Capítulo 30

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A casa estava completamente silenciosa, o único som presente era o tique-taque do relógio e a torneira da pia da cozinha pingando. Não houve mais soluços ou choro sendo ouvidos. Apenas silêncio. Isabella ainda estava abraçada a Ray, que estava com os olhos fechados em seus braços, como uma criança que acaba de acordar de um pesadelo e corre para os braços da mãe, o chão gelado da sala não incomodava nenhum dos dois.

— Você se sente melhor? – Isabella, depois de horas de silêncio, finalmente perguntou. A única resposta que obteve de Ray foi um suspiro. – Ray, quero que saiba que vou melhorar, vou tentar ser uma mãe melhor para você.

Isabella beijou sua testa, ela acariciou suas costas e encostou seu nariz nos cabelos negros de Ray, ele abriu os olhos, sua cabeça doía e ele sentia seus olhos sensíveis por causa do choro.

— Eu prometo, eu prometo meu filho, que nunca mais estaremos no chão da sala chorando juntos por esse motivo, eu prometo a você. Eu serei uma mãe melhor para você.

— Desculpe mãe. – Ray disse apertando seu braço de leve, sua mãe balançou a cabeça. – Me desculpe mamãe...

— Ray, por favor, não precisa se desculpar comigo por nada.

— Me desculpe mãe, me desculpe por fazer você chorar, se preocupar comigo, me desculpe, eu deveria ter encerrado esse assunto ontem. Me desculpa.  – Ray murmurou, ele podia sentir sua cabeça latejando.

— Pare de se desculpar. Por favor. Você não tem culpa de nada. Pare de se culpar por coisas que não são suas. Por favor. Filho, você não tem culpa de nada, são seus sentimentos. – Isabella disse beijando o topo de sua cabeça.

— Me desculpa por meus sentimentos serem tão complicados assim, mãe. Me desculpe por me desculpar por tudo isso.  – Ele disse, sua mãe suspirou.

—  Apenas pare, Ray.

Desculpa.

Pare.

E, novamente, tudo ficou em silêncio, os dois estavam abraçados, calados. Ray não sabe quando adormeceu nos braços da mãe, mas de repente tudo parou de doer. Ele ouviu apenas uma melodia de um violão distante. Quando abriu os olhos, estava deitado em um gramado e ao longe havia uma grande árvore e abaixo dela um homem alto de cabelos castanhos arroxeados, seus olhos estavam fechados e ele tocava violão, uma melodia que sua mãe cantarolava de tempos em tempos.

Ray se levantou, olhou em volta, estava no alto de um pequeno morro e um pouco distante havia uma floresta e o céu estava azul, sem nuvens, borboletas brancas voavam. Ele aproximou-se, devagar, tentando não interromper o homem, esse homem ele sabe muito bem quem é, é seu pai. Ele está vestindo as mesmas roupas que sua mãe o vestiu para o velório. Um terno branco com um broche de borboleta. Ray nunca esqueceu e nunca esquecerá o velório de seu pai, mesmo tendo apenas cinco anos na época, foi algo que marcou sua vida para sempre.

De repente, o homem parou de tocar violão, abriu os olhos, seus olhos azuis encontraram os olhos do filho, ele sorriu. Aquele mesmo sorriso caloroso que dava todas as manhãs quando Ray acordava e corria para o quarto dos pais para acordá-los.

Você cresceu. Você cresceu muito, Bubi. – disse Leslie, Ray se sentou na frente dele, o coração de Ray se aqueceu ao ouvir o apelido que seu pai o chamava.

—  Pai. – Ray disse, ainda incrédulo, ele engoliu em seco. – Eu morri?

— Não. Você ainda tem muitos anos de vida, Ray. Muitos. Você vai acordar logo então eu preciso ser rápido meu filho. – ele disse sorrindo, o mais velho segurou sua mão, mesmo sendo um sonho, ele pode sentir o calor da mão do pai de quando ele era um homem vivo. – Estou tão orgulhoso de você Ray, você não sabe o quanto.

Ray ficou em silêncio, ele olhou para a mão de seu pai que segurava a sua e olhou novamente em seus olhos azuis, seu coração batia acelerado no peito.

—  Eu vi todo o seu crescimento, queria ter visto você crescer ao seu lado, mas sabe, aquilo aconteceu e eu morri, mas eu tenho muito orgulho de você.

— Pai.. – Ray sussurou

— Ouça-me, Ray. – Leslie disse, ele umedeceu os lábios e suspirou. – Eu te amo muito, filho. Muitíssimo. Sou um homem de sorte, mesmo morto tenho sorte. Tive uma esposa maravilhosa que amei a vida toda e a amei até meu último suspiro e ainda a amo até hoje. Tive você como filho, Ray. E vou ter um genro incrível.

Ray ficou em silêncio ouvindo todas as palavras do pai, Leslie levou a mão à testa do filho, ele sorriu mais uma vez e mordeu o lábio inferior:

Como é aí, pai? Como é a morte?

— Ela é gentil, ela é mais gentil que a vida, meu filho. Você abre os olhos e é quase a mesma coisa daí, a diferença é que não tenho vocês aqui. Mas tenho todos os amigos que perdi naquele dia e reencontrei meus pais. – Leslie disse fechando os olhos e depois os abrindo.

Ray ficou em silêncio, ele piscou, ele notou as borboletas brancas se aproximando de Leslie e seu pai começou a ficar transparente, ele arregalou os olhos.

— Eu preciso ir, Ray. Eu te amo muito, não se esqueça disso. Estou muito orgulhoso de você. Não se preocupe e não se culpe por não conseguir perdoar sua mãe, isso é humano, filho.

Ray abraçou seu pai, antes que ele desaparecesse completamente, seu pai o abraçou de volta e então, seu pai desapareceu de seus braços. Quando Ray acordou, ele ainda estava no chão nos braços de sua mãe e nada mais doía.

Papai nos ama, mamãe. Ele ainda se lembra de nós. – Ray murmurou.

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Olá, como vocês estão?
FINALMENTE ESTAMOS NO CAPÍTULO 30 DEPOIS DE 2 ANOS ESCREVENDO! VAMOS FESTEJAR!
Até a próxima <3

Bom o suficienteOnde histórias criam vida. Descubra agora