44 - O último adeus

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O jantar foi maravilhoso, como sempre estava tudo divino. Conversamos e rimos muito à mesa. Mesmo que eu percebesse o olhar tristonho de todos, eles queriam que eu os visse felizes porque, apesar de tudo, era meu aniversário.

— Hora de apagar as velas e fazer um pedido, Anne.

Encarei aquele bolo que aparentava estar uma delícia e várias velinhas em cima dele. Fechei os olhos por um momento, não sabia exatamente o que pedir, será que só dizer que eu queria voltar para casa resolveria? Não sei...

Abri os olhos e vi todos os olhinhos me encarando, e aquilo partiu ainda mais meu coração. Olhei para o Henry ao meu lado e percebi o quanto ele sofreria sem mim. Eu queria me lembrar de tudo que vivi aqui, eu precisava me lembrar, mas não suportaria que eles, principalmente o Henry, ficassem sofrendo pela minha ausência, então aí, eu formulei finalmente o meu pedido.

Fechei forte os olhos e comecei a pensar...

"Eu desejo voltar para casa, para o século XXI, voltar para a minha família, e que todos que conviveram comigo neste século, se esqueçam de mim"

Assoprei as velinhas logo em seguida e abri os olhos...

Estava feito!

— O que pediu, Annelise? – curiosa, Hyacinth me perguntou.

— Se ela contar, não se realiza, né?! – Gregory respondeu à irmã.

— Então? O que falta agora? – Anthony me encarou.

— Precisarei dormir. Mas não preciso fazer isso agora, ainda tenho alguns momentos com vocês. Que eu quero aproveitar e agradecê-los. Quando eu cheguei aqui, estava tão assustada e vocês me acolheram, mesmo não sabendo de onde eu vinha exatamente, e com a convivência vocês se tornaram mais que pessoas que me acolheram ou só personagens de livros, e sim, parte da minha família. E eu amo muito vocês por isso, já amava, agora amo ainda mais, cada um, do seu jeitinho.

— Ownn! – Kate me abraçou. — Sentirei a sua falta. Obrigada por tudo, Anne.

— Eu que agradeço! A você também, Anthony, muito obrigada!

— Fique sabendo que se esse pedido não der certo e você continuar aqui, eu cuidarei de você como uma das minhas irmãs. Apesar, né... – olhou para frente, apontando para o Henry que conversava com o Benedict. — Nem iria precisar!

— Eu sei que cuidaria, como você faz com todos, você cuida das pessoas que ama.

Abracei os dois, afaguei a cabecinha de Newton que estava nos nossos pés logo em seguida.

— Tchau, amiguinho, se comporte com o papai Anthony, está bem?

Daphne e Simon se aproximaram...

— Anne! – ela me abraçou de surpresa. — Boa viagem, querida.

— Obrigada! – sorri ao me afastar. — Vossa Graça. – Fiz uma mesura perfeita dessa vez para o Simon.

— Boa viagem, Annelise, foi um prazer enorme conhecer você. – ele disse.

— Eu digo o mesmo!

— Bom, agora me deixem passar, por favor. – Era a Violet se aproximando de mim e me envolvendo em um abraço confortante. — Minha querida, minha Annelise...

Agora, sim, me deu vontade de chorar.

— Obrigada por tudo, Lady Violet, de verdade, nunca esquecerei o que fez por mim. – desfiz o abraço, a encarando já com as lágrimas escorrendo.

— Não chore, minha querida!– ela enxugou minhas lágrimas. — Eu tenho muitos filhos e amo todos sem igual, mas estávamos precisando de uma Annelise em nossas vidas.

— Só espero não ter dado muito trabalho.

— Imagina, você é uma querida.

— Agradeça à madame Delacroix pelos lindos vestidos que ela fez para mim. E isso aqui... – tirei uma carta do bolso. — Entregue aos seus funcionários de Londres, eles também me trataram super bem. É uma carta de despedida.

— Pode deixar que eu entregarei.

Eu sabia que assim que eu dormisse e abrisse os olhos, eu estaria em casa, por isso passei o resto da noite com eles, até que, perto da meia-noite, tive que me retirar, eles estavam ansiosos, não iriam dormir até que eu voltasse para casa.

Então, Henry me levaria para o meu quarto, mas antes eu passei na cozinha e agradeci a todos os funcionários com os quais convivi durante esse tempo aqui em Aubrey Hall. Amei todos!

Depois, de mãos dadas e em silêncio, Henry me levou até o quarto. Abriu a porta, eu entrei e ele veio logo atrás de mim, fechando a porta em seguida.

— Henry, eu não quero que você esteja aqui na hora que eu tiver que ir.

— Eu sei, eu sei que não gostaria disso. – Ele falou, me trazendo para perto. Me envolvendo pela cintura e me dando um abraço apertado.

Eu me aconcheguei na curvatura do seu pescoço, sentindo e respirando pela última vez o seu cheiro.

— Eu te amo, Henry! – falei ainda abraçada a ele.

— Eu também te amo, minha Anne! Sempre amarei. Por favor, não se esqueça de mim.

— Eu nunca vou esquecer você, eu prometo!

Já eu, não poderia pedir o mesmo. Porque, conforme o meu desejo de aniversário, ele e todos os outros vão esquecer de mim assim que eu partisse.

Nos afastamos somente alguns centímetros para nos olharmos, seria a última vez que eu olharia aqueles olhos azuis pelos quais eu sou completamente rendida. Passei as mãos em seus cabelos, trazendo-o para perto da minha boca, e nos beijamos. Dessa vez, um beijo delicado, suave e demorado... queria sentir no último beijo o seu sabor, sem pressa.

Afastamos nossas bocas e nos abraçamos mais uma vez, como estava sendo difícil me separar dele. Eu queria ficar ali em seus braços sentindo o seu calor para sempre!

Mas era preciso, minha casa, família e amigos me esperavam...

— Adeus, Henry! – estava prendendo choro nesse momento.

— Adeus, minha Anne! – ele depositou um beijo suave em minha testa. E, sem olhar para trás, saiu do quarto.

E eu? Fiquei por muito tempo ali, parada, olhando para a porta que havia acabado de fechar.

É interessante que eu estava num livro onde o final de todos é felizes para sempre, mas eu não teria isso. Pelo menos não aqui, não com o Henry.

Depois de vestir a roupa que cheguei aqui há um ano, a minha famosa calça jeans, a blusa branca, o tênis e o casaco, com os brincos, pulseira e relógio.
Escrevi uma carta para o Henry e deixei na escrivaninha, depois peguei o diário e abracei, temendo que ele ficasse para trás. Então me deitei na cama, esperando o sono chegar...

No passado com os Bridgertons - livro 1Onde histórias criam vida. Descubra agora