Capitulo 6

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-Pietra, é a sua vez de sacar. -Joen disse me entregando a bola.

Peguei sem dizer nada e fui para o final da linha, me posicionei e esperava mirar exatamente na cara de alguém, mas especificamente na dele, porém demonstrar minha raiva e frustração só seria uma forma de fraqueza, e eu não sou fraca. Então, se ele poderia seguir em frente eu também faria isso, e não deixaria ninguém ver menos de mim. Respirei fundo, para alguém que nunca foi boa nisso eu estava me concentrando demais, e no momento em que bati na bola com toda a força que eu sequer sabia que tinha, ela foi certeira fazendo a outra pessoa do time adversário cambalear alguns passos para trás tentando pegar a bola.
Certamente eles dispunham de bons jogadores, mas depois do meu primeiro saque, me senti mais confiante, e tudo o que eu sabia na teoria pus em prática, no fim nosso time venceu outra vez.

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-Nada mal.

Senti o calor do corpo de alguém se movimentar ao meu lado, olhei lentamente para o lado, a luz do pôr-do-sol refletindo no cinza dos teus olhos deixavam as pintinhas verdes de suas íris mais visíveis. Confesso que só percebi que estava sem folego, quando me deu falta de ar e então lembrei de respirar.

-Valeu. -respondi ainda meio sem jeito.

-Seu pai me falou que você vai ajudá-lo com um advogado.

-Meu pai é muito teimoso quando quer.

-Ele é um homem de boa índole.

-É.

Fomos tomados por um silêncio acusador, voltei a olhar as ondas indo e vindo, a areia no vão dos meus dedos, o sol se punha numa lentidão tão reconfortante, que eu poderia permanecer aqui por anos e não me cansaria.

-Não achei que você fosse voltar á ilha. -Christoph sussurrou, pude sentir seus olhos em mim.

-Não pretendia voltar. Mas as coisas acontecem sem que planejamos.

-Sei bem disso.

Ele ficou do meu lado, só o barulho de murmúrios e ecos de vozes soavam ao longe enquanto ele olhava para o mar as ondas vindo de encontro com a areia, enquanto eu não conseguia parar de olhar para ele. De repente senti minhas orelhas pegarem fogo, eu estava começando a ficar nervosa com a sua presença, ele permanecia sério e silencioso. E eu realmente não conseguia falar. O que ele queria? O que ele estava esperando? O que eu estava esperando?

-Chris. -nos viramos ao mesmo tempo para o lado de onde estava vindo a voz. -Chris vem cá. -ela gritou um pouco mais alto.

Ele virou e olhou pra mim, respirou fundo como se estivesse cansado, e soltou o ar lentamente.

-Hei. -ela pulou nas costas dele, jogando um pouco de areia em mim. -Não me ouviu te chamar?

-Estou um pouco ocupado. -ele respondeu ríspido.

-Não vai me apresentar sua amiga? -ela disse sorrindo para mim.

Ela era muito bonita, os cabelos louros com umas mechas naturais deixavam seus olhos ainda mais caramelados. Seu sorriso era simpático demais para odiá-la a primeira vista. Ele ficou em silêncio por um tempo, até responder.

-June, essa é a Pietra. Pietra, essa é June.

-É muito bom te conhecer, quer se juntar com a gente na fogueira, o pessoal está assando uns espetinhos.

-Obrigada, estou sem fome.

-Vamos lá Chris, da pra ouvir sua barriga roncar de longe. -ela riu.

-É, vai lá Chris. -eu disse o nome dele em tom irônico.

-Eu estou bem aqui. -ele disse pra ela, mas sem tirar os olhos dos meus.

-Tudo bem. -ela disse por fim. -Mas se quiserem. -então ela se retirou.

-Ela é bem insistente. -disse em voz alta mas era pra ser só na minha mente.

Mas que coisa! Eu e minha mania de ficar falando sozinha o tempo todo. Nunca sei quando estou realmente falando em pensamento e quando acabo falando em voz alta.

-Só não sabe a hora de parar. -ele respondeu como se estivesse tentando puxar assuntou ou apenas por educação.

Eu estava confusa, ansiosa e nervosa. Minha vontade era de me jogar nos braços dele e beija-lo como nunca fiz antes, mas tinha uma pulga atrás da orelha dizendo que ele e a tal de June tinham algo a mais além de uma amizade.

-Bom, espero que aproveite sua estadia breve. -ele disse já se levantando.

Espera! Onde você vai? Fica mais um pouco. -dessa vez eu disse em pensamento- Eu não queria que ele saísse assim. Não agora.

-Obrigada. -respondi, mas eu queria dizer: ''Não vá agora, vamos conversar, resolver tudo o que precisamos resolver''. Mas na verdade eu disse: -Tchau.

-Quem sabe ainda nos esbarremos por aí. -ele deu as costas e saiu.

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Continuei ali por mais alguns minutos, mas meus devaneios não conseguiram chegar tão longe pois logo a Clair já veio me chamar para se juntar á ela e aos amigos. Não quis ser grosseira com ela, afinal logo seriamos da mesma família, então disse que estava cansada e achava melhor voltar para casa. Como uma moça educada e gentil que ela era, não insistiu.

Fui até a lanchonete que tinha a alguns metros de onde estavam fazendo o luau, e entrei direto no banheiro para me trocar. Ao sair da cabine meus olhos foram diretamente de encontro com olhos ardilosos que refletiam pelo espelho, e me encaravam de forma brutal. Continuei andando até a pia para lavar as mãos.

-É nova por aqui? -ela perguntou com toda a falsa simpatia que conseguia.

-Não. -respondi curta e grossa.

-Conhece o Christoph a muito tempo?

-Tempo suficiente. Fomos namorados.

-Uau. Christoph namorando? Ele nunca mencionou sobre você.

-Vai ver ele não tinha o que dizer.

-Pelo jeito não mesmo. -ela disse em tom debochado me olhando da cabeça aos pés.

-O que quer dizer com isso?

-Nada. -ela se virou para o espelho novamente. -Só que não é o feitio dele ter amigos.

Não respondi, continuei lavando as mãos sem olhar para ela.

-Mas sabe... -ela começou a falar de novo. -Agora ele tem planos diferentes, ele não é de amores baratos e passageiros.

-Ele nunca foi.

-O que eu estou querendo dizer. Pietra, não é? É que o Christoph e eu temos um momento, e se depender de mim, esse momento vai ser duradouro.

-Deu pra perceber isso com o modo com que ele te tradou mais cedo.

-Se você veio aqui achando que ter ele de volta é uma opção, está totalmente enganada.

-Eu não vim aqui por ele. E mesmo que estivesse vindo, isso não é da sua conta. Nossa história não te diz respeito. June, não é? Pois então querida, se eu fosse você se colocaria no seu lugar e pararia de criar ideias sobre coisas que você não sabe.

Nesse momento a raiva fervia em meu sangue. Sai e a deixei falando sozinha. Como ela ousa falar assim comigo? Quem ela pensa que eu sou!

Continuei andando até minha picape, enquanto dirigia eu tentava ao máximo me acalmar. Eu não tinha voltado por ele. Mas se ao vê-lo meu coração acelerou e eu desejei tê-lo de novo? Mas é óbvio! Eu só percebi o quanto o Christoph me fez falta, quando eu o vi de novo, depois de sete anos, imaginando como seria se eu não tivesse ido embora, se eu não tivesse agido por impulso e deixado meu coração partido tomar minhas decisões incoerentes e impulsivamente.

Mas como já dizia F. Scott Fitzgerald. ''Não se pode repetir o passado''. E o que me resta agora é aceitar as consequências das decisões que tomei, mesmo que isso acabei me ferindo. 

Destinado à Você  - Livro IIOnde histórias criam vida. Descubra agora