Capitulo 14

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Na manhã seguinte Christoph foi me buscar na casa dos meus pais. E então seguimos até a baía, pegamos o barco do pai dele e então seguimos caminho em alto mar. O céu estava num azul limpo, o mar estava calmo e sereno.

-E então? -perguntei.

Estávamos deitados no convés do barco, minha cabeça encostada no seu peito. O sol não estava forte, e uma brisa fresca soprava sobre nós.

-O quê? -ele murmurou mexendo no meu cabelo.

-Eu volto pra casa amanhã. Quer conversar sobre isso agora?

-Uma hora vamos precisar falar sobre isso, não é? -ele deu uma risadinha.

Me ajeitei e sentei, para conseguir olhar melhor para ele, que fez o mesmo.

-Como vamos ficar agora?

-Juntos.

-Estou falando sério Christoph. -ele ri.

-E eu também.

-Você quer tentar um relacionamento a distância por um tempo?

-Não. -ele fica ereto. -Eu já fiquei sete anos distante de você. Eu disse que para onde você for, eu vou.

-Mas e seus negócios, seu compromisso com a empresa.

-Eu sou a empresa. Além do mais, eu tenho sede em vários lugares. E onde eu não tiver, eu posso abrir. O que eu não posso, é ficar longe de você.

Ele se não inclina para mais perto de mim, coloca uma mecha do meu cabelo atrás da orelha. Seus olhos cinzentos olham profundamente nos meus. Sinto um bater de asas dentro do meu estômago, um friozinho percorre pela minha espinha dorsal.

-Você vai comigo amanhã?

-Você não pode esperar mais três dias? Assim eu organizo minha mudança.

-Você está falando sério? Você não vai nem cogitar a possibilidade de eu ficar aqui com você?

-Sou eu quem tem que te seguir mundo a fora ma cherie, não o contrário. -ele sorri de canto. -Eu só preciso acertar minha mudança.

-Infelizmente eu tenho que voltar ao trabalho em dois dias. -reviro os olhos.

Por mais que eu adorasse meu trabalho, eu não gostava de certas pessoas que estavam nele, como por exemplo a minha chefe carrancuda e mau amada, que achava que por ter um cargo superior poderia mandar e desmandar como toda a grosseria que conseguia.

-Você não precisa trabalhar no que não gosta. Você pode ter mais tempo para seus projetos e...

-Como assim?

-Pelo jeito com que você revirou os olhos, eu diria que você não quer voltar ao seu atual trabalho. E tudo bem...

-Eu não sou CEO de uma empresa multi-nacional, eu não tenho pessoas trabalhando para mim, sou eu quem trabalho para as pessoas, preciso pagar a comida do meu gato, não é fácil manter um gato gordo e saudável...

Ele ri. Uma risada gostosa de se ouvir. Confesso que já nem lembrava mais do som da risada dele, e isso era triste. E perceber esse fato me deu um aperto no peito.

-Eu só estou dizendo que você não precisa mais fazer o que não quer. Você quer abrir sua agência? Faremos isso. Você quer escrever seus livros? Pode se dedicar totalmente a eles. E digamos que eu posso ser seu sócio... investindo em um novo negócio.

Meu pai sempre me deu essa ideia, mas eu era egoísta demais para pensar na hipótese. Achava que se eu fizesse as coisas por mim mesma seria mais independente. Mas nunca pensei que se eu fizesse o que realmente queria, seria mais feliz e realizada.

-Sócios..?

-É só uma ideia. A única coisa que eu quero, é que você seja feliz no que faz, e não apenas faça por obrigação. Não são todas as pessoas que tem essa oportunidade.

-Sócios..?

Fiquei pensativa com a ideia, e um tanto animada eu diria. Mil e um pensamentos começaram a passar pela minha cabeça. Em tantas coisas que eu poderia tentar, e no tempo que eu ganharia para enfim me dedicar verdadeiramente no meu trabalho como escritora. Depois do meu único livro ser publicado eu nunca mais parei para continuar escrevendo, e eu gostava de escrever.

-Só se você quiser. -ele disse beijando meu pescoço, depois do outro lado, e então minha bochecha e em seguida a outra.

-Isso é golpe baixo Christoph. -murmurei.

-Não estou fazendo nada. Apenas fazendo carinho na minha Na.Mo.Ra.Da. -ele disse pausadamente.

-Uhummm...

E então ele me beija, e eu simplesmente me entrego ao beijo.

Era curioso o quanto eu senti a falta dele, mas era ainda mais curioso a forma com que eu não me lembrava de nós. Eu não lembrava como o toque dele era gentil, nem como o beijo era bom, envolvente e apaixonante. Nem mesmo do quanto a risada dele era como música para meus ouvidos. A única lembrança mais forte que eu tinha era a dor, a dor da perda, a dor que senti quando eu estava indo embora e dos sete anos seguidos longe dele. E sentir o quanto todos os detalhes dele eram agradáveis para mim, era a coisa mais gratificante que eu poderia sentir no momento.

-Só mais três dias. E se sua chefe reclamar, você pede demissão. E então quando voltarmos, faremos um novo recomeço. De tudo.

-Certo... certo... você me convenceu. -eu disse erguendo as mãos em forma de rendição.

-Obrigado. -ele beija a ponta do meu nariz.

-Mas temos uma outra pauta aqui.

-Sim?

-Você quer morar comigo no meu apartamento?

-Você quer que eu more com você no seu apartamento?

-Bom... ele não é luxuoso e grande como a casa que você sempre morou. Mas é aconchegante, além do mais ele é meu. E antes de mim era da tia Amber, então digamos que tem um certo valor sentimental.

-Se você gosta dele. Então é ali que vamos ficar.

-Você não vai fazer nenhum tipo de exigência?

-Pietra. A minha única exigência é ficar com você. O resto é bônus. Se te faz feliz, eu estou feliz também.

-Eu tenho um gato.

-Que bom que eu não sou alérgico. -ele riu.

Isso tudo parecia um sonho...

Uma parte minha cutucava e dizia que estava tudo perfeito demais, bom demais para ser verdade. Que alguma coisa iria acontecer e estragar toda essa perfeição.
Mas eu joguei num baú no canto escuro da mente. Era só meu medo querendo ter razão, e dessa vez eu não daria espaço para ele dar opinião.

Destinado à Você  - Livro IIOnde histórias criam vida. Descubra agora