Gally sonhou com a clareira, com os clareanos e, ao fim do sonho que se tornou pesadelo, se viu de novo com a lança no peito e sozinho. Totalmente sozinho.
Ele finalmente despertou, sugou uma grande quantia de ar e em seguida um longo gemido quando sentiu a dor voltar com tudo quando ficou consciente. Tinha sobrevivido, o tiro não pegou e talvez tenha sido fruto da sua imaginação. O sonho, ou as lembranças, voltaram com tudo e ele sentiu um extremo vazio no peito. A sensação de solidão o preenchendo novamente.
Esse pensamento não durou muito já que a luz laranja que iluminava tudo a volta tremeu e chamou sua atenção, só naquele momento percebeu que havia uma fogueira ali e que não estava onde havia sido deixado ao apanhar. Estava em uma espécie de quarto deitado numa cama velha, a fogueira estava ali perto e o cheiro de algo sendo feito inundou seu nariz.
Tentou se levantar, mas o menor movimento fez a dor se espalhar por todo seu corpo e o fazer arfar. O som fez uma sombra no canto do quarto se mover, isso atraiu seu olhar fazendo seu coração palpitar e o medo retornar, não queria levar outra surra. Mas quando estreitou os olhos, mesmo com a visão embaçada, pôde ver quem era.
— Dormiu demais, rapaz. – Annie murmurou se levantando enquanto vestia a jaqueta.
— O que… – sua garganta doeu e o movimento fez seu maxilar doer também – aconteceu?
— Você foi encurralado e eles te bateram.
— O que você fez?
— Nada, ué. – pode ouvir o riso sair de seus lábios – Eu disse que não ajudaria. Eles te bateram pra valer e depois foram embora.
— Eu ouvi eles atirarem. – murmurou, fechou os olhos tentando se recordar das imagens do acontecimento.
— Você devia estar alucinando, te bateram pra valer.
— É, deve ser isso. – ele ficou em silêncio sentindo seu corpo todo doer – Eu perdi a aposta. – sussurrou.
— É, você perdeu. Mas não se preocupe. – ela se aproximou de uma pequena escrivaninha ali no canto daquele quarto, pegou uma pequena caixa metálica e foi até ele se sentando ao seu lado na cama. Gally tentou se levantar, mas arfou de dor. – Relaxa, só vou fazer uns curativos. – Gally não se opôs, permitiu que ela fizesse seus curativos e limpasse suas feridas que ardiam ao menor dos toques. Estava envergonhado de si mesmo por ter feito exatamente o que ela tinha dito e por estar cuidando dele agora. – Sobre as condições da aposta… – fez uma breve pausa – Decidi conceder o que desejava se tivesse vencido, isso significa que ninguém vai mandar em você ou te perturbar. – ela sorriu de lado pegando um novo algodão – Nem te chamar de merdinha.
— Mas e quanto ao que você apostaria?
— Amanhã você vai ver e será a única coisa que eu vou mandá-lo. – a jovem tentou esconder um sorriso de seus lábios, mas Gally percebeu a diversão em seus olhos que observavam atentamente os ferimentos em sua face – É o seguinte, Gally, você está livre para fazer qualquer coisa e ser o que você quiser. Se quiser obedecer minhas ordens e conselhos, a escolha é sua. Se quiser me seguir e fazer parte do meu grupo, então será muito bem vindo.
— Mas por que isso de repente? Eles diziam que eu devia obedecer às suas ordens, que eu era seu cachorrinho e até faziam piadas com isso. Por que está fazendo isso agora?
— Porque eu não quero me sentir presa a você. – revelou e todo o brilho de diversão sumiu de sua face, tornando seu olhar sério e um pouco distante – Nem a ninguém. Não quero sentir que tenho nenhuma obrigação com você nem sentir culpa se morrer, embora eu acredite que o fracasso de suas ações te façam ficar mais forte e saber o que dá certo e errado. – ela suspirou quando colocou o último curativo – Está com fome?
Gally a encarou pensativo, mas apenas acenou afirmando. Estava morrendo de fome e sua garganta estava extremamente seca, só tinha notado isso naquele momento em que ela havia dito. Annie levou comida enlatada e água em um cantil e o ajudou a se sentar na cama, uma das mãos do garoto se firmou no ombro da garota que arfou e estremeceu com o toque, mas não se afastou. Quando ele estava sentado e comia aos poucos, Annie estava sentada na cadeira em frente a escrivaninha e de costas para ele. Ela parecia escrever algo em seu diário.
Estava tão silenciosa que por um segundo se perguntou se ela estava ali, as pequenas chamas da fogueira tremiam e balançavam as enormes sombra daquele quarto. Foi então que ele perguntou, após comer a última colherada da comida enlatada e beber um grande gole de água:
— O que houve com seu ombro? – Annie não respondeu, mas ele pode notar quando ela se virou o encarando por cima do ombro – É que você pareceu estremecer de dor quando eu…
— Machucado. – revelou o interrompendo – Já disse, essa cidade é muito perigosa. – ela se levantou ficando perto do fogo, as luzes finalmente iluminaram seu corpo e sua face mostrando uma expressão séria – Já terminou? – ele afirmou – Ótimo, agora descanse. – e com isso ela pisou nas pequenas chamas várias vezes até que apagassem completamente.
— Por que você fez isso?
— O fogo era só para esquentar a comida para você. Se continuar, então qualquer um que estiver lá fora saberá que estamos aqui e virá com segundas intenções. – ela apontou para o buraco na parede que deveria ser a Janela – Eu fico de vigia essa noite. Descanse, Gally.
Com a escuridão no quarto, Gally não conseguiu ver Annie pegar a cadeira, mas a ouvir arrastar até próximo do buraco da parede. A luz da lua iluminava de maneira precária ali, podendo ver só o brilho de seus olhos, mas não foi o suficiente para ele não se sentir sufocado:
— Annie? – perguntou com a voz trêmula. Houve um silêncio que o fez começar a entrar em desespero, podia jurar que ouviu um grito dos verdugos ao fundo e aquilo fez seu coração pular em seu peito.
— Fala. – a voz sussurrada da jovem o trouxe de volta a realidade, o desespero sumiu quase por completo e ele já não escutava os verdugos. Ele respirou aliviado.
— Obrigado… por voltar.
— Durma, Gally.
E foi a última coisa que disseram ali. Não demorou muito para Gally dormir, o desespero do escuro voltou por meio de seus sonhos e ele se viu novamente no labirinto.
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INFECTED (Gally Maze Runner)
FanfictionSinopse: Annie não sabia como era o mundo antes, não sabia a sensação do frio, da água gelada do mar batendo em seus pés nem da sensação de ver um horizonte verde brilhante e vivo. O calor, o deserto e o Fulgor eram tudo o que ela conhecia. Ó...