O AMOR DESPERTA

4. LEMBRANÇAS

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Você está quase sempre perto de mim, quase sempre presente em memórias, lembranças, estórias que conto às vezes, saudade.
(Caio Fernando Abreu)
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3 anos depois....

Eu tinha acabado de deixar meus dois filhos na escola de carro quando recebi uma ligação do meu assessor. Hesitei em atender. Ele tinha que ligar justamente quando eu estava tendo meu primeiro minuto de silêncio do dia? Eu queria aproveitar um pouco mais.

- E aí cara? Queria trocar uma ideia contigo. - Ele me cumprimentou.

- O que manda? Não podemos falar na reunião amanhã? - Eu respondi secamente.

- Ihhh o que houve? Tá bolado cara? - Ele estranhou.

Eu estava de péssimo humor depois de uma briga com a Amanda. O motivo: ciúmes. Ela mais uma vez retomou os acontecimentos da noite em que fiquei preso no teatro.

Nos últimos 3 anos nossas brigas tinham dois temas recorrentes: bebida, pelos exageros dela, e aquela fatídica noite. Pior que, mesmo que ela não tivesse conhecimento dos meus sentimentos mais ocultos, eu sabia que ela tinha razões para se sentir insegura. Eu me culpava o tempo todo por isso.

- Eiii, ainda tá aí? É notícia boa cara. - Ele me despertou dos devaneios.

- É porque tô dirigindo. - Eu disfarcei. - Pode falar.

- Te confirmaram como protagonista em uma série da Netflix. - Ele deu a notícia num tom que sugeria uma fofoca bombástica.

- Como assim? Sem teste? Sem contrato? Ninguém me fez convite também.

- Fizeram hoje. Contrato por obra. Você sabe como eles trabalham. O diretor do projeto assistiu a sua última peça, adorou a construção do personagem e a direção. Parece que vocês até se conheceram. Ele disse que te cumprimentou. Mário Costa. Não lembra? - Ele se empolgou e falava sem pausas. - Se você topar, o papel é seu. E olha, a proposta financeira é irre-cu-sá-vel. Além disso a série tem uma pegada diferente. É uma crítica social ao abandono que o sertão nordestino sofre por parte do estado. Vai abordar seca, problemas sociais, trabalho infantil e a exploração dos grandes latifundiários, mas claro que tem que ter um romance no meio. Seu par romântico é a Cici, uma... - Nesse momento eu parei de prestar atenção no enredo do roteiro.

- Que Cici? - Eu perguntei ignorando todo o resto.

- Como que Cici, Léo? Só tem uma: Cici Muller, né? Tá doido? - Ele gargalhou. Eu fiquei sem palavras. - Cara só queria te dar a boa notícia, mas amanhã a gente conversa melhor na reunião. Temos que dar uma resposta formal até sexta, então tá tranquilo ainda. Valeu parceiro.

Ele desligou sem que eu pudesse dizer nada. Fiquei imóvel na garagem por uns 40 minutos, talvez uma hora, imerso nas lembranças daquela noite no teatro. Ela estava de volta na minha vida, depois de três anos.