Capítulo quatro

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Passei a mão pelo espelho algumas vezes para afastar o vapor quente e poder ver o meu reflexo, agora sem maquiagem e com a pele seca lamentei as olheiras.

Por que eu ainda pareço a garota de quinze anos que não sabe lidar com seus próprios sentimentos?

Penteei os cabelos molhados e não senti nenhuma vontade de finalizá-los, mesmo que eu tenha que ficar de coque pelo próximo dia inteiro.

Enrolada na toalha procurei pelo espaço o pijama que Marília havia deixado, não me lembrei se ela disse ter o deixado no banheiro ou no quarto.

Peguei a camisa e encarei com receio o tecido preto com desenhos esquisitos desenhados. A típica roupa cara e feia.

A vesti e sai do banheiro ainda usando a toalha para secar os fios que pingavam mantendo minha nuca molhada.

Cantarolei baixinho a música sertaneja que tocava alta no andar de baixo.

Pelo visto os amigos do Everton estão animados. Marília já era minha madrinha quando se casou com ele, então não é exatamente um costume chamá-lo de padrinho, mas a consideração e o respeito é o mesmo.

Abri a primeira gaveta da cômoda procurando uma escova de cabelos e quando a encontrei comecei a desembaraçar mais uma vez os fios cacheados.

— Você tem algum creme de cabelo pra me emprestar? Eu não ia finalizar, mas acho que não vai ter jeito — Perguntei quando ouvi a porta se abrir.

— Nem cabelo eu tenho — Uma voz masculina comentou de uma forma descontraída atravessando o quarto.

Olhei o reflexo do homem alto e magro, sem camisa e de bermuda molhada pingando o chão branco do quarto.

Desviei os olhos.

— O que você pensa que está fazendo? Não pode entrar em bater.

— Eu sei, por isso eu andei em linha reta assim que percebi que havia alguém nesse quarto — Falou mexendo na mochila que minha madrinha avisou que alguém viria tirar — Vou tomar um banho.

— Não aqui, é o meu quarto, tem outros nessa casa.

— Você já se vestiu?— Perguntou ainda olhando pra mochila.

— Eu não estava pelada quando você entrou.

— Por que não disse antes? Já tá dando dor no pescoço de ficar abaixado assim — Arrumou sua postura antes de olhar para mim, vi seus olhos subirem dos meus pés até meus olhos com total atenção, como se estivesse decorando os detalhes.

— Tire uma foto já que gostou do que viu — Acusei.

— Quem gostou?— Falou de um jeito engraçado desviando os olhos — O Everton disse que eu podia ficar aqui essa noite.

— Tem um quarto no final do corredor.

— Em reforma.

— Ótimo, o sofá deles é ótimo.

— Essa camisa é minha?

Encarei a peça que chega um pouco abaixo de minhas coxas.

— Não — Falei com certeza — É o meu pijama.

— Tá certo que não é uma roupa cara e nem nova, mas chamar minha roupa de sair de pijama é complicado.

— Eu vou falar com a Marília — Avisei saindo do quarto e o deixando sozinho.

Fechei a porta quando sai para evitar que ele viesse também, dei dois passos e parei de andar. Puxei a gola da camisa e inalei o cheiro dela, um forte perfume masculino.

Droga, é mesmo dele.

Jealousy - Richarlison Onde histórias criam vida. Descubra agora