Emily, pela manhã, encontrou Madame Montoni, quase na mesma condição da noite anterior; ela tinha dormido pouco, e esse pouco não a tinha restaurado; ela sorriu para sua sobrinha e parecia alegre com a presença dela, mas só falava algumas palavras e nunca mencionava Montoni, que, no entanto, entrou no quarto logo em seguida. Quando Madame Montoni compreendeu que ele estava lá, pareceu ficar muito agitada, mas se manteve completamente calada, até que Emily se levantou de uma cadeira ao lado da cama, momento em que ela implorou, com uma voz fraca, que a sobrinha não a deixasse.
A visita de Montoni não era para acalmar sua esposa, a qual ele sabia que estava morrendo, ou mesmo para consolá-la, pedir seu perdão, mas para fazer um último esforço a fim de conseguir aquela assinatura que transferiria as propriedades dela em Languedoc, após a sua morte, para ele, ao invés de para Emily. Essa era uma cena que exibia, da parte dele, a sua desumanidade habitual, e da de Madame Montoni, um espírito perseverante lutando contra um corpo fraco. Emily, contudo, declarava repetidamente para ele que ela preferiria desistir de todo direito àquelas propriedades do que ver as últimas horas de sua tia ser perturbadas pela discórdia. Montoni, porém, não saiu do quarto até que sua esposa, exausta com a discussão obstinada, desmaiou e ficou desacordada, por tanto tempo que Emily começou a temer que a chama da vida houvesse se extinguido. Finalmente, ela acordou e, olhando fracamente para sua sobrinha, cujas lágrimas estavam caindo sobre ela, fez um esforço para falar, mas suas palavras eram ininteligíveis, e Emily ficou com medo de que estivesse morrendo. Depois, contudo, ela recuperou a fala e, depois de ser um pouco restaurada por um tônico, conversou sobre o assunto de suas propriedades na França, com clareza e precisão, por um tempo considerável. Ela guiou sua sobrinha até o local onde ela encontraria alguns documentos relativos a elas, os quais ela tinha escondido de Montoni até então, e ordenou, ansiosamente, que ela nunca perdesse esses papéis.
Logo após essa conversa, Madame Montoni caiu num sono e continuou dormindo até a noite, quando pareceu estar melhor do que tinha estado desde que foi tirada da torre. Emily não a deixava por um momento sequer, até a meia-noite, e não teria saído do quarto se sua tia não tivesse pedido que ela fosse descansar. Então, obedeceu, ainda mais voluntariamente, porque sua paciente parecia estar um tanto recuperada pelo sono; e, dando a Annette a mesma instrução da noite anterior, foi para o seu próprio aposento. Mas, seu espírito estava fraco e agitado e, descobrindo que era impossível dormir, decidiu esperar, mais uma vez, pela aparição misteriosa que tanto a interessava, e, ao mesmo tempo, assustava.
Era a segunda vigia da noite e estava perto da hora em que a figura havia aparecido antes. Emily ouviu os passos dos guardas no adarve, quando eles trocavam de turnos; e, quando tudo ficou silencioso novamente, ela tomou seu posto na janela deixando seu lampião numa parte distante do quarto, para não ser vista de fora. A lua tinha uma luz fraca e inconstante, pois uma névoa espessa a rodeava e, cobrindo o disco frequentemente, deixava o cenário abaixo, às vezes, em total escuridão. Foi num desses momentos de escuridão que ela viu uma chama pequena e cintilante se movendo, um pouco ao longe, no terraço. Enquanto ela estava olhando, a chama desapareceu e, com a lua emergindo novamente das nuvens de chuva lúgubres e pesadas, voltou sua atenção para os céus, onde os relâmpagos vívidos se atiravam de nuvem em nuvem, e brilhavam silenciosamente sobre a floresta abaixo. Ela amava ver a paisagem sombria com o clarão momêntaneo. Às vezes, uma nuvem deixava passar a luz sobre uma montanha distante e, enquanto o esplendor repentino iluminava todos os recuos de rochedos e floresta, o resto do cenário permanecia na sombra profunda; outras vezes, aspectos parciais do castelo eram revelados pelo brilho fugaz - a arcada antiga levando ao adarve leste, a torre acima, ou as fortificações mais distantes; e, então, talvez o edifício inteiro, com todas as suas torres, suas muralhas escuras e maciças, e suas janelas pontudas apareciam e desapareciam num instante.