Capítulo 9

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Vários dos dias que se seguiram passaram em suspense, pois Ludovico só conseguiu descobrir dos soldados que havia um prisioneiro no cômodo, descrito para ele por Emily, como sendo um francês que eles haviam capturado em uma de suas escaramuças com um grupo de seus conterrâneos. Durante este intervalo, Emily escapou das perseguições de Bertolini e Verezzi se mantendo em seu próprio quarto; exceto que, às vezes, à noite, ela se aventurava a andar até o corredor adjacente. Montoni parecia respeitar sua última promessa, apesar de ter profanado a sua primeira, pois ela só podia atribuir o seu descanso atual à proteção dele; estava tão segura quanto a isso que não queria sair do castelo até obter alguma certeza sobre Valancourt; pela qual ela esperava, de fato, sem qualquer sacrifício de seu próprio conforto, já que não havia ocorrido circustância alguma para tornar a sua fuga provável.

No quarto dia, Ludovico a informou de que tinha esperanças de ser admitido na presença do prisioneiro; já que era a vez de um soldado, de quem ele havia sido próximo por algum tempo, vê-lo na noite seguinte. Ele não foi enganado nessa esperança, pois, sob o pretexto de carregar um jarro de água, entrou na prisão, entretanto, já que sua prudência o impediu de contar ao guarda o motivo real da sua visita, ele foi obrigado a tornar a sua conferência com o prisioneiro muito rápida.

Emily esperava pelo resultado em seu próprio quarto, pois Ludovico havia prometido acompanhar Annette até o corredor à noite; onde, após várias horas contadas impacientemente, ele chegou. Tendo, então, falado o nome de Valancourt, Emily não conseguia articular mais nada, mas ficou hesitante numa expectativa trêmula. "O cavalheiro não me confiou com o nome dele, Signora", respondeu Ludovico. "Mas, assim que eu mencionei o seu nome ele pareceu ficar cheio de alegria, apesar de não parecer tão surpreso quanto eu esperava." "Então ele se lembra de mim!", ela exclamou.

"Oh! É o Monsieur Valancourt", disse Annette, e olhou impacientemente para Ludovico, que compreendeu o olhar dela e respondeu para Emily: "Sim, Lady, o cavalheiro de fato se lembra da Lady e, eu tenho certeza, tem uma afeição enorme por você, eu ousei dizer que você também tinha por ele. Ele, então, perguntou como você descobriu que ele estava no castelo, e se você ordenou que eu falasse com ele. A primeira pergunta eu não soube responder, mas a segunda sim; e ele ficou em êxtase de novo. Eu fiquei com medo de que a alegria dele o denunciasse para o guarda na porta."

"Mas, como está a aparência dele, Ludovico?", interrompeu Emily. "Ele não está triste e doente com esse longo confinamento?"

"Oras, quanto à tristeza, eu não vi sintoma algum disso, Lady, enquanto eu estava com ele, pois parecia estar com a melhor disposição que eu já vi em toda a minha vida. O rosto dele era todo alegria e, se alguém pode julgar baseado nisso, estava muito bem; mas, não lhe perguntei."

"Ele não me mandou uma mensagem?", perguntou Emily.

"Oh sim, Signora, e algo além", respondeu Lodovico, que procurava em seus bolsos. "Certamente, eu não o perdi", acrescentou ele. "O cavalheiro disse que teria escrito se tivesse caneta e tinta, e que teria mandado uma mensagem bem longa, quando o guarda entrou no quarto, mas não antes dele me dar isto." Ludovico, então, tirou uma pintura em miniatura de seu peito, a qual Emily recebeu com uma mão trêmula e percebeu ser um retrato dela própria: a mesma pintura que sua mãe havia perdido tão estranhamente na cabine de pesca em La Valée.

Lágrimas misturadas com alegria e ternura vieram aos seus olhos, à medida que Ludovico prosseguia.

"'Diga à sua Lady', disse o Cavalheiro quando me deu a pintura, 'que isto tem sido a minha companhia e o meu único consolo durante todos os meus infortúnios. Diga a ela que eu trouxe isto perto do meu coração e que eu o envio a ela como a promessa de uma afeição que nunca morrerá; que eu não me desfaria disso, a não ser por ela, pela riqueza de mundos e que agora eu me desfaço somente pela esperança de poder recebê-lo das suas próprias mãos, e logo. Diga a ela'... Bem, nessa hora, Signora, o guarda entrou, e o cavalheiro não disse mais nada; mas, antes ele tinha me pedido para planejar uma entrevista para ele com você; e quando eu lhe contei da pouca esperança que tinha de convencer o guarda a me ajudar, ele me disse que talvez isso não fosse tão difícil quanto eu imaginava, e me implorou para trazer a sua resposta, depois me informaria de mais coisas do que ele escolheu fazer no momento. Então, eu acho que isso, Lady, é tudo que se passou."

Os Mistérios de Udolfo (1794)Onde histórias criam vida. Descubra agora