Capítulo 28

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Quando Ray chegou em casa, ele encontrou sua mãe sentada no sofá com uma xícara de chá verde nas mãos, na televisão passava algum noticiário qualquer. Ela olhou para ele acenando com a cabeça em cumprimento, o garoto se aproximou dela, deixando os sapatos na porta, e sentou-se no sofá em silêncio, descansando as mãos no colo.

— Eu preciso falar com você sobre ontem, mãe. – Ray disse alguns minutos depois em silêncio, Isabella olhou para o líquido na xícara e suspirou.

— Pode falar. Eu continuarei sendo sua mãe, não importa a palavra ou a situação, Ray. – Ela disse apertando a xícara, a mesma olhou para ele.

O moreno ficou calado, ele não ousava olhá-la, Ray passava os olhos pelas suas mãos e até mesmo pela a mesinha de centro um pouco mais à frente, o mesmo cerrou o punho e engoliu em seco, parecia ter milhares de facas na garganta junto com espinhos.

— Mãe, eu entendo seus sentimentos, entendo sua situação. Eu sei que não foi e não é fácil perder alguém que você tanto ama e ter que lutar sozinha para criar um filho, mas mãe, isso não apaga os acontecimentos dos últimos dez anos. Eu sei que você não teve nenhuma intenção ruim, eu sei que na verdade suas intenções eram as melhores para mim. – Ray começou a falar, as lágrimas vieram aos seus olhos, os espinhos e facas começaram a deslizar de sua garganta para seu peito e pulmões, suas mãos tremiam e as lágrimas deslizaram por suas bochechas, para o nariz e finalmente pingaram em seu colo, ele soluçou. – Mas eu não posso te perdoar. Agora não. Me desculpe mamãe. Mas essa é a verdade. 

Isabella ficou em silêncio, ela se inclinou e colocou sua xícara de chá na mesa de centro, ela colocou as mãos sobre o rosto e suspirou, as lágrimas silenciosamente atingiram seu rosto, ela mordeu o lábio inferior balançando a cabeça, a mulher retirou as mãos sobre o rosto e olhou para o filho que soluçava.

— Está tudo bem, Ray. Você não tem obrigação de me perdoar. Eu continuarei sendo sua mãe. Eu permanecerei aqui para você. Como eu disse, não importa as palavras ou a situação, continuarei sendo sua mãe e continuarei a amá-lo. – ela disse tentando sorrir, ela segurou as mãos de Ray, aquele que finalmente a olhou nos olhos. – Ray, não me peça desculpas, fui eu que errei. Não você. Está tudo bem. Não se sinta culpado. Por favor. Eu te amo.

Esse foi o estopim.
Ray se afastou abruptamente, abraçou o próprio corpo enquanto soluçava, levou as mãos aos cabelos e puxou, gritou. Um grito doloroso que estava preso em sua garganta por muito, muito tempo. Sua mãe encolheu os ombros, a verdade é que até as mães erram às vezes.

— Eu tentei, eu tentei... uma, duas, mil vezes te agradar, mas nada, juro, nada parecia suficiente, sabe quantos comentários maldosos eu já ouvi no colégio?! Não, você não sabe, porque eu nunca te contei, sabe porque eu nunca te contei? Porque você estava muito ocupada elogiando Norman! – Palavras desesperadas escaparam de seus lábios, aquele nó, aquele peso, estava sendo expelido.

Sua mãe permaneceu em silêncio.

— Isso dói mãe, dói, dói, dói, dói, dói, dói, dói, dói, dói, DÓI, DÓI, DÓI, DÓI, DÓI, DÓI, DÓI, DÓI, DÓI, DÓI, DÓI, DÓI, dói um milhão de vezes mãe! E você nunca soube que doía. – Ele disse repetindo suas palavras várias vezes, levantou-se, desesperado, andando em círculos.

Ela continuou em silêncio.

— Eu chorei sozinho. Eu gritei sozinho. Eu estudei sozinho. Eu pintei sozinho. Eu estive sozinho. Já estive no fundo, no fundo de um lago, sozinho. Sempre me senti inferior a tudo e a todos, nunca bom o suficiente, porque me senti incapaz todas as vezes que eu falava com você e você não me ouvia. Me senti incapaz mil vezes. – Ele continuou falando, as lágrimas não paravam de rolar por seu rosto, sua voz estava trêmula e seu corpo tremia, como se ele pudesse ter uma convulsão ali mesmo.

Sua mãe, mais uma vez, ficou em silêncio. 

— Mas sabe, mãe?! Mesmo com tudo isso, eu ainda te amo mãe. Mas não posso perdoá-la e, mais uma vez, estou me sentindo horrível por não conseguir perdoá-la, mamãe. – Ele disse, suas pernas cederam ao chão, ele se curvou, chorando, e gritou mais uma vez de dor, uma dor invisível.

Isabella se levantou, suas mãos tremiam e as lágrimas molhavam seu rosto silenciosamente, ela suspirou e soluçou, quebrando seu silêncio, ela caminhou até seu filho, abaixou-se e o abraçou.

— Está tudo bem, meu amor. Está tudo bem. Eu estou aqui. – Disse ela, puxando-o e apertando-o, como se fosse protegê-lo de balas inexistentes, Ray apertou sua blusa e enterrou o rosto em seu peito, abafando o próprio choro.

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Olá, como vocês estão?
Isso não é um teste, publiquei dois capítulos ontem e mais um hoje, raridade viu, haha.
Até a próxima <3

Bom o suficienteOnde histórias criam vida. Descubra agora