1 - Becky

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— Ok pessoal, obrigado por hoje!

Palmas irrompem o set quando o diretor anuncia o fim das gravações do dia. As filmagens para o primeiro episódio de GAP the Series acabam de se concretizar, o que significa o começo de um sonho para todos. Quando aceitei atuar como Mon, sabia que enfrentaria grandes desafios, mas me sinto feliz em participar de algo pioneiro na história da Tailândia.

Após os aplausos, a equipe começa a se dispersar. Todos se abraçam e parabenizam em uma energia caótica, alimentados pela mesma empolgação de ver mais um trabalho saindo do papel. Consigo ver Saint, o CEO e produtor, se dirigir até mim com um grande sorriso no rosto.

— Parabéns Becky, você foi ótima! GAP será um sucesso —  ele elogia. Percebo um leve brilho em seus olhos, que ele espanta com rápidas piscadas.

— Obrigada, Saint —  respondo com outro sorriso. Desde que começamos a gravar o piloto, ele tem sido gentil comigo.

O produtor acena, sem conseguir esconder os dentes. Seus olhos desviam dos meus e alcançam alguém atrás de mim. Me viro para ver quem é, ao mesmo tempo que Saint emenda:

— Parabéns a você também, Freen!

Só nesse momento percebo que Freen está por perto. Ela olha para algum ponto qualquer à sua frente. Está apoiada em uma bancada, parte do cenário da majestosa casa de Khun Sam. Seus dedos apertam-se contra a palma de suas mãos, a postura é de um gato prestes a atacar algum alvo.

— Vai ser uma longa jornada... — Ela parece resmungar. Fala tão baixo que não consigo compreender com clareza.

— O que disse? — pergunto.

Seus dedos se movem contra a palma em pequenos arranhões.

— Apenas pensando alto. Já estou indo embora. — A resposta é seca e cortante. É quase como se eu ainda estivesse de frente para Sam.

— Parece que você ainda não saiu da personagem, Khun Freen — eu brinco, numa tentativa de amenizar o clima.

— E parece que você continua a mesma criança irritante. —  Ela revira os olhos, ainda sem me encarar.

Engulo em seco. Definitivamente, meu maior desafio será contracenar com Freen Sarocha. Não é nosso primeiro trabalho juntas, mas algo mudou entre a época em que atuamos em SCOY e agora. Não sei dizer o que aconteceu para Freen mudar tanto comigo, mas a julgar pela forma como ela trata os outros ao meu redor, sinto que é algo pessoal. É quase como se ela tivesse se tornado uma estranha para mim em muito pouco tempo, ou talvez eu nunca a tenha conhecido de verdade.

— Você estava certa quando disse que seria uma longa jornada — eu retruco. — Concordamos em alguma coisa.

Ela não responde por uns instantes. Seus dedos relaxam e pousam na bancada de Khun Sam, mas os olhos continuam buscando encarar qualquer coisa que não seja o meu rosto. Então, finalmente quebra o silêncio:

— Se concorda comigo, por que aceitou o papel?

Arregalo os olhos, sem nenhum esforço de esconder minha surpresa. Pareço estar perdida em algum lugar entre ficção e realidade, ou finalmente Freen deixou Lady Samanum dominá-la por completo. Olho para o lado, em busca do rosto de Saint, mas ele não está mais perto de nós.

— Isso é alguma piada? —  pergunto, elevando um pouco o tom de voz. — O que eu fiz para você mudar tanto comigo, Freen? E quanto a você, se me odeia, por que aceitou o papel?

Minha mente tenta conter as perguntas, mas minha boca é mais rápida e libera todas elas em uma enxurrada.

— Um: não é uma piada — Freen começa. Finalmente, olha nos meus olhos. —  Três: pensei que as coisas seriam diferentes.

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