capítulo: 27

276 20 9
                                    


Ela trincou os dentes e o fitou.

— Estou com frio — disse obstinadamente. —Acho que estou com febre.

— Ardendo por mim — E não brincava como demonstrava o rosto sério. — Sinto o mesmo por você, bem como respeito, admiração, carinho e desejo.

— Não vou dormir com você.

— Seria difícil em seu estado.

— Quis dizer nunca.

— Ah, nunca é muito tempo, e sou um bocado persistente.

— Vou embora hoje.

— Não vai. — Ele sorriu diante de tamanha fúria. — Você precisa descansar. Quando a enfermeira voltar, vamos almoçar e depois seus tios podem visitá-la. À noite, lerei Baroja.

Ela quis fugir, mas não tinha para onde. Ele compreendeu o medo dela, talvez melhor que ela própria.

— Nunca mais vou magoá-la, nem física nem emocionalmente, e jamais mentirei para você.

— O que quer de mim? — perguntou num sussurro rouco, pois era difícil falar estando ele tão perto que ela podia sentir o cheiro da colônia, do sabonete.

— Você não sabe Anahí? — Inclinou-se e beijou-a, mas sem desejo ou luxúria. Foi o beijo mais carinhoso que ela podia imaginar e, quando ele se afastou, ela achou que tinha sonhado.

Os tios, nervosos e envergonhados, chegaram assim que a enfermeira levou a tigela de sopa vazia.

— Queríamos ter vindo antes — disse o tio —, mas Alfonso pediu que esperássemos até você estar mais forte. — Ele inclinou-se à frente na cadeira. — Você tem tudo de que precisa?

— Tenho, sim. Alfonso tem cuidado bem de mim.— acrescentou rapidamente para que eles não supusessem que ela tentava roubar o lugar da filha em sua vida.
Elsa vázquez parecia mais velha e bem menos confiante.

— Diana está morta — disse em voz baixa. — Fizemos dela uma santa por termos sofrido muito ao perdê-la, mas ela era apenas uma mulher, Anahí. Sabemos que o casamento não andava bem, então não pense estar maculando as memórias sagradas de ninguém por estar no apartamento de Alfonso. — Ela sorriu com tristeza.

— Só lamento não termos tomado conhecimento da gravidade de seu estado antes. Ainda nos envergonhamos do modo como a tratamos depois da morte de nossa filha, e isso nunca passará. Espero que possa nos perdoar.

— Gostaríamos de fazer algo por você — acrescentou o tio, parecendo pouco à vontade. — Tudo que pudermos. — Ele parecia bastante constrangido. — Não é fácil admitir termos sido uns idiotas.

Ambos pareciam tão infelizes que ela não conseguiu alimentar rancor por eles. Era muito amorosa.

— Talvez eu devesse ter tido mais empenho em fazê-los me ouvir — disse num tom mais afetuoso. — Não sou totalmente inocente. Ela morreu por minha causa.

— Ela morreu porque Deus decidiu ter chegado há sua hora — disse Elsa, baixinho. — Mudamos muito nos últimos dois anos. Talvez não saiba, mas o motivo de tê-la convidado para lanchar não foi o medo das fofocas. Tentávamos aparar as arestas.

A paciente (Adaptada) ayaOnde histórias criam vida. Descubra agora