3. TIMIDEZ

33 2 0
                                    

❤️
Eu te amo.
Ela sorriu, tímida.
- Você me ama?
- Não.
Respondeu ele sorrindo.
Todos os que amo vão embora.
- Eu não suportaria te ver partir.
(Caio Fernando Abreu)
❤️

Estávamos os dois largados nas cadeiras do teatro, sem nenhuma comunicação com o mundo lá fora. Nos olhávamos sem saber o que fazer. Por que ele me encarava?

Se fosse qualquer outro homem, exceto os da minha família, acho que eu teria medo de passar uma noite ali na completa escuridão e isolamento. Com o Leo, não sei explicar o motivo já que o conheci pessoalmente naquele dia, eu me sentia segura.

- Tô com fome! - Eu falei desanimada.

- Eu tenho uma ideia! - Olhei para ele curiosa. O que ele ia fazer pra conseguir comida? Tinha que ser a melhor ideia do mundo.

- Por que não atacamos a lojinha de guloseimas da bilheteria? Eu ainda tenho cartão de crédito. Não seria um calote e mesmo que fosse, podemos pagar amanhã quando abrir. - Ele sugeriu e eu ri.

Ficamos sentados no chão, encostados no balcão da loja, falando amenidades. Há tempos eu não tinha uma noite como aquela. Eu me diverti muito.

Em algum momento, me deitei no peito dele. Ele começou a cantarolar uma música antiga e eu dormi. Não sei ao certo como aconteceu, não posso dizer que era adequado, mas acordamos abraçados. Muito próximos e praticamente ao mesmo tempo, então não consegui me afastar e evitar o constrangimento de termos dormido daquela forma. Sentei rapidamente assim que percebi.

- Desculpa! Não sei como isso aconteceu. - Eu disse tímida. Ele também se sentou e ficou me encarando, estava vermelho, parecia querer dizer algo.

- Ahnn seu vestido está...ahn...aparecendo... - De repente percebi que um dos meus seios estava a mostra, exposto pelo maldito vestido preto de cetim que eu usei sem sutiã no dia anterior. Naquele momento eu abominei quem inventou essa moda. Me cobri rapidamente.

- Desculpa, desculpa! - Eu corei ainda mais.

Será que aquela situação poderia ficar pior? Ele é casado e nós dois, pessoas públicas. Se alguém nos pegasse naquela situação, estávamos ferrados. Ahhh, além disso eu sou casada também.

Por um momento me esqueci, o André estava tão distante. Corria o risco de nem ao menos perceber que eu não havia dormido em casa.

Mas a questão é: nós éramos no mínimo loucos e um pouco sortudos por poder guardar aquele momento só pra nós.

- Não precisa se desculpar, não foi culpa sua. Eu também te abracei. - Ele falou. Parecia sem graça e mudou de assunto rapidamente. Nós estávamos mestres nisso.

- Você tá de carro? Como vai pra casa? - Ele me perguntou.

- Vim de uber, vou voltar também. - Eu o tranquilizei.

- Você mora aonde?

- Na Gávea.

- Eu te dou carona.

- Não precisa, juro. Não quero dar trabalho. - Eu hesitei.

- Não é trabalho nenhum. É muito pertinho.

Ficamos sentados em silêncio até a chegada do funcionário do teatro para nos libertar e para pagarmos o prejuízo dado a lojinhas de guloseimas. Nenhum dos dois ousou dizer uma palavra até a minha casa. Agradeci a companhia, a carona e desci do carro. Antes de fechar a porta, ouço ele me chamar.

- Moça! - Me virei, ele pegou na minha mão. Queria dizer algo. Hesitou por uns segundos. -
Eu...foi...Foi um presente te conhecer melhor!

Eu sorri pra ele e fui embora. Também foi um presente pra mim. Não trocamos telefones. Só seguimos.

O AMOR DESPERTAOnde histórias criam vida. Descubra agora