39 - Fã número três

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Após tomarmos chá, os cavalheiros conversavam sobre negócios e as damas também deram suas opiniões, mas eu e Henry decidimos sair um pouco para caminharmos.

No imenso e vasto jardim de Aubrey Hall.

Ainda bem que todos os empregados que trabalhavam aqui eram uns docinhos, gente boa, principalmente bem discretos. Aqui eu me vestia e tomava banho sozinha, só precisava de uma ajudinha na hora dos botões nas costas, e até mesmo meu cabelo ou vivia de tranças, ou solto. Mas os deixava mais soltos ao vento.

Era verão, então o sol estava ótimo para um passeio.

— Me dê a mão... – estendi uma das minhas mãos para ele.

— Mas para quê?

— Para segurarmos, né, assim... – então entrelacei meus dedos nos dele. — Prontinho, estamos caminhando de mãos dadas.

— Eu vou sentir falta disso.

— Não vamos pensar sobre isso, eu quero passar o máximo de momentos bons com você, deixa as lamentações e o choro para quando eu for embora.

— Não sei se vou conseguir...

— Henry, olha para mim. – Virei de frente para ele, fitando-o nos olhos. — Prometa para mim que, quando eu for embora, você irá ficar bem, prometa para mim que irá se apaixonar de novo...

— Não posso prometer isso.

— Prometa! Só assim ficarei em paz, sabendo que você não permanecerá sozinho para sempre, trancado em Braffiod Hall.

— Eu prometo! – mas o prometo dele não foi convincente.

— Se eu não posso ter você, pelo menos ficarei com a certeza de que será feliz.

Continuamos a caminhar lado a lado. De mãos dadas, um silêncio tomou conta de nós, o único som que ouvíamos era o barulho dos pássaros e das árvores balançando suas folhas.

Eu me aproximei mais dele, e com a minha mão livre, abracei o braço dele, enquanto ainda segurava sua mão. Apoiei minha cabeça, sentindo seus músculos fortes se contraírem.

E caminhamos por um bom tempo assim. Até que chegamos numa árvore, era muito alta e cheia de galhos. Então, paramos ali, ele se sentou primeiro e eu me aconcheguei entre suas pernas. Ele colocou os braços em volta da minha cintura e eu encostei a cabeça no peitoral dele.

— Como é a sua vida lá? – ele perguntou depois de uns minutos em silêncio.

— Normal! Nada de mais. Antes de vir para cá, eu vivia uma vida monótona, todos os dias eram sempre o mesmo, trabalho, casa, trabalho, casa. Eu precisava de uma aventura, mas não sabia por onde começar.

— E cá está você. – Ele sorriu, me dando um beijo no pescoço.

— Sim, cá estou eu. Eu queria aventura, mas acho que me aventurei demais, não acha? – perguntei, dando uma gargalhada.

— Gostei que veio para cá, pelo menos eu te conheci.

— E eu digo o mesmo. Bom, tirando essa parte chata da minha vida, eu amava o meu trabalho. Trabalhar numa editora é ter vários mundos e histórias à sua disposição.

— O que você fazia lá?

— Eu editava os livros que vinham para mim, a minha parte era mais a parte digital, eu ficava com os livros que eram postados em sites on-line. Mas às vezes eu editava alguns livros físicos também. O que me fez me apaixonar por leitura, e foi aí que resolvi tentar publicar meu primeiro livro.

— Foi há muito tempo isso?

— Publiquei meu primeiro livro há uns três anos. E depois disso não parei mais. Foi um livro atrás do outro. Mas ainda assim, nenhum deles fez muito sucesso. Continuarei tentando.

— Eu queria ler seus livros, seria o fã número um.

Quer dizer, mesmo sem ler, eu já sou seu fã número um.

— Iiii vai ter que reivindicar esse lugar com a minha mãe e meu pai. Eles dizem que são meus fãs número um e dois.

— Posso ser o terceiro então?

— Nossa, eu já tenho três fãs, para quem tinha somente dois, três já é grande coisa. – eu disse num tom de brincadeira. — Mas brincadeiras à parte, eu amo o que eu faço, não parei de escrever porque é isso que eu amo fazer.

— É uma pena que as mulheres daqui não tenham tantas oportunidades como as mulheres do futuro.

— Sim, é uma pena mesmo. Não me leve a mal, mas as pobres moças neste século parecem que só servem para ser geradoras de herdeiros. Seus sentimentos? Sonhos? Ambições? Ninguém está ligando para isso. É por isso também que quero voltar. Apesar... – me virei, ficando de frente para ele. — Que eu não me importaria nenhum pouco de ser a geradora do seu herdeiro. Eu quero me casar um dia e ter filhos, e se pudesse ser com você, seria incrível! – terminei a frase depositando um beijo na boca dele.

— Anne, por favor, aqui não.

— Lógico que aqui não. E relaxa, que só foi um beijinho. – eu disse, me virando outra vez para a posição que estava antes. — Só faria isso, é claro, se estivéssemos casados.

— E eu nunca te defloraria...

— Óbvio que não! Você é um homem honrado, Henry, eu confio em você, sei que nunca me machucaria ou me forçaria a nada.

— Não mesmo, nunca! – ele beijou minha bochecha. — Mas e seus pais? Como eles são? Me fala sobre eles, já que eu já falei dos meus.

— Minha mãe é um pouco mais brava, mas, ao mesmo tempo, é doce e carinhosa. Sempre cuidou de mim tão bem... – suspirei pensando na minha mãe — E meu pai, ele é incrível, sempre fui mais apegada a ele desde pequena, ele sempre fez todas as minhas vontades, até agora depois de mais velha. Ele é o meu herói. Sempre quis me casar com alguém como ele. – Comecei a fazer carinho brincando com os dedos dele. — Mas eles sempre me mantiveram protegida demais, lógico isso não é ruim, mas às vezes eu me sentia sufocada, não sei se você me entende.

— Entendo, pode parecer que não, mas entendo. Eu não tive essa proteção toda dos meus pais, como eu já disse, meu pai não vivia comigo e nem com a minha mãe, mas eu entendo. Espero que você encontre alguém como o seu pai... e seja feliz.

— Eu já encontrei! – eu disse isso, apertando seus braços contra meu corpo, o mais forte que consegui.

Ele entendeu o que eu fazia e me apertou mais contra ele. Eu entrelacei meus dedos com os dele.
E passamos o resto da tarde ali, abraçados, às vezes falávamos alguma coisa, e às vezes fazíamos um silêncio tão profundo que chegava a incomodar.

Então, eu acabei adormecendo ali, nos braços dele.

No passado com os Bridgertons - livro 1Onde histórias criam vida. Descubra agora