O AMOR DESPERTA

14. ATOS FALHOS

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Ato falho: equívoco na fala ou em ações que está relacionado ao inconsciente. Através do ato falho, o desejo do inconsciente é realizado.
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Depois de tudo o que aconteceu, do beijo em cena, de dividir o mesmo quarto, estávamos cada vez mais a vontade um com o outro. Fazíamos tudo juntos: café da manhã, almoço, jantar. Mas nossa proximidade era um desgosto pro Mário, até bronca em conjunto levamos dele.

- Se vocês estão juntos, eu não quero saber, mas aqui, na minha série, não. - Ele falou sério conosco no dia seguinte ao incidente da cama. - De sacanagem no quarto? Vai sair em algum Instagram de fofoca, ofuscar o lançamento da minha produção e eu vou cobrar de vocês dois.

- Mário, primeiro respeita a Clarice. A gente não está junto, não fizemos nada do que tá pensando ontem. Somos só amigos! - O Leo explicou a situação com seriedade. - A gente estava brincando, pulando na cama e a cama quebrou. - Pela sua expressão vi que estava dando satisfação muito a contragosto. Não comentamos que havíamos ficado no mesmo quarto, para não piorar as coisas. - Nós dois sabemos das nossas responsabilidades.

- Você sabe da responsabilidade de um homem casado, Leonardo? - O Mário ironizou, dando uma gargalhada alta que me deu um aperto no peito. O jeito dele não era bom. - Brincando? Agora eu nasci ontem, Leo? - Vi os olhos do Leo se inflarem de raiva e com razão. Eu comecei a falar antes que os dois partissem para as vias de fato.

- Mário, nós já entendemos. Você me conhece há quanto tempo? Eu estou te dando a minha palavra de que não tem nada entre nós. Eu respeito muito o Leo e ele a mim, tá bom? Somos amigos e ponto final. Ele tem mulher e filhos pequenos, olha o que você tá falando. Se alguém escuta tuas desconfianças. - Eu me meti, minha voz tinha um tom indignado, mas eu mesma tinha dúvidas sobre aquelas palavras. O Mário ficou revirando os olhos com tom de deboche e virou as costas para nós. Depois entramos sozinhos na van em direção a gravação do dia.

- Ele tá morrendo de ciúmes de você. - O Leo concluiu na van.

- Quem? - Eu me surpreendi com a conclusão que ele tirou daquela história toda.

- O Mário. - Ele completou e fiquei em silêncio. Será? Me questionei mentalmente. - Eu vejo como ele te olha. - Fiquei pensativa. - Você tem interesse nele? - Ele me surpreendeu com essa pergunta.

- ah...ah...ah. Ele é é é um cara interessante, mas nunca pensei sobre isso. - Eu fiquei gaga de repente. - Mas pensando... não, não tenho. - Ele sorriu, mas ficou em silêncio. - Será? Você tá viajando, Leo. - Eu ri. - Eu sou amiga dele há anos, ele nunca demonstrou nada.

- Não tô, tenho certeza! - Ele afirmou e me perguntei como ele poderia ter tanta convicção. - Espero que essa discussão com ele não faça você se afastar de mim. - Ele falou, era quase um pedido.

- Fica tranquilo. - Respondi sem graça.

Eu não entendia muito bem suas intenções. Era mesmo o Mário que estava com ciúmes de mim? Ou era ele? Ele não podia estar. Como eu mesma disse ele era casado, tinha dois filhos pequenos e considerando essa circunstância, estávamos próximos até demais.

Ao mesmo tempo, depois daquela noite, primeira e única vez que dividimos a cama, eu senti que ele também precisava manter uma distância de segurança e por isso me afastava, deixando claro o respeito e amizade entre nós.

"A cama é sua, só sua."
"Somos só amigos!" - Ele repetia insistentemente.

Mas às vezes falava algumas coisas e me deixava em dúvida.

"Se a gente fizer amor..." - Ele ficou tão sem graça ao dizer isso, nem completou a frase. Eu não sou psicanalista, mas seria um ato falho?

Os dias foram passando, o elenco já estava integrado, as gravações iniciadas. Já tínhamos nos beijado centenas de vezes na frente da câmera, o que nos deixava mais confortáveis com isso. Meu coração disparava menos ao encostar nele e a quantidade de membros da equipe acompanhando a gravação ajudava muito. Quando estávamos em cena, era trabalho. Eu me obrigada a esquecer que o Leo ator era o homem por quem eu era apaixonada. Ali éramos a Marina e o Roberto.

Estava relativamente fácil, até que o roteiro da nossa primeira cena de sexo chegou. Foi entregue em mãos pela Babi, com o aviso de que a consultora de intimidade teria uma reunião conosco e acompanharia a gravação. Isso queria dizer que, haveriam cenas de nudez. Guardei o roteiro rapidamente na bolsa. Não queria passar pelo constrangimento lendo na frente do Leo.

Nem mesmo quando eu era uma menina de 18 anos eu tive medo ou vergonha de fazer cenas como estas e agora: o que estava acontecendo comigo?