17. ANSIEDADE

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Amor é quando a paixão não tem outro compromisso marcado. Ansiedade é quando sempre faltam muitos minutos para o que quer que seja.
(Adriana Falcão)
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Acordei com as crianças chamando pela mãe. Ela não respondeu. Vi que passava em direção da cozinha. Cara emburrada. A segui com o olhar, ainda grogue de sono. Pegou uma taça no armário. Levantei correndo para tirar da mão dela.

- Vai se fuder, Leo! Me deixa. - Ela me xingou. Respirei fundo.

- Tininha, Bento. Esperem o papai lá dentro. Eu já vou brincar com vocês. - Eu pedi. Os dois hesitaram. - Tô pedindo que vocês obedeçam. O papai vai conversar com a mamãe. - Eles obedeceram, mas tinham uma expressão triste.

- Não fala assim comigo, ainda mais na frente das crianças. - Eu me voltei pra ela assim que os vi sumir de vista no corredor.

- Eu falo com você do jeito que eu quiser! - Ela levantou a voz pra mim, apontando o dedo na minha cara. - A piranha da Clarice não te deu o recado? Não é pra você voltar pra essa casa. Cansei!

- A Cici não é garota de recados! Ridículo você ir falar com ela, ofender, envolvê-la nas nossas brigas. - Eu me irritei também. - Eu vim aqui para tentarmos conversar civilizadamente, pela Martina e pelo Bento, mas vejo que não dá.

- A Cici. A Cici. A Cici. - Ela debochou. - Ela nunca vai te querer. Você é um ator fracassado, pra sempre ofuscado pelo brilho dos seus pais e da sua família. Ninguém te conhece, Leo. - Ela sabia como me magoar. Talvez eu fosse mesmo, mas ela era minha mulher e companheirismo nunca foi nosso forte como casal.

- Talvez eu seja mesmo, um fracassado. Devia ter visto isso antes de casar comigo. Afinal ninguém te obrigou. - Eu fiquei no caminho dela, impedindo que chegasse até o bar.

- Foi o maior erro da minha vida! Ter arrumado filho. Gêmeos ainda, e ter casado com você. Podia ter deixado os dois aqui e ter sumido. Eu seria muito mais feliz. - Ela desabafou e eu fiquei em choque.

- Cala a boca, Amanda! Se eles escutarem uma barbaridade dessas eu perco a cabeça com você. - Eu ameacei, sem ter muita certeza do que eu estava fazendo. Ela partiu pra cima de mim.

- Vai, bate! - Começou a bater no próprio rosto. O rosto próximo do meu. - Bate aqui! Você é um fraco, sem coragem. Sem pulso. - Ficou empurrando meu peito e eu contendo ela pelos pulsos. Ela se debatendo. - Vaza daqui, Leonardo! Pega suas coisas e some. Nunca mais quero te ver.

- Eu não faço questão de voltar pra cá, se quer saber, mas vou levar meus filhos! - Fui em direção ao nosso quarto, ela atrás de mim. Comecei a jogar todas as roupas que eu via pela frente dentro das malas. Eu ia levar tudo o que era meu, nunca mais eu voltaria ali.

- Papai! Papai! Não vai embora. - As crianças entraram atrás de nós, desesperados, chorando.

- Você não é nem louco. Eu te denuncio por sequestro. Saí daqui agora ou eu vou começar a gritar. - Fomos interrompidos pela Claudia.

- O que tá acontecendo aqui gente? - Ela perguntou.

- O Leonardo está abandonando a família dele! - A Amanda continuou com a loucura dela. Eu sentia o suor escorrendo pelo meu corpo. Meu rosto estava fervendo de raiva.

- Amanda, você é louca? - Me voltei pras crianças. - O papai não tá abandonando ninguém, tá bom? É uma briga, eu vou voltar pro trabalho e quando tudo estiver mais calmo eu volto pra conversar com vocês, tá bem? Eu amo vocês dois. - Eles me abraçaram, chorando.

- É aquela Clarice, Leonardo? - Minha sogra questionou. Ela não ia aliviar a situação. Da primeira vez que a Amanda me expulsou foi por causa de uma briga com ela.

- Vocês duas não tem moral nenhuma pra falar da Cici. - Eu cansei de ouvi-las falar mal dela. - Vou contratar uma pessoa pra ficar com as crianças aqui 24h por dia. Tô vendo que vocês não tem condição nenhuma de cuidar deles. Depois vou pedir a guarda. Estou avisando. - As crianças gritavam atrás de mim, desesperadas.

- Pede. Pede. Quero ver seu babaca! Você sabe que não pode tirar eles de mim. - Virei as costas pra sair em meio ao choro e fazendo promessas de que eu nunca os abandonaria.

- Leva tudo seu, aquela merda de bicicleta também. - Ela gritou. - Não quero ver nada seu na minha casa, nunca mais.

Arrastei as malas até a porta e voltei para recolher mais algumas roupas, objetos e a bicicleta. Em poucos minutos eu estava cercado de tralhas no corredor, escutando o grito das crianças dentro de casa.

Enfiei toda a minha vida no carro e fui novamente para o aeroporto, um tanto sem rumo. Meu voo era as 9h do dia seguinte, domingo. Rodei pelos corredores, fiz o check-in e entrei. Vi as milhões de mensagens e ligações da Cici no meu celular, mas eu não tinha condições emocionais de respondê-la naquele momento. Queria falar pessoalmente. Estava doido pra voltar para aquele quarto simples de pousada.

Fiquei horas e horas entre cafés, restaurantes e por fim me acomodei em alguns bancos e dormi.
No dia seguinte peguei um voo em direção a Recife, atrasado pro meu desgosto, e cheguei somente no final da tarde. Aluguei um carro e dirigi por 5h até Sertânia, mesmo cansado tinha muita pressa de encontrá-la. Ansiedade foi tomando conta de mim. Quando cheguei, por volta de 1h da manhã, ela estava dormindo. Tomei um banho, acomodei minhas malas e arrumei o fino colchão no chão. Eu estava em pé, mexendo na mesinha de cabeceira quando ela acordou sonolenta com a movimentação. Olhou pra mim e sorriu.

- Que bom que chegou. Estava preocupada. - Eu sorri também. - Veio como?

- De carro, dirigindo, to quebrado.

- Deita aqui! - Ela apontou a cama e virou pro outro lado. Eu obedeci, minhas costas agradeceriam.

- Descansa. - Fiz um carinho nos cabelos loiros escuros e dei um beijinho na sua cabeça.

O AMOR DESPERTAOnde histórias criam vida. Descubra agora