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Preferi sempre a loucura das paixões à sabedoria da indiferença.
(Anatole France)
♥️O Mário e a Babi nos reuniram em um pequeno acampamento no meio do nada. Só tinha uma tenda grande montada no chão de terra batido, dois containers com banheiros e camarins e atores e equipe querendo fazer dar certo.
- Estão sentindo o calor? Respirem fundo esse ar pesado. Todos estão proibidos de tomar água a partir de agora. - A Bárbara ordenou. - Quero que vocês sintam o peso da seca. O estresse que a falta de água causa no corpo.
Nesse momento eu comecei a sentir o calor sob a pele da minha personagem, que não estava acostumada a um espaço de desconforto, mas que mesmo assim tinha aceitado o desafio como uma missão nobre de vida e intrínseca a profissão, salvar vidas nordestinas através da medicina. A sensação era vontade de chorar, de desistir, de voltar pro aconchego, mas a casa dela era um lugar de muita dor, de perdas. Minha pele coçava, molhada e grudando nas minhas roupas.
O Leo ao meu lado, já posicionado com sua máquina fotográfica. Eu sentia nele outra postura, do aventureiro, justiceiro social. Os trejeitos e postura eram do personagem agora.
A Bárbara chamou nós dois para a primeira cena.
- Nessa primeira passada de cena nós vamos moldar o entrosamento entre os personagens. Primeiro a médica e o fotógrafo. O Roberto e a Marina são de mundos completamente diferentes. Ela mimada, mas carrega uma tristeza profunda atrás de um sorriso fácil. Ele um grosseirão que já viu muitas coisas tristes pelo caminho. Os primeiros encontros desses dois serão conflituosos, mas de imediato vão ter química, troca de olhares. - Ela começou falando de como seriam as primeiras cenas dos nossos personagens.
- Prontos, vamos fazer a leitura primeiro e depois vocês partem pra cena, ok? - O Mário interferiu.
Assim nós fizemos. Terminada a leitura, o ensaio começou. O conflito seria gerado porque a médica esbarra no rapaz, fazendo sua máquina fotográfica cair. Ele aguardava pra ser atendido em um posto de saúde distante devido a uma intoxicação alimentar, mas não tinha ciência de que a minha personagem era a médica que iria atendê-lo. Esbarrei nele, distraída e sorrindo sem motivos. A máquina caiu entre nós, ele olhou para o chão incrédulo.
- Eii, olha o que você fez! - Ele tinha um ar bravo, indignado. - Você tem que prestar atenção no ambiente a sua volta... - Me olhou de cima abaixo. - Você não está mais no Leblon. - O sorriso da personagem se dissipou. Eu abaixei tentando juntar os cacos imaginários da câmera.
- Desculpa, eu não te vi. Será que tem conserto? Eu levo pra você. - Minha voz era suave, culpada. A Marina, no primeiro momento, ia ignorar a grosseria do Roberto. Mantivemos o contato visual. Eu com a câmera nas mãos.
- Acha que dinheiro resolve tudo, garota? - Ele aumentou o tom de voz.
- Peraí, não coloque palavras na minha boca. Eu só tô tentando ajudar... - Minha voz ficou mais fina, conforme a indignação aumentava.
- Ajudar? Essa é boa. - Ele soltou uma gargalhada irônica.
- Grosseirão! - Enfiei a câmera nas mãos dele com violência e virei as costas. Mário nos interrompeu.
- Quero mais irritação em você Cici! Tem que estar mais inflada. O calor, o ambiente desconhecido, os desafios da medicina vão te deixar a flor da pele. - Ele me orientou, empolgado.
- Mario e Babi, o ideal seria repetir a cena com outro ator no meu lugar, para eu ver o que posso sugerir... - Leo pediu e os dois acataram de imediato.
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O AMOR DESPERTA
RomanceO amor desperta ♥️ Catarse. Lembranças. Medo. Alegria. Pânico. Felicidade. Insegurança. Companheirismo. Ciúmes. Vontades. Desejos. O amor desperta sensações que há muito tempo estavam adormecidas. Clarice Muller, ou Cici Muller como é conhecida, é...