20. CONFUSÃO

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A confusão toda que acontece dentro de mim é que a minha razão me manda ir embora, e meu coração não sabe se fica ou se vai com ela.
(Ana Carolina)
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Sentei em um banco de madeira no final da varanda da pousada, onde ninguém podia me ver. Deixei fluir, junto com minhas lágrimas, toda a mágoa, tristeza e confusão que eu estava guardando o fim de semana todo.

De tudo o que ele disse o pior foi escuta-lo falar da mulher, que sentia falta dela, que teve que ir vê-la. Nossa "amizade" tomou proporções perigosas e eu me sentia culpada por estar apaixonada por ele. Eu achei que seria fácil ser racional, deixar tudo no âmbito profissional, mas a realidade era muito diferente. Pensei ali em desistir de tudo, mas já tínhamos muito material gravado. Havia um contrato em jogo, a imprensa iria especular, o que poderia gerar um burburinho desnecessário em torno de mim, do Leo e da série.

Fui na recepção, pedi um quarto qualquer e me tranquei lá dentro. Mais tarde buscaria minhas coisas no quarto dele.

Não apareci na reunião de intimidade, mandei uma mensagem para a consultora, alegando que eu não me sentia bem. Alguns instantes depois, pipocaram mensagens no meu celular.

Independente de reunião quero gravar a cena do rio amanhã. Estou cansado de confusão nos meus bastidores? Fui claro? - Era o Mário.

- Grosso! Idiota!

Cici, a Joana disse que está se sentindo mal? Posso ajudar?

- Pode Leo, me esquece, por favor. - Eu falei comigo mesma.

Pra completar recebi um monte de mensagens da minha família.

Você vai mesmo deixar sua sobrinha sem colégio ano que vem? - Minha mãe com as suas cobranças.

Mana, a mamãe disse que você ia enviar o valor pra escola da Bruna. - Meu irmão, provavelmente se fazendo de desentendido. Sua especialidade.

Tia, a vovó falou que talvez eu tenha que sair da minha escola. É verdade? - Minha sobrinha.

- Ahhhhhh! - Eu gritei. - Quero sumir, será que é muito querer alguns minutos de paz?

Só respondi minha sobrinha, afinal ela era só uma criança de 8 anos sendo usada por adultos.

Não se preocupe com isso, meu amor! A titia está viajando a trabalho e quando eu voltar eu vou resolver, está bem? - Eu ia pagar o colégio pessoalmente, mas eu precisava pensar em um jeito de fazer o meu irmão me pagar estes valores. Não pelo dinheiro, mas ele estava abusando da minha boa vontade há anos. Eu precisava tomar as rédeas da minha vida.

Combinei com a Joana, consultora, que poderíamos falar a noite no meu quarto da pousada e 18h30 ela apareceu.

- Cici, a ideia do Mário para a cena é que os personagens façam amor no Rio. Eles brigam, ficam a pé as margens do rio, mas a paixão já existe dentro deles. Os dois não resistem a essa mistura de amor e raiva. Começa a chover, os dois se beijam, retiram a roupa um do outro lentamente. Corta a cena. O sol reaparece, era só uma chuva de verão. Os dois estão abraçados dentro do Rio, se beijando. - Ela foi descrevendo a cena que eu já havia lido no roteiro e eu só ficava mais apavorada. Eu não esbocei reações. - Cici, tudo bem? Você já tinha lido a cena no roteiro, certo? Posso seguir.

- É que... ah deixa pra lá. - Eu esbocei uma fala, mas nem eu mesma sabia o que eu queria falar.

- Fala, nós podemos trocar. Eu quero que vocês dois se sintam confortáveis, mas não vai ser nada demais também. Nada que você não tenha feito em trabalhos anteriores. - Para ela parecia muito simples, quase uma reunião para cumprir tabela.

- Eu vou ter que ficar nua no rio? - Ela estranhou minha pergunta. Tentou disfarçar, mas com certeza estranhou. Eu era uma atriz experiente, ficar nua em cena era algo que eu não banalizava, mas já tinha feito.

- Sim, mas foi algo que o Mário negociou com você, certo? Se não negociou eu peço desculpas, mas vamos ter que dar um passo atrás...

- Negociou, é que... é o que eu falei: deixa pra lá.

- Não, de jeito nenhum. Como eu falei pro Leo mais cedo, só vou fazer o que se sentirem confortáveis.

- Ele também está desconfortável? - Eu perguntei sem pensar. Quando percebi as palavras já tinham saído da minha boca.

- Gente, o que está acontecendo com vocês dois? - Ela ficou um pouco irritada e logo depois tentou se conter. - Vou conversar com o Mário. Eu achei que íamos definir aqui quais toques eram "permitidos" ou não e como vocês ficariam mais seguros e não se iam ou não ficar nus em cena. Agora os dois estão dando pra trás. Pra mim isso já estava muito claro no roteiro. Se não estava eu peço desculpas, mas... - Então o Leo também estava desconfortável? Me arrependi amargamente de não ter tido curiosidade de saber quem era o elenco antes de assinar o maldito contrato.

- Não, eu que peço desculpas Jo, estava muito claro no roteiro. Não fala com o Mário, por favor, pode gerar mais atraso nas gravações e te garanto que sem necessidade. Estava em contrato e eu assinei. Pode seguir. - Ela me olhou desconfiada. Eu racionalizei por alguns instantes. Me lembrei da cláusula milionária que assinei somente por esta cena. Não dava para voltar atrás agora, mesmo que eu quisesse.

- Tudo bem. - Ela ficou pensativa. - Mas olha, eu tenho uma solução que eu acho que você vai gostar.

- Me conta.

- Você pode usar uma blusa branca, sem sutiã. Quando molhar vai aparecer um pouco o seu seio. Acho que dá uma sensualidade pra cena, sem te expor demais.

- Eu topo. - Eu respondi um tanto afobada. Era melhor do que ter que ficar 4 horas nua perto dele.

- Leo, sem camisa e short marfim e você de tapa sexo embaixo, por causa da cena na areia. Podemos seguir assim?

- Podemos. - Eu respondi, quando na verdade a primeira expressão que veio a minha mente foi "Em que merda eu fui me meter?"

- Fica tranquila Cici, você sabe o quanto eu sou cuidadosa com meus atores.

Tranquila. Tranquila. Tranquila. Tentei mentalizar.

O AMOR DESPERTAOnde histórias criam vida. Descubra agora