26. DEFESA

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Que Deus me defenda dos amigos, que dos inimigos me defendo eu.
(Jean Hérault de Gourville)
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Meu pesadelo se concretizou. Pela primeira vez eu estava envolvida em uma polêmica e da pior forma possível. Minhas mãos tremiam. Eu não sabia o que fazer. Quatro pessoas me ligavam ao mesmo tempo. Era tão óbvio o envolvimento do Mário naquilo. Eu senti vontade de me esconder. As pessoas falavam comigo e eu não escutava. Me olhavam incrédulas.

- Me deixem em paz! - Foi o que eu consegui dizer antes de sair correndo em direção as vielas que me levariam de volta até a pousada.

O caminho era estreito e escuro. Senti que alguém me seguia. Hesitei em olhar para trás, meu corpo tremia, enquanto meus passos faziam barulho pelo caminho de pedra.

- Leo? - Pensei que ele poderia estar atrás de mim para conversarmos, mas fui surpreendida e meu pesadelo começou. Alguém tapou minha boca e começou a lamber minha orelha. Eu me debati nervosa, tentando gritar.

- Não é o Leo, piranhinha! - Eu escutei a voz do Mário e senti muito, mas muito nojo.

- Me...solta..., Mário.... V.. Gritar. - Eu tentei dizer, mas sua mão tampava minha boca e continha minha respiração. As lágrimas escorriam pela meu rosto.

- Gostou do vídeozinho no camarim? Eu tenho talento. - Eu tentava me debater, mas ele era muito mais forte que eu. O desespero foi tomando conta de mim. Eu olhava para os lados, não vinha ninguém. A rua estava totalmente escura e deserta. - Agora é minha vez! - Em uma distração eu consegui morder o dedo dele com força.

- Aíii, vadia!

- Socorro! - Eu gritei, mas ele me cercou de novo, me deixando entre uma parede e seu corpo nojento. - Me solta, Mário. Me solta! - Eu implorei chorando, enquanto ele rasgava meu vestido e me beijava a força.

De repente eu ouvi um barulho de carro se aproximando e freando. O Mário se assustou e se afastou, cruzou a rua desnorteado. Tudo aconteceu muito rápido. Fiquei desorientada e imóvel, mas vi o Mário voar longe e o barulho de metal amassando.

- Seu velho nojento! Agora você vai aprender a nunca mais abusar de mulher nenhuma. - Escutei os gritos do Leo ainda dentro do carro e me assustei.

- Meu amor! Eu tô aqui. Me desculpa. Você se machucou? - Ele desceu e um alívio tomou conta de mim. Ele me segurou delicadamente, me ajudando a arrumar um pouco a roupa, se é que isso era possível. - Eu sinto tanto. Eu não podia ter deixado você sozinha. Foi culpa minha. Foi culpa minha. Minha culpa. Me perdoa.

Eu não conseguia responder, só chorar. Vi o Mário agonizando ali do lado. Ele estava gemendo, cheio de dor, mas nenhum de nós dois demonstrou compaixão. Nos abraçamos e eu fiquei chorando no ombro dele. Depois ele me guiou até o carro, abrindo a porta para que eu entrasse. Ele respirou fundo e ligou pra ambulância e depois arrancamos com o carro.

- Você atropelou ele, Leo. - Eu constatei, assustada.

- Eu fiquei louco quando vi ele em cima de você. Perdi a cabeça.

- Eu tô com tanto medo.

- Não pensa nisso agora. - Ele tentou me tranquilizar. - Vamos pra pousada. Amanhã de manhã vamos embora desse pesadelo.

Na pousada e eu senti muita vergonha por me virem naquele estado. Todos nos olharam assustados, mas o Leo interrompeu as perguntas de imediato e fomos direto para o meu quarto.

Eu estava apática. Ele me ajudou a tirar a roupa devagar e entrar no banho. Meu corpo todo doía e eu só conseguia chorar. Mesmo se molhando todo ele lavou meus cabelos, passou a esponja nas minhas costas e quanto eu perdia a força nas pernas, ele me segurava. Por fim eu me deitei na cama, encolhida. Eu estava mais calma. Ele ficou sentado na lateral da cama, me olhando e segurando minha mão.

- Você tem que denunciar! Não quero te deixar mais nervosa agora, mas você precisa tomar uma atitude. - Ele falou.

- Me abraça? - Eu pedi. Eu não queria sair daquele quarto. Não queria ter que me expor e reviver o que aconteceu para explicar para a polícia.

Ele tirou a camisa toda molhada e deitou na cama, me puxando pra perto dele. Eu sentia sua respiração calma no meu pescoço e me senti segura nos braços dele. Me virei pra ele, acariciei seu rosto e sua barba.

- Obrigada! Se você não tivesse chegado ele iria até o fim. - Minha voz embargou.

- Não quero nem pensar nisso! Quando eu vi ele em cima de você eu fiquei com tanto, mas tanto ódio. Eu perdi a cabeça, fiquei cego. Tô me sentindo tão culpado. Eu devia ter ficado perto de você o tempo todo.

- Leo, não foi culpa sua, você não pode me proteger de tudo, você me chamou pra ir embora com você e eu não quis. - Eu conclui triste. - Além do mais, graças a você e a Deus, que te colocou no caminho certo naquela hora, não aconteceu nada pior.

- Eu sabia que ele era assim. Ele já tinha feito com outra pessoa. Eu sabia que ele era um abusador e deixei você sozinha perto dele.

- Quem? - Eu perguntei incrédula.

- A Bárbara. Não conta pra ninguém, mas era por isso que eu abracei ela e estava tentando animá-la na festa. - Ele explicou e eu percebi o quanto eu fui injusta. Fiquei com vergonha pelo meu ciúmes e me senti tão mal por ela.

- Eu nunca iria imaginar. Me desculpa por ter sido uma tola e por ter ficado com ciúmes. - Ele riu um pouco sem graça. - Essa situação só deveria fazer eu te admirar mais, por ser um bom amigo, mas eu nem deixei você explicar. Desculpa!

- Agora você assume?

- Uhum. Você sabe que eu estava morrendo de ciúmes.

- Eu gostei. Eu assumo. E esse ciúmes todo que estamos sentindo fez com que a gente se beijasse no rio e fizesse amor no camarim.

Eu ri, aquela era a minha melhor lembrança agora. Não respondi, fiquei quietinha com o rosto afundado no pescoço dele, me embriagando em seu cheiro. Eu fechei os olhos e dormi por alguns segundos, mas de repente as terríveis lembranças do luau voltaram e eu acordei assustada, chorando e lembrando das mãos nojentas e do cheiro do Mário.

- Calma, amor, eu tô aqui. - O Leo tentou me tranquilizar. - Pode dormir tranquila. - Ele me deu um beijinho na testa, ficou roçando os lábios no meu rosto e isso me despertava emoções tão boas.

- Faz amor comigo? - Eu pedi e ele se assustou um pouco com o pedido.

- Você precisa descansar. Não é por isso que eu tô aqui, tá bom? - A voz dele era doce. Ele me puxou pra mais perto e me beijou. Depois parou.

- Eu sei, mas eu quero sentir você, pra esquecer as mãos dele em mim, o cheiro... - Eu falei com nojo.

- Eu sinto muito.

A gente ficou se olhando, ele deu vários selinhos da minha boca e ficou me fazendo cócegas com a barba. Eu comecei a rir, involuntariamente e ele começou a acariciar meu corpo e me puxar pra mais perto, mas quando eu queria beijá-lo de verdade ou colocar a mão embaixo de seu short em uma tentativa de trazê-lo pra mim, ele se esquivava e segurava minha mão, brincando.

- Vai me fazer implorar? - Eu perguntei, ficando séria de brincadeira.

- Óbvio que não! - Ele ficou sério de verdade. Levantou, tirou o short e a cueca, revelando o quanto ele também queria. Fiquei olhando fixamente pra ele, enquanto ele vinha na minha direção. Me recostei na cama, levantei os braços delicadamente para que ele puxasse minha camisola. - Fico feliz que o meu toque... que o meu amor te faça sentir melhor.

- Não devia, mas faz. Faz eu me sentir muito melhor.

Ele beijou minha boca e meu corpo com cuidado e aquele amor silencioso foi substituindo todas as lembranças dolorosas.

O AMOR DESPERTAOnde histórias criam vida. Descubra agora