Imagens borradas era tudo o que passavam pela mente de Annie. Um carro grande destruído e pegando fogo. Um soldado segurando uma criança como escudo. O local após a explosão de uma bomba. Corpos mortos ao chão.
Além das imagens rápidas, também podia sentir algumas coisas, como o cheiro de algo queimado, o odor lmetálico de sangue, o medo que corroía seu interior como um vírus percorrendo sua corrente sanguínea. E uma frase a qual repetia para si mesma.
Cruel não é bom.
"Eu me chamo Lawrence, criança. Qual seu nome?" A voz masculina surgiu em sua mente e então despertou.
O alarme soava na escrivaninha ao lado de sua cama, espreguiçou-se ainda deitada e levou a mão até o aparelho, golpeando-o até parar de apitar. Mais um dia presa naquela merda de lugar, odiava aquele lugar com todas as suas forças e a sensação de ficar presa piorava tudo. Ficou deitada ali observando o teto cinza e rachado, a fraca luz do amanhecer adentravam as frestas da cortina e iluminavam alguns pontos de seu quarto.
A semana tinha passado consideravelmente rápido naquele lugar, embora acreditasse que iria levar uma eternidade, mas estava feliz com aquilo pela primeira vez naquela semana. O merdinha ia ser liberado da enfermaria naquele dia, Ágata comentava animada os avanços do garotos, como ele se sentia bem, conseguia andar e não sentia dor alguma. Porém, por mais que os resultados fossem bons, ainda assim iria levar três dias para que ela pudesse sair dali e ir até algum lugar tranquilo.
Com esses pensamentos, ela custou a se levantar e se arrumar já que estava totalmente sem ânimo. As preparações do que pareciam ser alguma comemoração ou apenas alguma festança sem significado estavam a todo vapor, as pessoas da base andavam de um lado para o outro enquanto conversavam animadas, Annie não se dispôs a ajudar na decoração já que não tinha a menor intenção de participar.
— Sério? Não acha desperdício de recursos? – questionou, estava com os braços cruzados enquanto via Lawrence cuidar das rosas.
— Os dias são cheios de problemas. – analisou enquanto cortava uma rosa e a aproximava do rosto para sentir sua fragrância – Que mal há em dar a eles um dia de distração dos problemas de fora? Além do mais, você achou recursos suficientes na sua procura.
— Não acho que aquela quantia seja suficiente para alimentar toda a base!
— E não é. – ele se virou oferecendo a rosa recém cortada para a garota que aceitou – O grupo de busca saqueou outro grupo. – revelou.
— Mattie estava com eles? – ele confirmou – Você deixou o Mattie ir a um saque e me obrigou a ficar aqui?
— Ordens são ordens. Mas não se preocupe com isso, em poucos dias você poderá levar o garoto onde quiser.
— De exploradora para babá, que maravilha. – murmurou observando a rosa, então inalou sua fragrância doce e sorriu de lado. – Mas e quanto a Matie? Não vi ele hoje.
— Saiu em uma nova missão.
— Tá brincando? – bufou – O que ele foi fazer?
— Você logo saberá. Só precisa esperar o garoto melhorar e treiná-lo para a missão, então saberá cada detalhe.
— Espera, é algo muito perigoso? Pai, quem tá com o Mattie?
— Soldados treinados o suficiente para a missão. – ele sorriu de lado – Não se preocupe.
— Ótimo. – murmurou enquanto sentava em uma das poltronas analisando a rosa em suas mãos.
*
Em cima de uma construção de três andares, apoiada ao parapeito, Annie observava os vários grupos em volta de diversas fogueiras que conversavam animados sobre diversos assuntos distintos. Podia ver dali os enormes muros erguidos do CRUEL para separá-los, enquanto as pessoas do lado de fora sofriam com os mais diversos problemas, as pessoas do lado de dentro da última cidade tinham uma vida perfeita. Ou era isso que Annie acreditava e isso aumentava mais ainda sua repulsa pelo CRUEL.
Estava sozinha ali, todos estavam do lado de fora aproveitando as bebidas e as comidas obtidas pelo saque de Matie e sentiu a raiva crescer de novo em seu interior. Poderia ser ela ali saqueando, mas não, ela devia ficar ali por conta do garoto do CRUEL.
— Maldito garoto. – murmurou para si mesma após estalar a língua.
— Ah, oi. – uma voz masculina soou atrás dela, ela suspirou fundo sentindo sua privacidade e momento sozinha ir por água abaixo, então se virou vendo Gally. Ele estava com um prato de comida e um copo com bebida em mãos, estava a alguns passos de distância e parecia um pouco sem jeito.
— O que quer? – perguntou de maneira rude.
— Você é Ana, não é?
— Sim. O que quer? – repetiu no mesmo tom.
— Aquela médica havia dito que foi você quem salvou minha vida e me aconselhou a vim falar com você, então vim agradecer. Eu sou Gally.
Ela o encarou de cima a baixo, suspirou e virou-se para apoiar os braços no parapeito novamente. Então disse:
— Você já disse isso. De qualquer forma, seja bem vindo a essa merda de lugar. Seja rápido, inteligente e… tente não ser morto.
— Okay. Escute, eu observei você o dia todo e vi que não comeu nada o dia inteiro, então trouxe isso para você. – ele se aproximou oferecendo o prato e o copo, Annie o encarou por alguns segundos e então suspirou novamente.
— Garoto… – ela aceitou a bebida, mas recusou a comida – Uma dica: não seja legal e fique fazendo caridade. Ninguém aqui liga, eles só se importam com suas habilidades de sobrevivência. E nem ouse beber isso enquanto estiver de recuperação. – após isso ela virou o copo bebendo todo o líquido amargo em um gole só – Agora coma, você precisa mais do que eu.
— Eu já comi bastante. – ele colocou o prato no parapeito e se apoiou ao lado dela – E então… por que está aqui?
— Porque eu quero ficar sozinha. – o encarou.
— Ah, saquei. – ele ajeitou a postura enquanto ajeitava o casaco cinza em seu corpo – Eu vou… deixar o prato aqui caso sinta fome. A gente se vê.
Annie apenas acenou sem encará-lo, então o garoto se virou e saiu dali. Ela ficou no mesmo lugar, apenas o viu sair e andar pela rua enquanto se afastava sem olhar para trás.
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INFECTED (Gally Maze Runner)
أدب الهواةSinopse: Annie não sabia como era o mundo antes, não sabia a sensação do frio, da água gelada do mar batendo em seus pés nem da sensação de ver um horizonte verde brilhante e vivo. O calor, o deserto e o Fulgor eram tudo o que ela conhecia. Ó...