capítulo: 12

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Naquele instante, ele começou realmente a ter dúvidas sobre a participação de Anahí na morte de Diana. Não conseguia afastar os olhos daquela gatinha em seus braços. O coração dela era mole. As pessoas sempre se impunham a ela, pois Anahí se comovia com histórias tristes. A tia costumava reclamar da quantidade de animais abandonados que Anahí levava para casa e que, depois de cuidados, eram dados a pessoas que os tratariam bem. Os tios não gostavam de animais, então nunca lhe permitiram ter um. Mas isso não a impedia de resgatar os rejeitados do mundo.

Essa lembrança o incomodou, pois mostrava quem ela era. Ela não abandonaria um filhote à própria sorte; então, como pudera imaginar que sacrificaria a prima querida? Destoava tanto de seu temperamento que ele ficou atônito por tê-la culpado pela morte de Diana.

Anahí notou a súbita palidez no rosto bronzeado e aninhou mais ainda o filhote.

- O que você quer? - perguntou com olhos acusadores. - Estou muito cansada e preciso dormir.

Ele a observou com um olhar diferente. O rosto pálido, manchas no rosto, a respiração acelerada, irregular. Podia ver o coração batendo também irregular contra o tecido do roupão. Algo de muito errado estava acontecendo.

- Você foi ao médico?

- Por causa de um vírus? - riu, blefando. - Por que incomodaria um médico com algo que vai desaparecer sozinho?

- Estou com minha maleta no carro.

O coração já irregular bateu ensandecido à simples idéia de ele auscultar-lhe o coração.

- Já tenho médico - disse por entre os dentes. - Além disso, o que o faz supor que eu deixaria você me examinar, mesmo que estivesse à beira da morte? - acrescentou em tom amargo. - Jamais confiei em você com um bisturi na mão. Você poderia não resistir à tentação.

A respiração aguda foi audível.

- Como ousa? - perguntou ele com os lábios cerrados. Ela estava doente demais para se deixar intimidar por aquele olhar feroz.

- Estou cansada - disse, recuando. - Poderia, por favor, ir embora e deixar-me dormir?

Ele hesitou. Algo estava errado e ela não confiava nele o suficiente para contar. De repente, sentiu-se menos seguro. Sentiu-se também culpado, embora desconhecesse o motivo. Examinou-a com indisfarçável curiosidade, observando-lhe a magreza, as olheiras.

- Você está doente - exclamou baixinho, como se tivesse acabado de perceber.

- Estou cansada - ela repetiu. - Devia ter ficado mais um dia na cama depois da infecção viral e trabalhei muito. Amanhã estarei em forma. Tampouco preciso de um médico que me diga isso. - As maçãs do rosto estavam proeminentes. Tinha uma boca adorável, tamanho e formato perfeitos. A pele era clara e levemente corada. Ele notou o cabelo preso num rabo de cavalo e voltou a se perguntar como seriam se os soltasse.

- Por favor, vá embora - ela pediu novamente, nervosa. Ele não queria partir. Estava sinceramente preocupado com ela.

- Faça ao menos um check-up.

- Farei, mas não hoje. Agora posso dormir, por favor? - Ele emitiu um ruído e girou nos calcanhares.

- Caso não se sinta melhor amanhã de manhã, fique em casa - sugeriu com grosseria.

- Não me dê ordens - disse, calma. - Farei o que bem entender.

Ele olhou por cima do ombro. Ela sempre fora discreta, porém nada podia encobrir o fato de ser uma mulher espirituosa, inteligente e independente. Diana atendia a seus desejos, inflara seu ego, a princípio alimentara-lhe a paixão até obcecá-lo. Mas não era inteligente e nunca discutia de igual para igual. Era dada a fazer biquinho e cair doente para atrair simpatia. E nunca sujaria as mãos com um filhote molhado. Os pensamentos o chocaram. Como podia ser tão desleal com a única mulher que amara?

- Suponho que sim, mas não o encontro. - Franziu a testa examinando a tela do computador. - Talvez esteja em outro lugar. - Deixe para lá - disse, desistindo. - Não devia ter nada. Se tivesse, as novas leis não permitiriam que a excluíssemos com base numa doença preexistente.

- Claro. - Alfonso agradeceu e saiu, prometendo a si mesmo investigar até o fim o estranho comportamento dela e qualquer segredo de saúde que pudesse estar escondendo. Não podia examiná-la a força, mas podia observá-la. Passou mais tempo no O'keefe na semana seguinte. Podia agir assim sem atrair atenção, pois tinha vários pacientes em recuperação internados no hospital.

Conseguiu ficar parado perto dela enquanto examinavam a ficha da Sra. Green. Ouviu o som ofegante da voz, viu o palpitar da pulsação na gola da blusa. A palidez agora era evidente, bem como as olheiras e a fraqueza manifestada na falta de ânimo. Apesar dos motivos nobres, supôs que Anahí pudesse estar excitada devido à proximidade. Lembrou-se da declaração provocante de que ele era responsável pelo batimento cardíaco acelerado. Ele levara a sério. Parecia ser verdade. Ela reagia visivelmente quando ele estava por perto e não apenas por alguma doença começar a se manifestar.

Isso o perturbou, pois ele parecia tão vulnerável quanto ela. Pegou-se admirando a elegância das mãos de dedos longos, a pele impecável do rosto oval, o formato delicado da boca. Ele se obrigara a nunca prestar atenção nela enquanto Diana vivia, mas, aos poucos, começou a se lembrar de certos detalhes. Como ela corava quando ele a olhava, mesmo que de modo indiferente. Como ela o evitava quando morava com os tios. Como parecia nunca falar com ele, a não ser no trabalho. Ela traíra os sentimentos que experimentava por ele centenas de vezes ao longo dos anos e ele, deliberadamente, recusara-se a reparar. Até aquele momento.

Ele esquadrilhou-lhe os olhos, sem piscar, e viu as pupilas dilatarem. Ela era vulnerável e ele queria protegê-la. Não sentia isso por Diana. Desejara a esposa com obsessão, a amara, mas ela não era a mulher que fingia ser quando ele a cortejava. Depois de casados, discutiam sem cessar sobre sua necessidade de companhia, de festas e reuniões sociais. Ela se recusa até mesmo a discutir a vontade de Alfonso de ter um filho. Não queria assumir responsabilidades. Ele fechou a cara ao se recordar.

Não precisa me olhar de cara feia - murmurou Anahí desviando o olhar para a ficha que segurava. - Nunca mais atrasei o horário dos remédios.

- Não é isso - disse devagar. Os olhos caíram no ritmo irregular do jaleco, refletindo a respiração ofegante. Ela afastou-se, pois o contato com o corpo alto e elegante mexia demasiado com ela.

- Quer examinar alguma outra ficha? - inquiriu insegura. Ele enfiou as mãos nos bolsos do jaleco branco e a encarou sem sorrir.

- Quero que vá ao médico e faça um check-up geral - disse, de repente, forçando os olhos alarmados a encontrarem os seus. - Você está tentando esconder uma doença, mas não funciona. Não pode continuar desse jeito.

Ela ficou muda ao fitá-lo boquiaberta.

- Eu... Eu fiz um check-up - gaguejou confusa com o interesse dele em sua saúde.

- E?.

- Meu médico disse que preciso de mais vitamina B-12 na dieta e me deu um vidro de pílulas de ferro - mentiu.

Ele olhou para ela, zangado.

- O que não explica isso. - Tocou-lhe de leve o pescoço onde a veia pulsava irregular.

Ela deu um pulo para trás, tão perturbada com o toque que ficou vermelha.

- Dr. Herrera, não sou obrigada a discutir minha saúde com o senhor. Não é meu médico!

- Não, mas faço parte do quadro de médicos do hospital, e estou ordenando que faça outro check-up e vou logo avisando que pedirei uma cópia do resultado. Você está colocando em risco não apenas os pacientes sob seus cuidados, mas sua própria saúde adiando o exame.

A paciente (Adaptada) ayaOnde histórias criam vida. Descubra agora