19. IMPULSOS

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A moral consiste em fazer prevalecer os instintos simpáticos sobre os impulsos egoístas.
(Auguste Comte)
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Eu sempre fui considerado calmo, mas quando eu vi a Cici toda machucada, o meu sangue subiu. Eu agi por impulso, eu queria protegê-la. Dirigi em alta velocidade até a outra pousada, que ficava a 5 minutos de carro dali. Minhas mãos tremiam no volante.

Só porque era diretor o Mário se sentiu no direito de agredi-la? Eu não teria aceitado ser ator, muito menos co-criar na produção se eu soubesse que o clima dos bastidores seria esse. Na última semana eu havia percebido que ele estava com ciúmes doentio dela comigo, o que por si só já era estranho, já que os dois não tinham um relacionamento. Agora assédio! Inadmissível!

Estacionei o carro de qualquer jeito na frente da pousada. Entrei pela porta e logo o vi sentado em uma das poltronas da recepção, ria e conversava com outras pessoas da equipe. Desviou o olhar ao me ver, mas fui em sua direção.

- O que foi, Leo? Não temos nada a tratar hoje. Foca em estudar seu texto e não me perturba. - Tinha um jeito irônico. Queria mostrar para todos ali presentes o quanto desdenhava de mim. Tinha sido assim nas gravações, mas naquela situação ficou transparente.

- Temos algo a tratar sim. Eu vim até aqui te perguntar o que são aquelas manchas no braço da Cici. - Ele levantou, sua expressão mudou, assumiu uma postura agressiva.

- Qual é a sua hein? Você tá comendo ela também? Gostosinha né? Eu sei. - Eu parti pra cima dele, o segurei pelo colarinho. Meu rosto queimava de ódio. Ele tinha um sorriso irônico. Algumas pessoas que estavam ali se levantaram e ficaram em alerta.

- Cala a sua boca! - Eu gritei. - Vou te dar um aviso: se afasta dela! Se eu souber que você colocou a mão nela de novo, eu abro minha boca pra imprensa. Eu te denuncio por assédio, pode esperar. Eu vou fazer o inferno na tua vida. - A expressão dele mudou novamente para algo entre a tristeza e inocência. Cínico.

- Gente, para! Depois vocês conversam. - A Babi se meteu. - Marinho, deixa ele pra lá, ele tá nervoso. Solta ele Leonardo, pelo amor de Deus. - Ela claramente estava do lado do Mário.

- Cara, peraí se acalma. Eu estava brincando. Não tô nem entendendo o que você tá falando. - A cada palavra dele minha revolta aumentava. Ele levantou os braços, como uma bandeira branca. Eu continuei a segurá-lo. - A Cici estava ótima aqui com a gente, foi até pro bar, acredita? Você voltou e está criando confusão. Ciúmes, Leo? Amanda o nome da sua mulher, certo?

- Tá avisado! Fica longe da Clarice. - Eu o soltei de forma brusca. A Bárbara atrás dele, como uma sombra. Todos em volta me olhavam assustados.

- Fica na paz, cara! - Ele se virou, parecia não querer se envolver em uma briga. Só parecia... Eu já estava um pouco mais calmo, arrependido de ter chegado suspendendo o cara, mas satisfeito por ter deixado claro que seus abusos não seriam permitidos. Olhei pra baixo, mas em questão de segundos ele se virou, com os cotovelos armados, senti o baque e caí de costas no chão. Uma gritaria entre os presentes, mas fiquei no chão, não tinha a intenção de revidar. Coloquei a mão na testa, onde doía. Sangue nas mãos.

- Leo, tá tudo bem? Tá sangrando bastante. O Mário é um idiota, vem eu te ajudo. - A Paula, uma das atrizes do elenco, falou baixinho, enquanto oferecia ajuda pra eu me levantar.

Eu levantei um pouco zonzo. Olhei pro Mário, ele ria.

- Sai daqui Leo. Vai procurar outra vagabunda pra defender. Pelo visto você é bom nisso. - Eu respirei fundo. Meu corpo se contraiu.

- Não revida, Leo. Olha a confusão que vai ficar a série. - Ela me pediu, estava assustada, segurou meus braços. Eu levantei as mãos, como um sinal para que ela me soltasse.

O AMOR DESPERTAOnde histórias criam vida. Descubra agora