Anna Carolyna P.O.V
Quando entrei na escola, dei uma ajeitada na gola da jaqueta que Priscila havia me emprestado, na intenção de esconder melhor alguns arranhões que se faziam presentes em meu pescoço. Já os arranhões no dorso de minha mão, eu não podia fazer muita coisa a respeito. Entrei rapidamente na sala dos professores só para dar o ar da graça, confirmando minha presença naquele dia de trabalho. Só peguei algumas coisas no meu armário e saí o mais rápido possível dali, antes que alguém notasse os arranhões em minha mão, o que certamente aconteceria mais cedo ou mais tarde, afinal, não iria cicatrizar de uma hora para outra.
Ao contrário de meus colegas professores, meus alunos parecem ter olho de águia. Eu mal entrei na sala em que eu ministraria o primeiro horário, uma turma do segundo ano, e um engraçadinho já foi me perguntando o mais descaradamente possível se a noite havia sido selvagem.
- A noite foi até bem tranquila. Isso aconteceu hoje de manhã, na faculdade. - um forte coro de "huuum" pode ser ouvido ali.
- Fazendo safadeza na faculdade prof. - um outro metido a piadista comentou do fundo da sala.
- Na verdade, não. Uma abusada, assim como vocês dois, - disse divertida, arrancando risos e vaias das pessoas ao meu redor. - veio fazer brincadeirinhas e falsas afirmações sobre mim e umas amigas, aí eu enfiei minha mão na cara dela, inclusive fomos suspensas durante o resto da semana. Ela foi pra enfermaria enquanto eu, linda e bela, estava na sala do reitor esperando por ele e pelas outras participantes da briga, incluindo ela, para saber o nosso destino.
Eu perdi mais de dez minutos do início da minha aula contando o resto da história que eles insistiram em ouvir. Aconteceu o mesmo em outras turmas. Que tipo de professor expõe seus problemas pessoais dessa maneira aos seus alunos? Pois é, eu. Como eu já disse, não me agrada a postura formal entre aluno e professor. Certas coisas prefiro não comentar, mas neste caso não tinha como, os arranhões estavam visíveis e alguns já estavam com pensamentos maliciosos. Não explanei tanto sobre a briga, mas o suficiente para que eles entendessem.
Fui carinhosamente apelidada de Ronda Rousey. Dá para acreditar? Eu mal fui tocada pela Amy, a maior parte dos meus arranhões, ou todos, foram feitos pelas amigas dela quando tentaram me tirar de cima de sua líder.
Pedi segredo a eles sobre esta história, tinha medo disso chegar aos ouvidos da diretora e me prejudicar em meu trabalho, sendo afastada ou algo semelhante. Me prometeram que não comentariam nada e que o assunto morrera ali, eu sabia que eles cumpririam com o prometido, eu já ajudei muitos ali inclusive em outras disciplinas ou com problemas pessoais. Caso algum colega de trabalho me perguntasse sobre os arranhões, eu já tinha a desculpa perfeita: "um gato me arranhou quando eu brincava com o mesmo".
No horário do lanche, liguei para Ananda. Estávamos nos falando por telefone todos os dias. Ela sempre me perguntava sobre Priscila e me dava algumas dicas. Não comentei nada sobre a briga, afinal, eu ainda estava na escola e não queria que os adultos ali soubessem disso, ligaria para ela novamente a noite e contaria a história. Mal encerramos a ligação e meu celular começou a vibrar novamente, dessa vez era o Rafa.
- O que você quer? - somos sempre educados assim ao atender uma ligação um do outro.
- Falar com uma piranha.
- Acho que você ligou pro número errado.
- Ela também é lesba incubada.
Ele sempre soube das minhas dúvidas quanto a minha sexualidade e nunca deixou de fazer brincadeiras sobre isso, eu nunca me importei, pelo contrário, acho engraçado e adoro rir das piadas dele.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Colega de Apartamento •Capri•
RandomAnna Carolyna é uma garota de 25 anos que tem "problemas" quando o assunto são seus sentimentos amorosos. A um ano e cinco meses, mudou-se para a capital para fazer sua faculdade. Ela consegue uma colega de apartamento para dividir as despesas, a li...