28. COMPANHEIRISMO

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Para mim, atualmente, companheirismo e lealdade são sinônimos de felicidade.
(Caio Fernando Abreu)
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Desembarquei um tanto sem rumo, como uma folha solta no curso de um rio agitado. Deixei um bilhete dolorido demais. Abri mão da série, rasguei o contrato e mandei entregar no quarto da Bárbara com um post-it escrito "Sinto muito". Minhas palavras tinham um duplo sentido que talvez ela não entendesse naquele momento.

Agora que eu e Leo havíamos deixado a série, eu precisava voltar e lidar com todos os traumas e mudanças que aquele projeto trouxe para a minha vida, além de dos problemas e cobranças da minha família e de toda exposição na mídia.

O mais dolorido na verdade era ficar longe dele. A nossa conversa no camarim, a noite de horror no luau só deixou óbvio o sentimento que compartilhávamos e há tanto tempo... mas do que adiantava ter certeza do amor dele? Eu não podia me aproximar. Ele tinha uma vida, uma família, os filhos tão amados. Eu não era aquela pessoa que estavam expondo na internet. Eu não queria ser o motivo da separação de ninguém.

Já era tarde, meia-noite. Parecia loucura, mas eu usava óculos escuros e um cachecol pesado no calor do Rio de Janeiro. Olhava o tempo todo para os lados enquanto arrastava minha mala até o carro. Parecia que eu carregava o peso árduo da minha vida ali, naquela mala, e ao mesmo tempo precisava andar rápido para tentar fugir de atenções indesejadas.

O estacionamento estava escuro e vazio. Me senti sozinha no mundo. Um calafrio percorreu minha espinha. Abri a porta traseira do meu carro e joguei a mala ali mesmo. Vi um homem no carro ao lado, ele batia a cabeça insistentemente no volante e até lembrava um pouco o Leo.

Bobagem. Eu já estava tendo alucinações com esse homem.

Sacudi a cabeça e entrei rápido no carro. Virei a chave. Nada. Virei mais uma vez. Nada. Meus olhos se encheram de lágrimas. Raiva, misturada com frustração e tristeza. Tentei mais dez. Vinte vezes. Alguém bateu forte no vidro.

- Clarice! Você vai afogar o carro. - Achei estranho a pessoa ter me reconhecido naquela escuridão e com o meu aparato. Com certeza era um paparazi. Fiquei com medo, meu coração disparou, não abri o vidro. Continuei tentando ligar o carro, que fez um barulho estranho e afogou. Comecei a chorar, desesperada.

- Droga! Droga! Droga! - Eu resmunguei, mas eu nem respirava direito. Como eu ia sair dali com aquele homem do lado de fora?

- Eu te avisei! - O homem ficou acenando na frente do meu vidro e percebi que era o Leo. Respirei fundo, soltando o ar pela primeira vez em cinco minutos. Desci do carro, ainda chorando.

- Por que não disse logo que era você? - Eu perguntei com raiva.

- Achei que você tinha me visto. Desculpa. - Ele estava me olhando curioso. - Você não sabe que não pode insistir para ligar? Era só bateria, agora pode ter prejudicado a injeção eletrônica. Viu o barulho que fez?

- Eu sei disso, mas eu estava com medo. Esqueceu que um homem desconhecido ficou socando meu vidro? - Minha voz embargou enquanto eu terminava a frase.

- Tá chorando? - Ele percebeu e se aproximou.

- Não tô. - Minha voz me denunciou.

- Então tira o óculos e isso. - Ele me desafiou, segurando delicadamente o cachecol para me ajudar a tirar. - Não sei se percebeu, mas estamos no verão e são meia-noite. - Ele brincou e eu tive vontade de espernear por ele estar me ironizando.

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⏰ Última atualização: May 13 ⏰

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