O Príncipe do Abysmo [Romance BL]

Capítulo 29

Cihan

Qiqi o pegou pelo pulso e o arrastou pela cidade com puro desespero. A princípio, não entendia o que estava acontecendo com seu amigo. Ele balbuciou algo como "sombra" em completo horror e simplesmente o levou consigo sem dar ouvidos aos seus protestos.

No entanto, quando estava próximo da entrada do palácio, foi capaz de ver o que deixou seu amigo perturbado. Uma sombra imensa se ergueu no centro da cidade e havia mais caminhando para Saphir, provindas da direção do portal do Abysmo.

Era o que Qiqi contou sobre Saphir estar prestes a entrar em guerra. Uma guerra dos deuses?

Era sobrenatural demais, nada que Cihan já tenha visto na vida.

— Temos que ir, rápido! — Qiqi o apressou e desta vez Cihan foi sem reclamar, mais desesperado do que ele.

Sinceramente, o que faria? Jamais pensou que Saphir entraria nesta situação justamente quando era ele no poder. Por que agora? Ele era mesmo qualificado para enfrentar isso? Estava começando a achar que não.

Dentro do palácio, antes mesmo de chegar às escadarias, Wang apareceu com Vitaly ao seu lado. Ambos pareciam ter a urgência estampada em seus rostos.

— Para onde vamos? — Perguntou Wang.

— Há algum lugar seguro para vocês dois? — Indagou Qiqi na sua direção.

Cihan olhou entre eles. — Para nós?

— Sim. — Respondeu Qiqi apressado. — Você e Vitaly precisam estar em segurança, pois são os príncipes, as sombras não podem encontrá-los ou o futuro de Saphir e Montelupine estará em risco!

Estava relutante. Cihan não queria se proteger em algum lugar enquanto seu povo e seus amigos eram consumidos por seja lá o que era aquela coisa. Não era justo, não era certo.

— Pare de duvidar, Cici! — Qiqi estava quase pulando. — Por favor, confie em nós, por favor... vocês devem ter algum abrigo, não é?

De fato eles tinham. — Temos no subsolo e... — Tocou seu pescoço, se dando conta que seu relicário não estava ali. Era o presente que Moon havia lhe dado, o único meio de receber notícias dele e de seus irmãos. Era algo que não podia perder de jeito nenhum! — Meu relicário! Devo ter deixado na cafeteria. Tenho que voltar!

— Não, depois procuramos, é muito perigoso lá fora. — Disse Wang.

— Pessoal... acho que alguém já está com ele. — Comentou Vitaly de forma defensiva. Sua reação fez Cihan olhar para trás.

Há poucos metros, um homem alto, de cabelos negros e curtos, olhos tão vermelhos como os de Iskander, tinha seu relicário nas mãos e o olhava com diversão. Seu traje era escuro e estava acompanhado de vários soldados que Cihan conhecia, mas que pareciam completamente diferentes.

Estavam hipnotizados?

A presença daquele ser em seu palácio era distinta de qualquer sensação que já havia sentido. Seu olhar penetrante fez seus joelhos fracos. Parece que não foi o único a sentir a mesma coisa. Eles se ajoelharam naturalmente, como se uma pressão sobrenatural os forçasse a isso.

— Estou honrado de conhecê-lo, príncipe Cihan. — Sua voz era grave e ao mesmo tempo suave, como se medisse o tom em cada palavra. Seus passos ecoaram pelo corredor e parecia que o mundo ao redor ficou em silêncio apenas para ouvi-lo falar.

A língua de Cihan ficou presa e seu corpo não o obedecia.

Conforme aquele homem se aproximava, todos estavam imóveis e submissos. — Você já deve ter ouvido falar de mim. Sou o deus que criou Saphir, Kanon. Eu abriguei seus antepassados quando não havia ninguém que pudesse cuidar deles lá no oriente e os trouxe para cá. Eu os protegi quando essa terra era infestada de demônios das profundezas. Mas esqueceram de seu benfeitor... e decidiram venerar meu irmão, que não fez nada por vocês.