Capítulo 12

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Enquanto isso, o Conde de Villefort e Lady Blanche haviam passado uma quinzena agradável no castelo de St. Foix com o barão e a baronesa, durante a qual eles fizeram excursões frequentes pelas montanhas e ficaram maravilhados com a natureza romântica do cenário dos Pirineus. Foi com tristeza que o conde deu adeus aos seus velhos amigos, mas com a esperança de estar unido com um deles em breve em uma só família; pois foi decidido que M. St. Foix, que agora os acompanhava até a Gasconha, receberia a mão de Lady Blanche quando chegassem ao Chateau-le-Blanc. Como a estrada da residência do barão até La Valée ficava sobre um dos tratos mais desertos dos Pirineus, e onde a roda de uma carruagem nunca havia passado, o conde comprou mulas para si mesmo e sua família, assim como dois condutores robustos, que estavam bem armados, informados sobre todas as passagens pelas montanhas e que também se gabavam de serem tão familiares com cada mata e vale do caminho, que eles podiam dizer os nomes de todos os pontos mais altos dessa cadeira dos Alpes, pois conheciam cada floresta que se espalhava ao longo de seus vales estreitos, a parte mais rasa de cada rio que eles teriam que atravessar, e a distância exata de cada rebanho de cabras e cabines de caçadores pelos quais eles passariam; este último artigo de conhecimento não precisava de uma memória muito capaz, pois até mesmo habitantes simples eram escassos nessas bandas.

O conde saiu do castelo de St. Foix de manhã cedo com a intenção de passar a noite numa pequena hospedaria nas montanhas perto da metade do caminho para La Valée, da qual seus guias o informaram; e apesar desta ser frequentada principalmente por condutores espanhóis em sua jornada pela França, e, é claro, de só providenciar um alojamento muito lamentável, o conde não tinha outra alternativa, pois era o único lugar parecido com uma hospedaria na estrada.

Após um dia de admiração e fadiga, os viajantes se encontraram num vale arborizado por volta do pôr do sol, que era coberto de todos os lados por picos abruptos. Eles haviam prosseguido por muitas léguas sem ver uma habitação humana e só ouviam, de vez em quando, ao longe, o tilintar melancólico do sino de um carneiro; mas agora eles ouviram as notas de uma música alegre e imediatamente viram, dentro de um recuo verdejante em meio aos rochedos, um grupo de montanheses saltitando em uma dança. O conde, que não conseguia não olhar para a felicidade, tal como para a miséria alheia, com indiferença, parou para aproveitar essa cena de prazer simples. O grupo diante dele consistia de camponeses franceses e espanhóis, os habitantes de um vilarejo vizinho, alguns dos quais estavam fazendo uma dança animada, as mulheres com castanholas em suas mãos, ao som de um alaúde e um tamborim, até que, da melodia vivaz da França, a música se suavizou com um movimento lento, com o qual duas camponesas dançaram o Pavão Espanhol.

O conde, comparando esta com as cenas de tamanha animação que ele havia testemunhado em Paris, onde o gosto falso pintava as feições do rosto e, ao tentar suprir o brilho da natureza em vão, escondia os charmes da animação, onde o fingimento distorcia o ar tão frequentemente e o vício permeava os modos, suspirava ao pensar que as graças naturais e os prazeres inocentes floresciam na natureza da solidão, enquanto decaíam em meio à multidão da sociedade polida. Mas as sombras ficando mais compridas lembraram os viajantes de que eles não tinham tempo a perder; e, deixando esse grupo alegre para trás, seguiram seu caminho em direção à pequena hospedaria que iria abrigá-los durante a noite.

Os raios do sol poente lançavam um brilho amarelado sobre as florestas de pinheiros e castanheiros, que varriam a região mais baixa das montanhas e davam cores resplandecentes aos picos enevoados acima. Mas, logo, até mesmo essa luz desapareceu rapidamente, e o cenário assumiu uma aparência mais tremenda, investida com a escuridão do crepúsculo. Onde uma correnteza havia sido vista, agora ela só era ouvida; onde as colinas desertas haviam mostrado cada variedade de forma e atitude, agora só uma massa escura de montanhas aparecia; e o vale, que muito, muito ao longe abria o seu abismo temível, os olhos não conseguiam mais medir. Um brilho melancólico ainda permanecia nos picos dos Alpes mais altos, sobreolhando o repouso profundo da tarde e parecendo tornar o silêncio do momento ainda mais terrível.

Os Mistérios de Udolfo (1794)Onde histórias criam vida. Descubra agora