O conde, que havia dormido pouco durante a noite, acordou cedo e, ansioso para falar com Ludovico, foi até o aposento norte; mas já que a porta externa foi trancada na noite anterior, ele foi obrigado a bater bem alto para poder entrar. Nem as batidas, nem a sua voz foram ouvidas. Entretanto, considerando a distância dessa porta até o quarto, e que Ludovico, exausto da vigília, havia provavelmente caído num sono profundo, o conde não ficou surpreso ao não receber resposta alguma e, se afastando da porta, desceu para caminhar por seu terreno.
Era uma manhã cinzenta de outono. O sol, subindo sobre a Provença, só fornecia uma luz fraca, enquanto seus raios se forçavam através dos vapores, que subiam do mar, e flutuavam pesadamente sobre os topos das árvores, que agora estavam variadas com muitas cores brandas de outono. A tempestade havia passado, mas as ondas ainda estavam violentamente agitadas e seu curso estava marcado por longas linhas de espuma, ao passo que nenhuma brisa flutuava nas velas dos barcos perto da costa, que estavam levantando âncora para partir. A escuridão quieta do momento era agradável para o conde e ele seguiu seu caminho pela floresta, imerso em pensamentos profundos.
Emily também acordou cedo e fez sua caminhada costumeira ao longo da beirada da península, que ficava sobre o Mediterrâneo. A sua mente não estava tomada pelas ocorrências do castelo, pois Valancourt era o motivo de seus tristes pensamentos. Ela ainda não tinha se ensinado a pensar nele com indiferença, embora seu julgamento a repreendesse constantemente pela afeição que permanecia em seu coração, após a sua estima por ele ter partido. A recordação lhe trazia frequentemente seu olhar de despedida, e os tons de sua voz, quando ele lhe deu um último adeus; e quando algumas associações acidentais trouxeram essas circunstâncias à sua mente, com uma energia peculiar, ela derramou lágrimas amargas com a lembrança.
Tendo chegado à torre de vigia, ela se sentou nos degraus desnivelados e, com um abatimento melancólico, observou as ondas meio escondidas no vapor, à medida que elas vinham rolando em direção à costa e lançavam seu spray leve nos rochedos abaixo. O murmúrio vazio delas e a névoa obscura que subia pelas colinas em espirais, deram uma solenidade à cena, que estava em harmonia com o temperamento de sua mente, e ela ficou sentada, entregue à lembrança de tempos passados, até que aquilo se tornou doloroso demais, e ela saiu do lugar abruptamente. Ao passar pelo portão pequeno da torre de vigia, viu letras gravadas na entrada de pedra, as quais ela parou para examinar e, embora parecessem terem sido cortadas rudemente com um canivete, os caracteres lhe eram familiares. Finalmente, reconhecendo a letra de Valancourt, ela leu, tremendo de ansiedade, os versos seguintes intitulados:
NAUFRÁGIO
Até a meia-noite solene! Nesta colina íngreme solitária,
Sob o muro desta torre de vigia desolada,
Onde formas místicas amedrontam o pensador,
Eu descanso; e observo as profundezas desertas abaixo,
Assim como através de nuvens tempestuosas a luz fria da lua
Brilha na onda. Sem visão, os ventos da noite
Varrem as ondas com uma força barulhenta e misteriosa,
E as erupções rugem taciturnas ao longe lá embaixo.
Nas pausas quietas das rajadas eu ouço
A voz de espíritos, aumentando doces e lentas,
E muitas vezes em meio às nuvens suas formas aparecem.
Mas, ah! Que grito de morte vem com a ventania,
E no raio distante, que vela brilhante
Se curva para a tempestade? – Agora as notas do medo somem!
Ah! Pobres marinheiros! – O dia não abrirá mais
Seus olhos animadores para iluminar o seu caminho!Com esses versos parecia que Valancourt havia visitado a torre. Que ele provavelmente havia estado ali na noite anterior, pois era uma noite assim que eles descreviam, e que ele havia saído da construção muito recentemente, já que não estava claro antes e sem luz era impossível que essas letras tivessem sido gravadas. Dessa forma era até mesmo provável que ele ainda estivesse nos jardins.