Minhas mãos estão trêmulas quando pego a chave da mão de Becky. Será que ela percebeu?
Não consigo tirar os olhos dela, apesar de que seria mais fácil não encará-la. A pulsação em minha cabeça me faz pensar que em breve vou explodir, ou chegar bem perto disso. Talvez seria melhor se eu simplesmente sumisse e parasse de fazer as pessoas sofrerem.
A mágoa consome seu rosto. Sei que tenta se controlar, mas provavelmente está me xingando dentro de si. Estremeço com essa possibilidade, sinto meu coração encolher ao ver o quanto estou a machucando. Mas é melhor assim, não é? Nunca deveria ter sido diferente. O dia de ontem foi um deslize.
Se ela me odiar para valer, estará segura. É isso o que importa.
Então por que dói tanto?
— Vou subir, então — digo, colocando a chave no meu bolso da calça.
Faço menção de voltar ao elevador, mas continuo imóvel na frente dela. Sua boca se abre algumas vezes e torna a fechar, sem emitir nenhum som. É como se tudo estivesse congelado, mas não fazemos esforço nenhum para sair desse transe. Observo enquanto seus olhos parecem afundar no rosto. O sorriso de antes sumiu, dando lugar a um semblante que eu reconheço muito bem: decepção. Ela parece ter levado um golpe no boxe do qual não sabe se defender.
Seus dedos deslizam pelo celular, provavelmente chamando algum táxi para que leve-a de volta para casa. Para longe de mim.
— Por que não subiu ainda? — ela fala, finalmente.
O cheiro de baunilha continua presente em seu corpo. Foi com esse cheiro que consegui dormir ontem, sentindo os resquícios do perfume no meu cabelo, uma prova concreta de que ela me fez cafuné e eu não estou delirando.
Ela me fez cafuné ontem e hoje me trouxe roupas. Enquanto isso, estou sendo um monstro.
— Estou esperando o elevador descer — invento.
Becky solta uma risada debochada.
— Para isso você precisa apertar o botão.
Fecho os olhos. Que dor. Então é assim que ela se sente todos os dias em minha presença.
— Sim, vou fazer isso agora — digo. Me afasto dela, seguindo em direção ao conjunto complexo de elevadores, que sobem e descem com visitantes de crachá.
— Ou será que está esperando Heng voltar?
Minha mão para no ar, antes que tenha a chance de apertar o botão. Não me viro para ela, mas tenho certeza de que está sorrindo de forma irônica, com uma lágrima escorrendo por seu rosto. Meu coração para por alguns instantes, antes de retomar um ritmo frenético e parecer querer pular para fora de mim.
— Não estou esperando ninguém — afirmo. Ao menos isso é verdade.
Sua risada preenche meus ouvidos. Eu preferia que ela continuasse calada.
— Na próxima, peça para que ele traga suas coisas. — Que dor. Que... dor. — Já que ele pode subir, e eu não.
— Desculpa, Becky — eu murmuro. É baixo o suficiente para que ela não escute. Não consigo virar para ela, não consigo escutar mais nada.
Aperto o botão, implorando para que a máquina se abra o mais rápido possível e me engula para longe de Rebecca.
Não é preciso, porém. Antes que o elevador chegue, escuto seus passos apressados sumirem para longe de mim. Uma buzina anuncia que seu carro chegou, e o ronco do motor garante que agora estou de fato sozinha.
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Paralelo
FanfictionFreen Sarocha e Rebecca Armstrong tiveram suas vidas ligadas ao atuarem juntas em uma série tailandesa. Agora, um ano depois, estão prontas para encarar o desafio de contracenar em GAP the Series, onde serão protagonistas. Becky sabe bem da responsa...