𝐗𝐗: 𝐑𝐞𝐬𝐠𝐚𝐭𝐞ʳ

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— E então, conte-me mais sobre você.

      Gally pediu. O sol se deitava lentamente no horizonte, lançando-lhe o último feixe de luz quente enquanto a noite trazia consigo ar fresco. Annie tinha decidido esperar mais algumas horas naquele quarto, quando o sol estava no meio do céu eles desceram dali e andaram pela cidade apenas vasculhando. Próximo ao pôr do sol, com a luz consideravelmente mais fraca, Annie decidiu seguir o caminho de volta. Iriam seguir a noite toda, em algumas horas de caminhada iriam adentrar em outra cidade destruída, mas aquela era diferente da que estavam antes. As antigas construções foram quase todas engolidas pela areia, o que quer que tinha acontecido no passado foi muito mais cruel com aquela cidade e agora restavam só um amontoado de pedras.

 — Sem conversa durante a viagem. – Annie murmurou, enquanto a última luz do sol iluminava seu rosto e refletia as várias gotículas de suor em sua testa e pescoço. A garganta estava seca, dolorida, mas não queria beber água naquele momento. Precisavam racionar.

 — Então… posso te fazer um pedido?

      Ela bufou. Como ele podia continuar falando naquele momento?

 — Depende. Fala logo, garoto.

 — Você pode me ajudar a entrar nesse negócio dos esquadrões?

       O pedido pegou Annie de surpresa, ela parou e se virou o encarando, após aqueles últimos dias no deserto tinha quase certeza de que ele iria preferir optar por não sair de novo. Participar de um esquadrão significava sair em missões, umas mais perigosas que as outras, mas no geral teriam que enfrentar o Deserto e os loucos que ali viviam. Teria dito isso a ele ou se esqueceu de mencionar? O cansaço já estava bagunçando sua mente e suas memórias. 

        Ela franziu o cenho enquanto umedecia a boca com a língua, por trás do suor e da sujeira podia ver a decisão firme em seus olhos. O desejo. De que? Ela não sabia. Mas que era notável, era. Ele não desistiria tão fácil daquilo.

 — Eu pensei que você não ia querer. – revelou enquanto virava-se e voltava a andar.

 — Por que não? – levantou uma sobrancelha confuso e ela apenas deu de ombros.

      Annie queria responder, dizendo que o jeito do garoto não era do tipo que ia para missões, de matar cranks ou esse tipo de coisa, mas se calou. Esse efeito negativo foi unicamente causado por ela, era óbvio, então não podia julgá-lo. Se ela não soubesse de nada e um desgraçado a puxasse para uma cidade no meio do deserto, incitasse a discórdia em um bar, fosse abandonada e lutasse contra um grupo de loucos e ainda tivesse que ficar presa em um cubículo com ele por ter um monte de cranks querendo comer seu cu, então obviamente ela se cagaria de medo e choraria como um bebê. Não podia julgá-lo. Com a falta de respostas, ele prosseguiu:

 — Eu sou fraco. É bem óbvio, não é? – ela de novo não respondeu, apenas o encarou por cima do ombro e continuou andando. Gally suspirou e continuou: – É só que… se eu for forte então não serei um fardo e não irei prejudicar as pessoas que estão comigo. Vou poder lutar contra aquelas coisas e ajudar os outros, talvez assim eu…

 — Gally. – ela o interrompeu – Sem falar. Estamos com pouca água. Só vai se cansar mais.

 — Ah, certo. – murmurou desviando os olhos para seus pés.

 — Mas… eu vou te ajudar no que precisar. Agora continue.

       Um pequeno sorriso surgiu no canto dos lábios de Gally, ele segurou a alça da mochila com mais firmeza e apertou o passo para ficar mais perto da garota. Eles andaram por mais meia hora até pararem, o sol já tinha desaparecido no horizonte, mas ainda tinha uma fraca luz que mantinha o céu em um tom acinzentado. Logo iria ficar totalmente escuro, Annie estava pensando em pegar sua lanterna, mas de repente parou ao escutar um ruído distante. A parada repentina fez Gally trombar nela.

INFECTED (Gally Maze Runner)Onde histórias criam vida. Descubra agora