capítulo: 21

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Irritou-o mais do que gostaria de admitir ver Christopher aparecer no sábado com um buquê de flores. Convidou-o a entrar e a Srta. Plimm acompanhou-o até o quarto.

Ele não havia pensado em flores. Era evidente que Anahí se emocionou e se surpreendeu com o gesto de Christopher. Alfonso não lhe dera sequer uma erva daninha e deu-se conta do erro ao ver o jovem se inclinar para beijar-lhe o rosto pálido e o sorriso afetuoso que brotou de seus lábios.

Trancou-se no escritório. A vida amorosa de Anahí não lhe dizia respeito. Por acaso ela se sentia atraída por ele, mas isso era uma ironia do destino. Ela não gostava dele. Podia ser vulnerável a ele, mas lutava contra isso com todas as forças, mais do que nunca.

Ele se certificara de não lhe dar motivos para gostar dele. Havia sido sarcástico durante o casamento e odioso após a morte da mulher. Comportara-se como um estranho, deliberadamente. Observou o retrato de Diana na parede. Ela posara para um famoso pintor logo depois do casamento. Os olhos esverdeados, vazios de sentimentos como a parede. O artista havia capturado a essência da retratada: linda e superficial. Ironicamente, ela adorara o resultado.

Preparou um drinque, pois estava de folga uma vez na vida e sentou-se para saboreá-lo. Segundos depois, a gatinha correu pelo tapete e pulou no seu colo, ronronando. Ele a acariciou, observando os enormes olhos verdes fitarem-no em adoração. Pelo menos, pensou, a gata gostava dele. A Srta. Plimm entrou no aposento dando uma olhada em direção ao quarto com um sorriso nos lábios.

- Posso pedir à cozinheira para atrasar em meia hora o jantar? - perguntou com educação.

Ele suspirou.

- Pode sim. Parece que eles têm muito assunto.

- O senhor está com uma aparência tão cansada. Posso trazer-lhe algo?

Ele ergueu o copo.

- Tenho tudo de que preciso obrigado. - Ela olhou na direção do quarto.

- Dúzias de flores - murmurou -, e ela acabou de sair do hospital. Vão obstruir-lhe os pulmões, mas as pessoas não pensam, não é mesmo? - Voltou para o quarto dela e Alfonso olhou na direção do quarto de Anahí. Estranho, mas saber que Perla tinha um amante não o incomodara nada se comparado ao fato de Anahí ter um namorado. Recostou-se na poltrona e fechou os olhos.

Uma hora depois, a Srta. Plimm o cutucou gentilmente.

- Uma ligação? - perguntou, piscando e acordando de imediato.

- Não, senhor, o jantar. O Sr. Uckermann já foi para casa. - Ela segurava o buquê de flores. - Vou colocá-las na sala de jantar.

- Ela não se importa? - ele perguntou friamente.

- Nem perguntei.

Ele foi até o quarto e não a encontrou na cama. Ouviu a porta do banheiro se abrir e a viu sair andando muito devagar e ofegante.

- Não podia ter pedido ajuda? - Antes que ela pudesse responder, ele pegou-a no colo e a levou para a cama. Sua rigidez atravessou-lhe o paletó. Ele a fitou e parou ao lado da cama, surpreso com a expressão de seus olhos. - Você está assustada - disse, voltando a estreitar os olhos. - Por quê? - Ela engoliu em seco.

- Coloque-me no chão.

Ele ignorou o pedido, nervoso. Pensava, o olhar reflexivo e firme.

- Roupas largas - murmurou -, nenhuma maquiagem, sempre me evitando... Por quê?

- Você não tem o direito... - começou.

- Mas você vai me contar assim mesmo.

- Não vou, não - garantiu.

Sentou-se na beirada da cama com ela no colo. Recostou-a no ombro e pousou a mão livre debaixo de seu peito sobre a camisola de seda.
A mão dela agarrou-lhe o pulso forte, numa súplica. Mas ele não se moveu. Os dedos começaram a se mexer lentamente. E todo o tempo ele observou-lhe o rosto com olhos astutos. Ela gemeu e estremeceu quando o dedo indicador roçou o mamilo enrijecido. A mão de Anahí afrouxou; ela suspirou.

- Querida - murmurou e, sem pensar onde estavam, na porta aberta, no passado, ele desceu-lhe a camisola e pressionou os lábios com suavidade na pele macia e quente do seio.

- Alfonso - sussurrou, soluçando quando as mãos agarraram-lhe os cabelos negros, tentando assumir o controle perdido no momento em que ele tocou-lhe a pele. - Meu... Deus... Não! - Mas enquanto a voz rouca implorava, o corpo traidor arqueou-se dolorosamente, tentando aproximar-se da boca quente e ela arrepiou-se, tamanho o prazer proporcionado pelos lábios.
Ela sentiu as mãos em seu corpo, movendo-se devagar, guiando-a para a cama, para o travesseiro, enquanto a boca a devorava. Ele podia sentir-lhe a respiração nos lábios, ouvir as batidas frenéticas de seu coração, o próprio corpo tão tenso, tão ansioso que doía da cabeça aos pés. Ao som de pratos na madeira, ergueu a cabeça. Admirou a suavidade do seio de Anahí, o local onde a boca tão ávida pressionara a cicatriz vermelha e a pele alva, subindo até os olhos arregalados, assustados. Ela tentou puxar a camisola, mas ele continuou a segurá-la. No silêncio do quarto, voltou a admirar-lhe o seio, fascinado pelos contornos firmes, macios.

- Doutor, a cozinheira vai servir o jantar - avisou a Srta. Plimm.

Alfonso mal conseguia respirar em ritmo normal. Os olhos encontraram os de Anahí, firmes e implacáveis ao ver, sentir e ouvir como ela reagia a ele. Voltou a fitá-la, os olhos famintos por sua nudez. Com um gemido, conseguiu cobri-la e levantar-se, as costas voltadas para a cama e para a porta, aparentemente olhando pela janela enquanto lutava contra os demônios do desejo a estraçalharem-lhe o corpo. Fazia anos...
Os passos se aproximaram.

- Doutor? - chamou a Srta. Plimm.

- Já estou indo.

- Pois não. Posso trazer algo para a senhorita?

- Não, obrigada - Any conseguiu dizer com voz calma.

- Bem, se precisar de alguma coisa, é só chamar.

- Obrigada, Srta. Plimm.

O corpo tremia da cabeça aos pés. Não conseguia olhar Alfonso, envergonhada de sua impotência, de sua entrega.
Após um minuto, ele voltou-se para a cama e a centelha de desejo em seus olhos a fez estremecer. Agarrou o lençol, novamente dolorida pelo movimento do corpo e demonstrou-o.
Sem uma palavra, ele abriu o vidro de analgésicos e, segurando-lhe a mão com a palma para cima, colocou dois comprimidos nela. Levou-lhe a mão aos lábios e entregou um copo de água para ajudá-la a engolir o remédio. Repousou o copo e cobriu-a até a cintura. Os olhos azuis e turbulentos encontraram os seus, embaraçados. Ele afastou algumas mechas de seu cabelo com expressão triste. Inclinou a cabeça e deu-lhe um beijo na testa. Ela tentou falar, mas os dedos finos sobre sua boca a silenciaram.

- Existem na vida poucos momentos tão maravilhosos - sussurrou ele. - Nesses casos, mesmo as palavras são uma espécie de profanação. - Ela perdeu o ar diante da expressão de seus olhos, embora o que ele dizia não fizesse sentido. - Vá dormir - recomendou com ternura.
Surpreendentemente, seus olhos fecharam, ainda o vendo, o corpo assaltado por desejos desconhecidos que não fazia idéia de como saciar. A dor, o choque e a exaustão cobravam seu preço. Logo depois, caiu num sono profundo.

A paciente (Adaptada) ayaOnde histórias criam vida. Descubra agora