levara um susto com seu estado de saúde e era reconfortante tê-lo por perto, tanto em termos profissionais quanto por motivos pessoais. E também havia Mosquito. Sentiria saudades dela. A cozinheira preparava refeições saborosas, o quarto era bonito... Sua racionalização a irritou e ela o fitou furiosa por ele tentá-la.
Ele apenas sorriu, tentando persuadi-la.

A paciente (Adaptada) ayaOnde histórias criam vida. Descubra agora