A enfermeira Plimm voltou àquela tarde. Mais atenta do que nos primeiros dias após a cirurgia, Anahí notou que Polly Plimm devia estar na casa dos 50 e era uma mulher gentil e afável, com o comportamento de um sargento. Tomou conta do apartamento de pronto. Quando Alfonso entrou trazendo comida da rua, ela tirou os pratos, fez café e preparou mais suco de frutas. Ficou postada ao lado de Anahí até a jovem ceder e levar uma garfada de frango grelhado à boca relutante.— Não está delicioso? — perguntou. — Agora você come enquanto eu separo os remédios. — Tão logo ela saiu, Anahí descansou o garfo, olhando impassível a delicada compota de fruta, os aspargos refogados e o delicioso pãozinho caseiro no prato. Não tinha fome. Como conseguiria comer tudo aquilo? Sentiu-se uma intrusa, apesar de não ser este o mesmo apartamento em que ele vivia com sua amada Diana. Tê-la por perto devia ser a repetição de um pesadelo. Ela desejava muito voltar para casa, mas ele não deixava.
— Não está comendo? — Alfonso censurou-a da porta. Havia tirado o paletó e a gravata, enrolava as mangas da camisa branca já com o colarinho aberto. Mesmo desalinhado, continuava elegante e muito sensual.
— Estou tentando — respondeu na defensiva, com os olhos no prato.
Ele entrou, sentando-se devagar na cama ao seu lado. Pegou o garfo dos dedos frouxos e indiferentes e espetou um pedaço de fruta.
— Não — protestou.
Ele colocou a fruta nos lábios entreabertos, empurrando-o de leve contra a pele macia com uma pressão sedutora. Devia estar imaginando coisas, pensou Anahí ao erguer o rosto. Os olhos misteriosos, semicerrados a fitavam. Ele era tão lindo, pensou infeliz. Nunca vira um homem tão sensual e desejável em toda a sua vida, e ela devia estar parecendo a rejeitada de algum programa humorístico.
Ele curvou-se, os olhos recaindo em sua boca macia.
— Coma — sussurrou, forçando mais uma garfada.
Ela abriu os lábios involuntariamente, aceitando o pedaço de fruta e mal sentindo o gosto ao mastigar.
O olhar desceu para a cicatriz aparecendo na camisola de algodão branco que a enfermeira a ajudara a vestir. O batimento cardíaco, embora regular e rápido, a perturbava devido ao som mecânico da válvula abrindo e fechando em seu coração.
— A dor melhorou? Tem comprimidos, se precisar.
— Só dói um pouco.
— Onde? Aqui? — O dedo comprido passou o dedo pela cicatriz, enfiando-o dentro da camisola. Ela gemeu e segurou-lhe o pulso forte.
Ele sorriu encantado com o rubor repentino. Moveu a mão para perto de sua cabeça no travesseiro e ocupou-se em colocar mais comida no garfo.
— Você não pode... — murmurou num sussurro.
— Posso sim. — Ele deu-lhe de comer, devagar, sensualmente, observando-lhe a boca enquanto ela mastigava uma garfada atrás da outra. O olhar firme fez seu coração acelerar. Ele viu, ouviu e ela odiou o corpo traidor por sua vulnerabilidade.
Alfonso estava encantado. Afinal, ela não era indiferente. Isso significava que poderia conseguir corrigir os erros passados. Ainda não estava seguro de seus motivos, mas gostava do modo como ela reagia a ele. A vulnerabilidade de Anahí aumentava seu orgulho, o tornava arrogante, tamanho o prazer. Havia muito tempo não se sentia tão vivo, tão másculo.
A entrada da Srta. Plimm interrompeu-lhe os pensamentos. Alfonso sorriu para ela.
— Hora do remédio — disse a senhora com um sorriso. Estendeu o copo de papel a ele. — É bom ter seu médico ao alcance, hein? — brincou ao sair.
Alfonso colocou os comprimidos na sua boca e estendeu-lhe o suco, o braço forte apoiando-a para que ela pudesse engolir. Naquela posição, a camisola ficou solta, expondo os seios firmes e bonitos. Ela viu os olhos de Alfonso baixarem para observá-los e rapidamente recostou-se, corando.
Os olhos encontraram os seus.
— Sou médico — lembrou-a.
Ela desviou o olhar para o suco de frutas e não respondeu. Ouviu o suspiro transpassar-lhe os lábios quando ele se levantou da cama e parou ao lado, pensativo, com as mãos nos bolsos.
— Termine de jantar. Volto mais tarde. Preciso concluir um trabalho no escritório. — Ela anuiu sem fitá-lo. O coração batia ensandecido e a causa não era a válvula artificial. Odiou ser assim e deixar que ele percebesse.
Ele reconheceu o ressentimento em seu rosto, mas estava sem palavras. Ela parecia sentir atração por ele antes da cirurgia, mas agora só queria mantê-lo à distância. Começou a lembrar-se dos últimos anos. Flashes impressos na mente. Anahí, bem mais jovem, corando quando ele a fitava, escondendo-se dele, observando-o e desviando o olhar tão logo ele a olhava. Sempre usando roupas largas. Recuando. Estranho, sempre fora assim, desde que entrara pela primeira vez naquela casa.
Diana era linda, sem dúvida. Sua presença impedira que ele prestasse atenção à pálida sombra que era Anahí. Mas agora o passado parecia tão vivido e real. Anahí não visitara a prima depois do casamento. Evitava-o mesmo no trabalho, mudando os turnos para que raramente coincidissem com os seus.
Ele se sentiu inquieto. Não gostava de pensar no passado. Era desconcertante. Nunca se permitira olhar realmente para Anahí ou tentar entender o motivo de sempre agredi-la. Passara anos sendo grosseiro com ela de propósito. Afastou as lembranças e deixou Anahí entregue ao seu jantar. O resto da noite ficou tão quieto que, ao voltar para examinar na hora de dormir, surpreendeu as duas mulheres. Examinou-a superficialmente, declarou que ela estava melhorando e pediu a Srta. Plimm para pegar os analgésicos e foi dormir ainda distante e distraído.
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A paciente (Adaptada) aya
RomanceAlfonso é o último homem de quem Anahí aceitaria ajuda, mas ela estava doente. Como médico, era dever de Alfonso buscar a cura de seus pacientes. Como homem, ele tinha de encontrar um meio de cuidar do coração da mulher que assombrava seus sonhos. S...