Capítulo 19

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Lina arregalou os olhos quando me viu, e automaticamente eu fechei a porta, dei dois passos para trás, e me bati com o Christoph, foi tão rápido que ele cambaleou para trás.
Ouvi ruídos de passos correndo de um lado para o outro dentro do apartamento, um miado e segundos de extremo silêncio.

-O que aconteceu? -Christoph sussurrou pra mim?

-Eu... a Li... o...

Eu estava gaguejando, por que não tinha certeza se era, mas era tão parecido...

-Pietra. -Lina disse logo que abriu a porta.

Ela olhava pra mim com os olhos ainda arregalados.

-Eu posso voltar outra hora. -eu disse.

-Não. Vem, entra.

Acho que ela nem percebeu que eu estava acompanhada. Já eu, não poderia dizer o mesmo.

-Eu só vim pegar o Eustáquio. Te liguei o dia todo e você não atendeu. -fui logo dizendo.

-Eu estava... Humm... Ocupada.

-Pietra. -ouvi uma voz masculina vindo do corredor.

Olhei pro lado, e então tive a certeza de que meus olhos ainda enxergavam bem.

-Archibald. -disse cumprimentando meu velho amigo.

Archie e Lina não se conheciam, eu nunca os apresentei. Desde quando... Foi um choque extremamente chocante. Nunca imaginei ver os dois pelados, e juntos! Arg... melhor poupar detalhes do horror que meus olhos capturaram nesses segundos.

-Lina e eu estamos saindo. -ele disse como se precisasse se explicar.

-Tudo bem. Eu só fiquei surpresa. Muuuuito surpresa aliás. Desde quando vocês se conhecem?

-Desde o dia em que nos encontramos por acaso no seu apartamento. -Archie disse.

Eles se entreolharam, ouvi um suspiro atrás de mim e me virei para olhar o Christoph com um olhar confuso.

-Archie é um amigo, foi na livraria dos pais dele que eu publiquei meu livro, desde então eles se tornaram como parte da família, ou melhor, me adotaram como uma filha. E Lina é minha amiga desde que vim para São Francisco.

Então sim, eu estou extremamente chocada e surpresa, pois nunca imaginei eles junto, se quer, acredito que eles nunca tinham se visto em todos esses anos. Eu disparei feito uma matraca explicando para o Christoph, que escondia um sorriso de canto.

-Ai. Meu. Deus! Me desculpe, eu não tinha percebido que você estava aí. -Lina disse olhando pro Christoph. -É ele? -ela olhou pra mim e sussurrou de uma forma nada discreta.

-O próprio.

-Espera... O cara da ilha? -Archie se intrometeu.

Eu concordei com a cabeça.

Ouvi um miado e procurei o Eustáquio, que estava se espreguiçando ao lado do pote de comida. Caminhei até meu gato gordo e o peguei no colo.

-Que saudade de você meu gorducho lindo. -eu o apertava enquanto fazia uma voz infantil.

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Não ficamos muito tempo no apartamento de Lina, já que o constrangimento da cena inapropriada ainda pairava sobre o ar o minha mente não desfazia a imagem ascosa.
Quando chegamos em casa Christoph veio para perto de mim com um olhar intimidador.

-O que foi? -perguntei sem jeito com o Eustáquio no colo.

Ele pegou o gato dos meus braços e colocou gentilmente no chão.

-O cara da ilha? -ele perguntou chegando mais perto.

-Você ficou famoso por aqui, eu diria.

-Ah é?

-Uhum. -ele chegava ainda mais perto, o suficiente para eu sentir sua respiração.

-E o que tanto você falou sobre mim? -sua mão se moveu até colocar uma mecha do meu cabelo atrás da orelha.

-Quade nada. -engoli seco, meu coração acelerando com a proximidade.

-Não acredito. -seus dedos caminhavam pelo meu rosto.

-É verdade.

-Suponhamos que você tivesse dito algo, o que teria dito?

A ponta do seu nariz estava gelada, ele encostou no meu pescoço e senti ele inspirar o cheiro do meu perfume.

-Assim você está me desconcentrando.

-Essa é a intenção. -ele mordiscou a ponta da minha orelha.

Senti um arrepio percorrer meu pescoço. Seus lábios se aproximando da minha bochecha e caminhando até chegar em meus lábios.
Christoph parou a milímetros da minha boca, como se estivesse pedindo permissão para me beijar, e eu concedi acabando com a mínima distância.

Ele me segurou em seus braços e caminhou até o quarto. A cada beijo eu me sentia desejada, a cada carícia, eu me sentia amada. Meus pensamentos se dispersaram como poeira ao ser abanada, fora para longe, mínimas e inexistentes.

Se amar era uma coisa que ia além do físico, além do entender, e simplesmente além... então eu estava amando. Era mais que paixão, mesmo que ela esteja ardente em meu peito, eu sabia que o amava a cada instante, e depois de todos esses anos separados eu pude o amar ainda mais. Então eu sabia que não era a distância, nem os obstáculos e as tentativas externas de nos fazer ficar longe um do outro que mudaria o que tínhamos que ser um para o outro.

Christoph entrelaçou seus dedos junto aos meus e então nos envolvemos em uma bolha só nossa, nossos corpos junto um ao outro, sua pele junto a minha pele, seu suor junto ao meu suor, éramos dois em um só corpo. E foi totalmente diferente do que imaginei, do que esperei e do que já li.

-Eu te amo imensuravelmente Pietra. -ele sussurrou.

E então senti como se flocos de pólvora explodissem, ardentemente e maravilhosamente.

Destinado à Você  - Livro IIOnde histórias criam vida. Descubra agora