A sensação de estar voltando para casa e rever meus pais é de pura felicidade, mas não posso deixar de assumir para mim mesma que a ansiedade que estou sentindo é por rever outra pessoa.
Mesmo depois de tanto tempo, volte e meia as lembranças perpassavam pela minha mente. Foram momentos bons, agradáveis, felizes pois quando a gente sente algo único, sabe que não vai sentir da mesma forma outra vez, mas meu ego ferido falou mais alto, e o orgulho tomou conta de todos os meus sentidos.
Sinceramente eu não sei o que esperar, nem o que me aguarda. Talvez quando eu o vê-lo novamente não sinta nada, talvez eu o considere apenas como amigo, ou talvez eu apenas sofra ao saber que ele encontrou outra pessoa. São tantas teorias que minha cabeça chega a doer.Quando você gosta de alguém, mas não é correspondido, aquela paixão platônica não passa de apenas isso, e não há magoas e sentimentos feridos. Outrora, ter uma paixão e o sentimento ser mútuo é como se você estivesse deitada em uma nuvem e nunca deixasse de flutuar. Mas quando o buraco chega mais a fundo, quando além da paixão e dos sentimentos, você viveu a reciprocidade, os carinhos, afeto, os momentos são difíceis de serem esquecidos, e mesmo que esteja adormecido você acaba sentindo tudo de novo, como se fosse uma queda abrupta, uma chama acende bem lá no seu interior, e o incêndio toma conta de tudo. E esse é o meu medo, não medo de revê-lo novamente, ou qualquer outra coisa, meu medo é de sentir a dor, o estrago do fogo flamejante, pois as lembranças boas eram inevitáveis, mas a lembrança ruim também era, e saber que ele não sente o mesmo por mim, destrói um pedacinho, e pedacinho por pedacinho vai fazendo um estrago tremendo, estrago esse pelo qual eu ainda não estava preparada para sentir, por que nas minhas lembranças ainda era recíproco.
Depois de uma longa noite de descanso eu estava animada para viajar de volta para a Ilha, aquela sensação de sempre estar em um lugar novo tomava conta de mim, fazia tempo que eu não passava por isso e a familiaridade era tão agradável quanto o destino.
Meus pais estavam sabendo que eu estava voltando, mas não contei que horas chegaria, esperava fazer uma surpresa.Acordei cedo e fui até o saguão do hotel para tomar um bom café da manhã, assim que pus meus pés para fora do quarto uma adrenalina repentina percorreu minhas veias, seguida de um leve frio na barriga. Talvez fosse apenas a ansiedade de voltar, mas meu sexto sentido dizia que não chegava nem perto disso.
-O que vai querer senhorita? -o garçom pergunta cinco minutos depois de eu me sentar e dar uma olhada no cardápio.
-Acho que o café da manhã especial, com uma xícara grande de capuccino.
-Mais alguma coisa?
-Vocês tem daquelas tortas de frutas vermelhas?
-Desculpe mas não mais. Mas a tradicional é muito boa também, é de morango com chocolate belga.
-Certo. Vou querer um pedaço.
-Deseja algo a mais?
-Não, obrigada.
-Trago num instante.
Enquanto eu aguardava meu pedido olhei ao redor, a decoração rústica deixava o ambiente com ar de sofisticação, ao olhar para a porta de entrada percebi ter visto um vislumbre familiar, costas largas e músculos bem delineados deixavam o terno daquele rapaz bem marcante, ele virou levemente o rosto para a direita, a fim de olhar para um senhor que estava ao lado e estendeu a mão para cumprimentá-lo, aquele frio na barriga que senti momentos antes voltou com força total, deixando meu coração acelerado. Ele colocou as duas mãos no bolso da calça e começou a caminhar para fora do saguão.
-Com licença, seu pedido senhorita.
Tentei observar a silhueta daquele homem, mas fui tirada do meu transe pelo garçom.
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Destinado à Você - Livro II
RomanceCertas coisas nunca mudam, outras apenas se mudam para outro lugar. Depois de passar alguns dias em São Francisco, Pietra acaba fixando raizes no lugar, concluiu sua faculdade e tem um emprego instável. Até que certa manhã sua irmã liga a convidan...