8. DECEPÇÕES

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Decepção é o preço que se paga por amar demais, se importar demais, sentir demais e confiar demais.
(Renato Russo)
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Saí atrapalhada com minha mala pelas escadas. O voo da equipe para Recife era às 11h no galeão e eu estava saindo 8h40 de casa, ou seja, com muitas chances de perdê-lo. De lá ainda teríamos uma viagem de no mínimo 5h de carro até a pequena cidade de Sertânia, onde gravaríamos a maioria das cenas da série.

- Miauuu. - Minha gata preta e manhosa veio roçando na minha perna. Ela queria comida e que eu abrisse a porta para que ela fosse para o quintal.

- Margot, a mamãe vai sair. Você tem que se comportar, não pode sair por aí e não voltar. Ouviu? - Eu disse com voz fofinha, como se ela me entendesse, enquanto servia um gosmento sachê para ela. O cheiro era horrível, mas ela pareceu se deliciar.

Abri uma greta da porta de vidro imensa que dava para a piscina. Pensei em quanto tempo eu não pisava naquela varanda. No último mês eu estava me preparando pra viajar e perdi as contas de quantos eventos fui, de publicidades feitas e saídas com os amigos. Senti um estranho vazio, um aperto no peito.

Recebi uma mensagem no grupo criado pelo Mário para a equipe da série. Todos já estavam a caminho, inclusive o Leo. Pensei no improviso. Ele se lembrava daquela noite no teatro, como eu, com detalhes. O que isso queria dizer? Agora, por causa do grupo, eu tinha o número dele. Podia perguntar. Não! Não, Clarice! Casado. Casado. Casadíssimo. Balancei a cabeça como se quisesse me livrar daqueles pensamentos. De repente me lembrei que estava atrasada e pedi meu uber pelo celular.

- Bom dia, dona Clarice. - A Neide, senhora que trabalhava na minha casa, me cumprimentou.

- Oi Neide! Ainda bem que você chegou. Que alívio. Agora para com esse negócio de dona. Você tá comigo há 5 anos já. - Eu dei uma gargalhada.

- Aii dona Clarice, é costume. - Ela riu, tímida.

- Eu sei, eu sei, mas já te disse que não precisa. É Cici, só Cici. Você me conhece mais do que todo mundo. - Eu sorri pra ela. - Olha, já pedi o uber, mas estava preocupada de deixar a Margot aqui sem falar com você antes. É só deixar comida seca todo dia, sachê pela manhã e água sempre abastecida na fonte. Quando for embora só garante que ela está trancada em casa. E se algum dia quiser ficar aqui, pode ficar, a casa é sua!

- Ahh, obrigada dona... - desculpa. - Cici. - Ela riu. - Um dia eu me acostumo.

- Por que não traz sua filha um dia pra curtir a piscina? Só ela eu não me importo. - Pisquei o olho e fui saindo na porta. - Essa piscina tá com saudade de sentir que alguém se importa com ela.

Entrei no carro, 9h10, meu telefone tocando. Era a Laura.

- Cici, tá indo pro aeroporto? Aquela marca de cosméticos, que quer te contratar como embaixadora, queria falar hoje às 16h. Alguma chance de ter internet nesse horário? - Ela desandou a falar. O motorista sorriu pelo espelho retrovisor, parecia estar me reconhecendo.

- Nenhuma chance Laurinha. Você esqueceu que eu tô indo pra Sertânia, um lugar no fim do mundo? Esse mês o contato vai ser difícil, eu pedi pra adiantar tudo, não pedi? - Eu falei séria.

- Ta bom, ta bom. Você sabe que isso surgiu ontem né?

- Eu sei, mas não dá, a prioridade agora é a série. Chegando e tendo certeza da qualidade da internet e da agenda de gravações eu peço pra Cami te ligar. - Cami era minha assistente, ela que organizava agenda, compromissos, vida profissional e pessoal.

- Falar nela, está louca atrás de você. Sua mãe está ligando pra ela de 5 em 5 minutos. Eu sei como é sua mãe, mas parece ser importante. Ela até me ligou também. - Eu revirei os olhos. Provavelmente minha mãe estava ligando pra pedir alguma coisa. Talvez dinheiro.

O AMOR DESPERTAOnde histórias criam vida. Descubra agora