Um ano depois...
Brasil
Outubro 2023Sim, havia sido tudo um sonho. Um sonho tão real que confundi com a realidade. Mas esse sonho serviu para uma coisa... para que eu escrevesse um livro. Um livro de romance de época chamado UM CONDE DO PASSADO.
Contava a minha história com o Henry, se passava em 1814 e contava a história de uma mocinha chamada Aurora que viajou no tempo e conheceu um conde chamado Henry Kendall, conde de Braffiod. É claro que tive que mudar o nome da mocinha e também tive que mudar o final, dando um final feliz para o casal e acrescentando outras coisas também.
Mas o que importa é que esse foi o meu primeiro livro que fez sucesso, foram vendidos muitos exemplares e hoje teria uma sessão de autógrafos na loja em que a editora em que eu trabalhava era filiada, e eu estava muito feliz.
Bom, depois de me convencer completamente de que tudo havia sido um sonho e ter me conformado de que a história e o amor pelo Henry não foram reais, eu me abri mais. Comecei a sair mais, a curtir mais a vida e os meus amigos. Percebi que não iria ficar esperando uma aventura acontecer para que eu começasse a viver.
Eu me mudei, agora morava sozinha num apartamento que havia alugado. Realmente comecei a viver um novo tempo, e em tão pouco tempo.
***
O meu celular tocou, já estava quase pronta para sair de casa para a sessão de autógrafos.
— Alô? Ah, oi, Elly?! – atendi o celular enquanto calçava os sapatos. — Sim, amiga, já estou quase chegando à livraria... — menti — Tá, tudo bem, eu ainda não saí de casa, mas não se preocupe, chego aí rapidinho. Eu me atrasei um pouco procurando uma roupa... A loja está cheia? Que incrível, agora que eu tenho fãs, estou tão feliz! Tá, está bem...
Terminei de calçar os sapatos, peguei as chaves de casa e, ainda falando com a Elly ao telefone, saí do apartamento.
— Que merda! – falei.
— Me chamou de merda? — Minha amiga respondeu do outro lado da linha.
— Não! Merda desse prédio que eu tenho que descer quatro lances de escada porque o elevador está quebrado.
— Sinto muito! — riu do outro lado da linha. — Em breve, vai poder comprar uma cobertura bem chique e me chamar para morar com você.
Nessa hora, eu já estava no térreo, na guarita do prédio, porque tinha descido as escadas voando, me deixando suada e afobada.
— E agora que eu estou toda suada, como vou abraçar os meus leitores desse jeito? – falei, abrindo o portão da saída. — Falando em leitores, você contratou o ator para interpretar a Aurora e o Henry?
Decidi contratar atores para interpretarem os meus personagens e fazer uma gracinha aos leitores. A Elly ficou responsável por fazer isso. Mas assim que saí do prédio, vi um homem com trajes de época tentando atravessar a rua e quase sendo atropelado.
— Sim! — ela confirmou.
— Elly? Qual o endereço que você passou para os atores?
— Como assim? O endereço daqui da livraria, por quê?
— Porque parece que o ator errou o caminho e está aqui na minha frente e quase foi atropelado, não acredito que você contratou um ator bêbado. Bom, vou desligar, vou acudir o pobre do moço e levá-lo comigo para a livraria. Beijos, tchau!
Desliguei a ligação com Elly e caminhei até aquele moço, o ator bêbado contratado pela Elly. Eu já imaginava mesmo que eu não deveria confiar nela para isso.
Me aproximei dele, que estava sendo acudido pelo motorista que quase o atropelou. Ele estava trêmulo e suas mãos suavam, encarava o chão e eu nem conseguia ver seu rosto.
— Pode deixar comigo, moço... – falei com o motorista. — Ele é ator e vem comigo para um trabalho, mas presta atenção, da próxima vez poderia ter atropelado ele.
O motorista pediu desculpas e entrou de novo em seu carro. Eu trouxe o ator contratado para o passeio, saindo da pista. Ainda não tinha olhado para ele, meu coração estava estatelado, ele poderia ter morrido atropelado bem na minha frente.
— Por que você está bêbado no horário de... — perguntei, finalmente olhando para ele e não consegui terminar a frase.
Entrei em choque.
Ele não era o ator!
Não! Não pode ser...
— Henry?
Fim?
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