Destinado à Você - Livro II

Capítulo 25

Tudo acontece em seu devido tempo. Cada lágrima, cada sorriso, cada dor, cada alegria, cada desespero e cada angústia. As coisas precisam acontecer em nossas vidas, o que as define é como reagimos em meio às tormentas e arco-íris. Eu sofri de uma forma profunda quando fui embora de Vough-Island, eu era nova demais para compreender na época e por muito tempo não conseguia aceitar que minha dor era real e que o motivo de a estar sentindo era ainda mais real, pensar que era coisa de adolescente sem tempo me fez me cobrar demais. Mas eu amadureci, decidi transformar toda aquela situação desagradável em algo produtivo, eu comecei a canalizar tudo no meu primeiro livro, isso me rendeu um bom lucro e me fez sentir melhor comigo mesma. Mesmo a dor continuando ali, em silencia, adormecida, eu sempre soube que ela estava lá, apenas decidi ignorá-la.

Hoje, estou colhendo o fruto de todo aquele sofrimento. Hoje estou colhendo paz, sorrisos, felicidade, e não somente o arco-íris, mas toda luz do sol. Estou irradiando de uma forma inimaginável, como eu não esperava, como nunca imaginei. Como disse John Green "a dor precisa ser sentida".

Christoph estava extremamente agitado esta manhã, ele andava de um lado para o outro, me encarava, olhava o relógio, ia até a janela, voltava e mexia com o Eustáquio.

-Você está esperando alguma notícia? –perguntei.

-Quase isso. –olhou no relógio novamente.

-Aconteceu alguma coisa? –perguntei começando a me preocupar.

-Nada. Ainda. Ma chérie, acho que vamos nos adiantar um pouco com o jantar de hoje à noite. Eu preciso sair agora, se quiser ir se arrumando.

-Mas ainda são dez horas da manhã Christoph.

-Tem razão. Bem, eu preciso sair de qualquer forma, tenho uma encomenda para retirar.

-Hum.

-Logo eu volto, está bem?

-Claro. Você está me assustando.

-Não há necessidade para tanto. Só estou um pouco ansioso.

-O que aconteceu?

-Nada em específico. Mas irá acontecer um grande feito em nossas vidas.

-Do que é que você está falando? –fiz uma cara de espanto.

-Eu preciso que você saiba que eu te amo. Te amo verdadeiramente, intensamente, de todo o meu coração e alma. Você é a única mulher que faz com que meu coração pulse fortemente –ele se aproximou e colocou as mãos em meu rosto. -Você me ama?

-Obviamente que sim Christoph. O que está acontecendo? Você está doente? Vai morrer?

-Não. Estou melhor do que nunca. Eu só estou muito, muito feliz e muito ansioso também. Preciso que confie em mim. Você confia em mim?

-Claro que sim.

-Obrigado. –ele encostou seus lábios nos meus, depois beijou minha testa e se afastou. –Agora eu preciso sair por uns instantes. E quando eu voltar, podemos nos arrumar.

-Okay.

Fiquei olhando ele sair pela porta, achei tão suspeito o jeito dele. Fui até a janela e fiquei olhando para a rua, para ver se ele sairia com o carro ou a pé. Depois de alguns minutos o carro dele apontou na calçada virando para a direita e indo em direção ao centro.

Olhei para o Eustáquio ronronando na caminha dele, e fui em direção à cozinha preparar mais um pouco de café para tomar. Fiquei pensando mil e uma coisas que poderiam ter feito o Christoph agir dessa forma tão suspeita. Mas confesso que eu estava com preguiça de raciocinar. Ouvi meu celular vibrar em cima do balcão e fui pegá-lo.

*Oi gata! Como está seu dia de desempregada? *

Era Lina mandando mensagem.

*Está sendo tão preguiçoso. E por aí? *

*Estou aproveitando meu dia de pijama prolongado. Qual as novas? *

*Christoph saiu tão estranho essa manhã*

*Sério? Oq houve? *

*Ñ tenho a menor ideia. Ele reservou um jantar para nós esta noite*

*Uhhhh... *

*Até comprou uma roupa nova e um vestido para mim. Ele realmente está esquisito*

*E isso é ruim? *

*Ainda ñ sei*

*Depois que vc descobrir me conte! Preciso ir, Archie está me ligando. Bjsssss*

Peguei minha xícara e fui assistir um pouco de tevê, fiquei tão entretida com o programa que perdi a noção das horas. Olhei para a porta e o Christoph estava parado me encarando.

-Ai que susto Christoph!

-Desculpe.

-Eu não te ouvi entrar.

-Eu percebi. –ele veio em minha direção.

-Conseguiu o que foi buscar? –perguntei me ajeitando no sofá.

-Sim. –ele estava tão calmo, diferente dessa manhã.

Ele ficava me encarando com um olhar penetrante, um pouco esquisito devo confessar.

-O que aconteceu?

-Como assim?
-Você estava tão agitado e ansioso e agora nem parece a mesma pessoa dessa manhã.

-Eu tomei um chá de camomila.

-Sei.

-É verdade. Poxa vida... –ele olhou no relógio. De novo. -Olha só a hora. Precisamos nos arrumar.

-Mas que horas você reservou o jantar?

-Não vamos direto para o jantar. Vamos passar em outro lugar antes.

-Legal. E eu não deveria saber disso?

-Se é uma surpresa, não. –ele sorriu.

Aquele cabelo bagunçado, aquele sorriso de canto. Seus olhos exoticamente cinzas estavam quase azuis. Era lindo ver as cores em que os olhos dele ficavam. Uma paleta em uma íris. As pintinhas verdes deixavam ainda mais charmoso aquele olhar dele.

-Desculpe. O que disse? Estava pensando longe.

-Perguntei se gostaria de tomar banho antes de mim?

-Tudo bem. Eu vou demorar um pouco mais para me arrumar.

-Certo.

Me levantei e fui até o banheiro.

Lavei meus cabelos sem pressa nenhuma, depilei minhas pernas e axilas, escovei os dentes, deixei a água quente escorrer pelas minhas costas. Estava tão despreocupada e leve que era bom sentir as coisas que fazemos todos os dias com tanta pressa, que não apreciamos o quão bom é estar aqui, estar vivo.
Me enrolei na toalha e coloquei outra nos cabelos, quando saí do banheiro, Christoph estava deitado na cama com meu vestido estendido ao lado e meus sapatos encostado nos pés da cama.

-Ah... é muita gentileza sua, obrigada.
-Não há de quê. Bem, eu vou tomar meu banho agora. –ele se levantou e veio na minha direção, me deu um beijo na testa. –Hmmm... que cheirosa.

-Usei shampoo de lavanda.

-Adorei. –ele beijou meu lábio e foi até o banheiro.

Comecei secando meus cabelos, depois comecei a fazer a maquiagem. Fiz uma maquiagem simples, uma sombra leve com um delineado fino e rímel. Usei um blush e optei por um batom nude mate com um leve gloss.

-Ma chérie. Nossa. Você está tão linda. –ele parou e ficou me olhando.

-Imagina, nem coloquei meu vestido ainda. –ele olhou pro vestido em cima da cama.

-E precisa de vestido para estar linda? Meu bem, você é linda até com vestida com um saco de batatas. –ele se aproximou e me beijou.

-Agradeço. –eu disse entre o beijo.

-Bem. Eu vou me vestir. –ele pegou o terno no guarda roupa e voltou ao banheiro.

Depois de alguns minutos ele saiu de lá.

-Christoph Voughan III. Você está um arraso. Nem acredito que é meu namorado. –meu queixo estava quase encostando no chão.

-Que exagero. –ele riu.

-Estou falando sério. Você é tão perfeito que às vezes acho que é fruto da minha imaginação.

-É recíproco. –ele se aproximou e beijou minha bochecha. –Eu vou tirar o carro, te espero lá embaixo.

-Está bem. Só vou vestir meu vestido e logo desço.

Ele saiu e eu me vesti. Depois de pronta peguei minha bolsa de mão, tranquei a porta e sai.