Planos

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Priscila POV

Eu e Carolyna descemos até a cozinha em
silêncio. Só eu sei o quanto foi difícil pedir ajuda para ela. Meu orgulho me dizia o tempo todo que não era necessário me rebaixar a tal ponto. Mas eu precisava fazer isso se quisesse provar a ela que eu estou tentando conviver bem. E outra. Eu realmente não sei fazer lasanha. Para falar a verdade, meu conhecimento na cozinha é bem limitado, afinal eu sempre tive
Liz e minha mãe por perto, e as únicas vezes em que me aventurava a cozinhar era quando nenhuma delas estava presente. Como agora. Eu peguei a massa da lasanha e fiquei olhando para as coisas meio perdida. Carol gargalhou.

- Está perdida mesmo em Caliari. Me dá isso aqui. - Ela tomou a massa da minha mão. – Pega uma travessa para mim, e deixa o resto comigo.

Eu peguei uma das travessas no armário
e a alcancei para ela. Peguei a garrafa de
vinho que trouxera da casa dos meus pais e
perguntei:

- Vinho?

- Tentando me embebedar Caliari?, se
for um plano para me matar, saiba que se
alguma coisa acontecer você será a principal suspeita. - Ela falou rindo.

Se eu soubesse que pedir ajuda ia deixá-la
de tanto bom humor, eu teria pedido antes.
Entrei na brincadeira.

- Não pretendo te matar. Não hoje,
pelo menos. Mas vou ficar de olho nos
ingredientes da lasanha.

Ela gargalhou mais uma vez, e eu descobri
que este provavelmente era o meu som
favorito no universo. O som de quando
Carol gargalhava por alguma coisa que eu
disse.

- Pode ficar tranquila. Hoje. Só não se
acostume.

Servi um pouco de vinho em uma taça e
coloquei em cima do balcão, próximo a ela, e depois servi um pouco para mim também.

- Onde conseguiu o vinho? – Ela perguntou
tomando um gole de sua taça. – Ele não estava aqui durante o dia, e em um domingo à noite não é exatamente fácil encontrar lugares abertos para comprar um.

- Raptei da casa dos meus pais. - Respondi. -
Considere como uma oferta de paz.

Ela me olhou por alguns instantes:

- Por que você se esforça tanto? – Perguntou. – Eu juro que não consigo entender.

- Porque eu quero que, se não formos amigas, como você disse que não seriamos, nós tenhamos pelo menos uma cordialidade uma com a outra.

É óbvio que não é isso que eu quero, mas por hora é o que estou buscando. Para depois seguir para o próximo passo. Conquistá-la como mulher. Ela colocou a travessa no forno e falou:

- Vai mais uns 20 minutos até ficar pronta.
- Percebi que ela estava tentando mudar de
assunto. - Vou ligar para Malu, ainda não dei sinal de vida hoje. Licença.

Eu concordei e ela foi em direção a sala de
jogos, com a taça de vinho em uma mão e o
celular na outra, já discando o número do
telefone. Eu fiquei ali na cozinha mesmo. Coloquei a mesa para o jantar e depois me sentei com meu celular para verificar meu e-mail e algumas mensagens. Antes de se completarem os vinte minutos ela estava de volta, e sem falar nada tirou a travessa do forno e a colocou na mesa. Ela se sentou à minha frente e eu larguei o celular para podermos comer.

- Você me explicou o motivo do vinho, mas
não o da lasanha. - Ela falou.

Eu expliquei:

- Era só um jeito de te deixar de bom humor
para você me responder como foi a sua
conversa com a Amanda.

Nós duas nos servimos e ela começou a falar:

- Sinceramente, eu acho que a Amanda gosta da Ma, mas ela mesma ainda não descobriu isso.

- Por quê? O que ela te disse?

- Quando eu falei no nome da Marcela ela
quase começou a chorar. Disse que a Marcela se afastou dela sem um motivo aparente e que não quer conversar com ela sobre o assunto. Se você visse como só a possibilidade da Marcela se afastar completamente dela a deixou, você perceberia o que estou tentando dizer. Acho que nós não vamos ter tanto
trabalho para juntar aquelas duas.

- Assim espero. Não gosto de ver minha irmã sofrendo. Nem a Amanda. – Falei.

- Eu também não.

- Você não chegou a conversar com a Amanda sobre o fato de ela gostar de garotas, não é? Porque nós precisamos saber disso antes de começarmos... o que quer que formos fazer para juntar essas duas.

- Claro que não, Priscila. – Ela bufou. - Seria
uma conversa bem interessante. "Então, Amanda, já que nós estamos conversando sobre a sua melhor amiga, me conta, você já pensou em ficar com garotas"?

- É, não seria muito legal. - Concordei.

- É claro que não. Nós temos que ir com
calma, para não assustar a garota.

- Mas então o que podemos fazer? - Perguntei.

- Eu posso tentar sondar alguma coisa com ela durante a semana. Talvez possa chamar ela para almoçar, algo do tipo.

- Seria ótimo.

Nós terminamos de comer e enquanto eu
lavava nossa louça ela terminava de limpar
a mesa. Eu ainda pensava em como ajudar a Marcela então falei para ela:

- O que eu precisava mesmo era ver mais
de perto como está a relação das duas. Para
então decidir o que podemos fazer.
Ela encostou no balcão me olhando.

- Que tal uma noite de garotas? - Ela sugeriu. - Nós podíamos convidá-las para vir dormir aqui, assistir um filme, tipo uma festa do pijama.

- Seria uma ótima. - Concordei. - Pode ser no
próximo sábado? No domingo elas não tem
aula e nós não precisamos trabalhar.

- Por mim tudo bem. Você convida?

- Falo com elas durante a semana.

- Tudo bem.

Terminei de guardar a louça e olhei para ela:

- Bom, vou tomar um banho e dormir. Boa
noite e obrigada pela companhia.

Ela pareceu espantada com o que eu disse,
mas respondeu:

- Boa noite Priscila.

Eu subi para o meu quarto e antes de entrar no chuveiro ouvi a porta do seu quarto se fechar também. Após o banho, deitei na minha cama e repassei os acontecimentos do dia. Nós sobrevivemos ao primeiro dia. O que já é muito mais do que nossa família e amigos mais próximos poderiam imaginar. Eu posso não ter muita certeza sobre o que fazer para ajudar a minha irmã, mas o meu plano para conquista Carolyna já está sendo colocado em prática. Pensando nisso adormeci.

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