De um dia de chuva - em algum lugar no passado:
Freen não conseguia esconder o sorriso no rosto enquanto pulava nas poças que se formavam pela calçada irregular. Ao contrário do clima cinzento, ela se sentia quente e feliz. Estava radiante, não precisava do sol para iluminá-la quando ela própria emanava luz.
Nas mãos, carregava um guarda-chuva colorido que combinava com suas galochas. Ela gostava de dias chuvosos, se divertia com a correria dos pedestres para se abrigar em árvores ou tapar suas cabeças com jornais — fugir da chuva lembrava a infância.
Mas o motivo que a deixava tão feliz era outro: Becky Armstrong. Elas haviam marcado de se encontrar para pintar em um ateliê de uma galeria que Freen amava. A mais velha tinha acordado com receio de que o encontro fosse cancelado por causa da chuva, mas não seria esse detalhe climático que impediria as duas de passarem um tempo juntas.
Elas precisavam disso.
Freen atravessou a última avenida antes de entrar no endereço combinado. Já sabia exatamente o que pintaria para Becky.
Primeiro, iria desenhar um lírio. Uma vez a garota lhe contou que esse deveria ter sido seu nome no lugar de Rebecca, então queria mostrar a ela que se lembrava desse detalhe. Aliás, se lembrava de todos os detalhes que a outra já havia mencionado, porque gostava de sentir que a conhecia cada vez mais.
Depois, pintaria um céu estrelado. Esse segundo quadro fazia parte de um plano que Freen vinha elaborando desde que recebeu o convite da mais nova. Queria entregar a ela o livro "Uma casa no céu", um presente que passava de geração em geração entre as mulheres de sua família.
Sua mãe havia lhe dito para entregá-lo a alguém que ela considerasse especial, e Becky era a pessoa que melhor preenchia esse posto em sua vida. Não conseguia nomear a relação entre as duas, mas isso não importava. Ela se sentia completa ao lado da outra, e isso era o suficiente para saber com quem gostaria que o livro ficasse.
Fechou o guarda-chuva e o depositou no recipiente na entrada do lugar. Esfregou as galochas no tapete e adentrou a galeria, sentindo seu estômago se revirar em um nervosismo bom.
O ambiente estava repleto de quadros pendurados nas paredes ou encaixados em cavaletes no chão. Alguns completos, outros escondidos por panos brancos que aguçavam a curiosidade da amante de arte. Cores se emaranhavam pelo chão em poças secas de tinta, adicionando um detalhe aconchegante ao ambiente.
— Lindo, né? — uma voz disse atrás de si.
Freen sorriu instantaneamente. Não precisava virar para saber que Becky havia chegado, mesmo assim o fez. Aproveitava todas as oportunidades que tinha para olhar seu rosto.
— Becky! — ela exclamou. — Você está ensopada!
A mais nova ria e pingava pela galeria. Seus cabelos encharcados faziam uma trilha de água por onde ela passava; a roupa não estava diferente. Freen retirou seu casaco para cobri-la, não queria que o encontro feliz se transformasse em doença depois, e sabia que não podia contar com o sistema imunológico de nenhuma das duas.
Arrancou o pano que cobria uma das obras e o transformou em toalha para secar os cabelos da garota.
— Eu tô bem! — a mais nova exclamava entre risos. — Não me importo de estar molhada.
— Mas eu me importo — Freen ressaltou. Tentava procurar a graça, mas sua cara estava fechada em preocupação. — Você vai ficar doente por minha culpa.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Paralelo
FanfictionFreen Sarocha e Rebecca Armstrong tiveram suas vidas ligadas ao atuarem juntas em uma série tailandesa. Agora, um ano depois, estão prontas para encarar o desafio de contracenar em GAP the Series, onde serão protagonistas. Becky sabe bem da responsa...