Um mês depois . . .
Se apaixonar pela mesma pessoa todos os dias, era de fato uma dádiva da vida. Christoph agora não era apenas uma ilusão de algo que eu não sabia se tinha acontecido na minha vida ou não, nem os sonhos que eu criava, imaginando se um dia voltaria a viver. Agora era real e oficial. Agora era de verdade. Mas ao mesmo tempo parecia que eu estava dentro de um sonho, daqueles que temos quando estamos em um sono profundo. Onde estamos dormindo tão profundamente, que parecem reais, mas ainda sabemos que é apenas um sonho.
Em um mês muita coisa aconteceu. Meus pais adoraram a notícia do casório, mas minha mãe ficou um pouco triste por não ter participado da minha cerimônia de casamento. Por mais simples e singela que foi, eu não mudaria nada. Nunca fui do tipo de garota que passa a vida sonhando, planejando e idealizando um casamento. Daquelas que sabe o dia que será, a roupa que irá vestir, que organiza até a meia que que os padrinhos irão usar, só para ser tudo perfeito, como ela sempre desejou. Esse tipo de garota sempre foi a minha irmã, não eu. Eu, se quer um dia esperei que fosse me casar. Já tinha aceitado o meu destino de solteirona, a tia de todos e mãe de nenhum. Meu planejamento de vida se resumia em continuar morando sozinha, apenas eu e meu querido, gorducho e reclamão, Eustáquio. Mas isso mudou desde que minha irmã decidiu que a realização do seu sonho de infância, em ter o casamento perfeito iria enfim se concretizar. E voltar para aquela ilha fez meu mundo girar em 360º da noite para o dia.
Agora eu sou uma mulher casada, uma senhora, e adoro isso. O Christoph não é apenas meu marido, ele é o meu melhor amigo. O primeiro que tive, o único que sempre quis ter. Os dias com ele são tão agradáveis quanto estar sozinha. Somos tão parecidos em tantas coisas, o convívio é fácil e prazeroso. Quando ele não está, eu sinto a falta dele, e quando ele está eu adoro sua companhia. Um dia eu li em algum lugar que o casamento não deve ser moldado em discussão, desentendimento, ciúmes e intrigas, o casamento é a unificação de duas metades que se completam, você só precisa saber se casar com a pessoa certa.
Eu via nos meus pais essa verdade, mas depois de um certo tempo eu comecei a achar que isso era muita bobagem, que não existia essa história de amor, tinha que ter respeito, e isso bastava. Mas eu estava totalmente enganada, acho que a incredulidade me deixou cega e amarga, me fez enxergar apenas as nuvens nubladas, mas hoje eu enxergo diferente, penso diferente e sinto diferente. Acho que isso deve ser evolução, amadurecer, se tornar adulta.
Quem diria, a Pietra de alguns anos atrás, aquela reclamona, que se irritava por qualquer coisa, a jovem ranzinza e amargurada, jamais imaginaria esse grande salto de inovação e crescimento.
É... muita coisa muda, e se eu não estivesse passando por toda essa mudança, nem acreditaria na possibilidade.
🌊. 🌊. 🌊.
Acordei sentindo cócega no meu pescoço. Murmurei um pouco e me virei para o outro lado. A cócega continuava, em seguida pude sentir leves beijos atrás da minha orelha.
-Já estou acordada. -resmunguei.
Eu estava tão confortável que não conseguia abrir os olhos, mesmo estando bem desperta.
-O café já está pronto. -ele sussurrou no meu ouvido. -Hora de levantar.
Me espreguicei e lentamente fui abrindo os olhos.
-Que horas são? -perguntei apenas com um olho aberto.
-Nove e meia.
-Nossa, eu dormi muito.
-Eu sei.
-Qual a programação do dia senhor Voughan?
-Pois bem, madame. Precisamos ver os móveis pra editora, já mandaram as medidas. Depois preciso ver alguns documentos do imóvel, se quiser me acompanhar.
-Certo. Deixa eu só tomar um cafezinho, ai começo a raciocinar melhor.
As coisas com a editora estavam a todo gás. Christoph estava me ajudando com absolutamente tudo, não apenas por ser sócio ou por trabalhar no ramo, mas por ele ser um amigo tão presente e por estar me apoiando em um sonho que imaginei estar tão longe de acontecer.
Ele estava tão empolgado quanto eu, tinha ideias tão criativas e um bom gosto.Passamos o café da manhã falando sobre cores, modelos, formalização, assinaturas e papeladas. Saímos de casa e passamos a manhã e à tarde toda resolvendo tudo o que precisava.
O dia passou tão rápido que nem percebemos.-Só mais um pouco ma chérie, logo você está trabalhando no que realmente gosta e quer.
-Nem me fale, isso pareceu tão distante.
Estávamos no carro voltando para casa, já passava do horário do crepúsculo, no rádio estava tocando U2, e enquanto Christoph dirigia envolto em uma concentração, eu apenas absorvia a melodia da música e observava as luzes dos postes ficando para trás.
-Estava pensando. -ele falou.
Virei a cabeça e olhei para ele.
-Sim?
-Eu sei que você adora seu apartamento, mas o que acha de termos uma casa só nossa?
-Você está pensando em comprar uma casa?
-Não exatamente. Estou pensando em comprar um terreno e construir a nossa casa. Do zero, só para nós dois, onde mais ninguém pudesse ter histórias e momentos, onde iríamos construir nossas histórias e momentos pela primeira vez.
Christoph sempre foi, à sua forma, muito romântico. Seus pensamentos poéticos deixavam as coisas tão lindas, as vezes eu me sentia em um livro de romance da Jane Austen.
-Nossa. Isso é...
-Demais? Se quiser...
-Não, não. Eu ia dizer que isso é tão bonito, a forma como você vê e fala, confesso que pensei em compramos uma casa a longo prazo, quando começássemos a pensar sobre constituir uma família. Mas nunca assim, algo tão simbólico.
-De agora em diante, não quero tomar as decisões sozinho. Somos uma dupla, companheiros e confidentes. Agora você é minha esposa. -Ele pega minha mão e beija meu dedo com a aliança. -Você tem autonomia para decidir as coisas.
-É algo a se considerar e a planejar com atenção e carinho.
-Você gostou da ideia?
-Adorei.
-Caso queira ir embora para outro lugar. Onde quer que seja, nós vamos. Fazemos a casa onde você quiser.
-Bem... estamos montando um negócio aqui, acredito que administrar tome tempo integral.
-Podemos fazer uma filiar em outro lugar, você pode deixar a Lina comandando aqui. Mas se preferir ficar, nós ficamos.
-Você quer estar em outro lugar?
-Meu lugar é onde você está, ma chérie. Aonde você for, é onde eu irei.
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Destinado à Você - Livro II
RomanceCertas coisas nunca mudam, outras apenas se mudam para outro lugar. Depois de passar alguns dias em São Francisco, Pietra acaba fixando raizes no lugar, concluiu sua faculdade e tem um emprego instável. Até que certa manhã sua irmã liga a convidan...