— É estranho imaginar que um par de seguranças está na porta da frente — digo a Freen, que abre um sorriso sem graça em resposta.
Mais do que estranho, é constrangedor. Estamos novamente no motel A One, que deveria ser nosso refúgio antes de tudo. Mas o fato de haver homens fardados empunhando armas no lado de fora me faz querer me esconder aqui para sempre.
— Vamos fingir que não estão aqui — ela sugere com as bochechas completamente vermelhas. Até parece que a própria vai conseguir.
Hoje completamos duas semanas em liberdade. As coisas parecem retornar aos eixos aos poucos, embora algumas cicatrizes mentais talvez nunca sejam apagadas. Apesar disso, as cicatrizes físicas estão cada vez mais imperceptíveis, quase não há vestígios das ataduras nos meus pulsos e as palmas de Freen finalmente estão sem as marcas.
Me acomodo entre seus braços na cama, movimento ao qual ela reage com um beijo em minha testa. Tem sido assim desde que saímos da prisão e ela me contou sobre seus sentimentos. Nos vemos todos os dias e parece que a necessidade do toque uma da outra é imensa, como se só fosse possível acreditar que tudo passou através do contato físico.
— Becky...
Seus olhos encontram os meus como se quisessem me pedir algo.
— Pode falar, babe — respondo, deixando meus dedos passearem por sua boca.
Freen se remexe ao meu lado.
— É que... será que você pode pagar a diária?
Abro um sorriso com o pedido hesitante. Ergo os olhos para constatar que seu nariz está franzido. Apesar de achá-la adorável quando fica com vergonha, não gosto que se sinta assim sobre esse assunto.
— É claro que sim. Já conversamos sobre isso, você não precisa ter vergonha de me pedir as coisas.
— Mas tenho — ela confessa sem me encarar de volta. — Parece que estou te extorquindo. Já comecei a procurar emprego, e finalmente depois de meses surgiu um comprador para o carro. Vou devolver tudo.
— Shhhh. — Rolo na cama, para ficar de frente para seu rosto. — Você não precisa fazer isso agora, Freen. Só se concentre em cuidar da sua mãe, e acho loucura vender o carro.
Tudo ainda é muito recente, nos próximos meses receberemos uma indenização. A empresa de Saint foi obrigada a fechar as portas com sua prisão, mas a série pode voltar a ser produzida. A autora do livro em que ela se baseia e o diretor Nuttapong estão negociando com grandes plataformas de streaming, o caso ganhou uma repercussão mundial e agora todos querem saber do que se trata GAP. Não é o fim do sonho, só um adiamento.
— Preciso, sim. Não posso ficar parada enquanto sua família me banca, e sobre o carro era o que estive tentando fazer mesmo antes de tudo acontecer. Não me sentia à vontade fazendo dívidas enquanto andava de carro, mas ninguém aparecia para comprar e era útil quando mamãe passava mal, eu não podia chamar ambulâncias. Com esse possível comprador posso pagar as contas que faltam.
— É melhor manter o carro, Freen — insisto para que ela perceba o que está dizendo. — A sua mãe ainda precisa de tratamento, e é mais confortável para ela que você a leve para as consultas. Eu e minha família sabemos que você não está extorquindo ninguém, só quero ser seu apoio enquanto nós nos reconstruímos.
Sua expressão parece pensativa, mas não se convence do que eu disse.
— Por que não espera até o fim dessa semana? A Netflix vai dar a resposta em breve — tento mais um pouco. Ela se encolhe à menção da última frase. — Ainda não se sente pronta, não é?
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Paralelo
FanfictionFreen Sarocha e Rebecca Armstrong tiveram suas vidas ligadas ao atuarem juntas em uma série tailandesa. Agora, um ano depois, estão prontas para encarar o desafio de contracenar em GAP the Series, onde serão protagonistas. Becky sabe bem da responsa...