15. ORGULHO, NÃO DESGOSTO!

30 4 0
                                    

💔
Só se deve beber por gosto: beber por desgosto é uma cretinice.
(Mario Quintana)
💔

Quando eu subi naquele avião rumo a Recife, jamais poderia imaginar que vinte dias inofensivos de viagem poderiam causar tamanha bagunça na minha vida. Meu país nordeste, o que tu me reservas?

Cici grudada em mim 24h por dia e eu nela, admito. Era um sonho, mas não me permitia pensar com clareza. Motivo: completamente embriagado pela seu perfume e pelo seu jeito.

Intrigas patéticas com o Mário, pois ele não conseguia aceitar o fato de que eu e a Clarice somos próximos. Ele começou a me boicotar. Depois do primeiro episódio, nunca mais deixou que eu dirigisse e me criticava veemente como ator. Eu batia de frente e o clima no set se tornou pesado. Eu, inseguro, comecei a questionar meu trabalho, pois a série tomou um rumo que não entregava a qualidade que esperávamos inicialmente.

Zero contato com meus filhos. A Amanda me isolou como punição por eu não ter cedido àquela chantagem ridícula. Liguei mais de cinquenta vezes todos os dias, inclusive para a mãe dela e nada.

Os dois últimos fatos me colocaram sob constante pressão e estresse. Meu peito vivia apertado e em alguns momentos parece que eu ia perder o ar. Até que finalmente o fim de semana de folga chegou. Na sexta-feira mesmo arrumei minhas coisas e sem pensar muito voltei pro Rio. Todo o restante do elenco, incluindo a Cici, ficou em Sertânia. Era exaustivo voltar só por um dia, mas no meu caso necessário.

Desembarquei no aeroporto internacional no sábado ao amanhecer. Meu carro estava no estacionamento e não precisei esperar para ir pra casa. Sentei ao volante e depois de muito trânsito cheguei, mas por motivos que até eu desconheço, fiquei uns dez minutos parado em frente à porta, olhando pra plaquinha do apartamento 202. Ali estava escrito "Lar doce lar da Martina e do Bento". Foi pintada à mão por eles.

"Doce lar".

Eu me senti um hipócrita quando pendurei aquilo ali. Agora mais ainda. Eles insistiram tanto que cedi. Dei um sorriso irônico. Tentei abrir a porta com a minha chave. Nada. Estranhei. Toquei a campainha. Eu não estava acreditando que ela tinha trocado a fechadura. Devia estar emperrada. Toquei novamente. Abriram.

- Oi papai! Eu tava com tanta saudade. - A Martina me recebeu e eu sorri, emocionado.

- Eu também estava, minha princesa. - Minha voz embargou. - O papai te ama tanto.

Dei um abraço gostoso nela, puxando a pequena para os meus braços e logo depois o Bento se juntou a nós. Eu dei uma fungada, tentando conter às lágrimas na frente deles.

- Tá triste, papai? - Ela perguntou preocupada, enquanto o Bento, agitado, já tentava se livrar do nosso abraço em conjunto. Eu ri, aquele momento representava claramente a personalidade dos dois. Ela calma, carinhosa e sempre atenta ao mundo a sua volta. Ele o furacão, que tem pressa de aproveitar a vida.

- Papai, ainda bem que você chegou. Não vai embora, brinca com a gente? - O Bento pediu.

- Cadê a mamãe e a vovó? - Eu perguntei estranhando a ausência delas.

- A vovó foi sair. - Martina me respondeu.

- E a mamãe? - Perguntei preocupado.

Eu com certeza não seria bem recebido por ela. Talvez ela nem me deixasse entrar depois da nossa última discussão. Os dois me puxaram até o quarto. Logo na entrada pisei em uma garrafinha pequena de whisky. Quando olhei nosso quarto não acreditei. Garrafas e garrafas espalhadas, roupas, guimbas de cigarro, pacotes vazios de salgadinho, restos de comida. O quarto fedia a vômito. Roupas minhas queimadas com cigarro dentro do guarda-roupa. Eu fiquei sem reação, os dois pequenos me olhavam assustados. Nem posso dizer que a Amanda dormia, ela estava apagada na cama.

O AMOR DESPERTAOnde histórias criam vida. Descubra agora