No dia seguinte, Emily ficou um tanto surpresa ao descobrir que Annette sabia da prisão de Madame Montoni, em um quarto no andar de cima do portão de entrada, tal como sabia de sua visita lá na noite que se aproximava. Que a circunstância, a qual Barnardine havia ordenado tão solenemente que ela escondesse, tivesse sido contada pelo próprio para uma ouvinte tão indiscreta quanto Annette parecia muito improvável, apesar de ele ter confiado a ela uma mensagem sobre o encontro planejado. Ele pediu que Emily o encontrasse, sozinha, no terraço, um pouco depois da meia-noite, quando a levaria para o lugar que havia prometido; uma proposta da qual ela se esquivou imediatamente, pois mil medos vagos cruzaram sua mente, como os que a atormentaram na noite anterior, e nos quais ela não sabia se confiava, ou se os ignorava. Ocorria a ela, frequentemente, que Barnardine poderia estar enganando-a quanto à Madame Montoni, cujo assassino talvez tenha realmente sido ele; o qual a enganou por ordem de Montoni, pois assim seria mais fácil atraí-la para algum plano desesperado do último. A suspeita terrível, de que Madame Montoni não estava mais viva, veio dessa forma, acompanhada por uma não menos apavorante com relação a ela própria. A não ser que o crime, pelo qual sua tia havia sofrido, não tenha sido instigado meramente por ressentimento sem conexão alguma com o lucro, um motivo com o qual não era provável que Montoni agisse, o seu objetivo não seria atingido até que a sobrinha também estivesse morta, para quem Montoni sabia que as propriedades de sua esposa passariam. Emily se lembrou das palavras, as quais a haviam informado que as propriedades em disputa na França seriam dela se Madame Montoni morresse sem consigná-las ao seu marido, e a perseverança obstinada de sua tia tornava muito provável que ela as tivesse mantido até o fim. Neste instante, lembrando-se do comportamento de Barnardine na noite anterior, acreditou no que tinha imaginado, que ele expressava um triunfo maligno. Ela estremeceu com a lembrança que confirmou seus medos, e se decidiu a não encontrá-lo no terraço. Logo em seguida, ela ficou inclinada a considerar essas suspeitas como os exageros extravagantes de uma mente tímida e perseguida, e não pôde acreditar que Montoni fosse capaz de uma depravação tão absurda quando a de destruir sua esposa e sua sobrinha por um objetivo. Ela se acusou de deixar que sua imaginação romântica a levasse muito além dos limites da probabilidade, e decidiu se empenhar em conter os seus saltos rápidos, a fim de que, às vezes, eles não chegassem à loucura. Contudo, ainda se contraía com a ideia de encontrar Barnardine no terraço à meia-noite; e ainda assim o desejo de pôr um fim a esse suspense terrível, sobre sua tia, de vê-la e acalmar a sua angústia, a fez hesitar quanto ao que fazer.
"Mas, como será possível, Annette, que eu vá até o terraço a essa hora?", disse ela, se recompondo, "os guardas vão me parar, e o Signor Montoni descobrirá".
"Oh, Ma'amselle! Isso já foi bem elaborado", respondeu Annette. "Isso é o que Barnardine me contou. Ele me deu esta chave, e me mandou dizer que ela destranca a porta no final da galeria com a abóboda, que dá para o final do adarve leste, para que você não precise passar por nenhum dos guardas de vigia. Ele também me mandou dizer que a razão para lhe pedir que venha até o terraço, era para que ele pudesse levá-la ao lugar aonde você quer ir sem abrir as portas grandes do corredor, que rangem muito."
O espírito de Emily ficou um tanto mais calmo com esta explicação, que parecia ter sido dada honestamente a Annette. "Mas, por que ele quer que eu vá sozinha, Annette?", disse ela.
"Oras, isso é o que eu mesma perguntei a ele, Ma'amselle. 'Por que a minha senhorinha tem que ir sozinha? Certamente eu posso ir com ela! Que mal eu posso fazer?', mas, ele disse: 'Não... não... eu lhe direi não', do jeito rude dele. Não, digo eu, eu fui confiada com casos tão importantes quanto este, eu lhe garanto, e não é uma questão de eu não conseguir guardar um segredo agora. Ainda assim ele não dizia nada além de: 'Não... não... não'. Bem, disse eu, se você confiar em mim, eu lhe contarei um grande segredo que me foi contado há um mês, e o qual eu nunca revelei até agora... então, você não precisa ter medo de me contar. Mas, não adiantou. Então, Ma'amselle, eu até mesmo lhe ofereci um zecchino lindo e novinho, que Ludovico me deu de lembrança, e eu não teria me desfeito dele por toda a praça de San Marco; mas, nem isso adiantou! Qual pode ser a razão disto? Mas eu sei, sabe, Madame, quem você está indo encontrar."