24 - Freen e Becky

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Freen POV

O par de olhos que me encara do lado de fora da sala de visitas me deixa desconfortável.

Passei o caminho todo pensando em quem poderia querer me ver, torcendo para que fosse Chanthira com alguma novidade sobre mamãe, talvez Nam e seus salgadinhos de camarão, ou a advogada com boas notícias. O que encontrei, entretanto, foi uma versão mais velha e amedrontadora de Saint.

— Olá — ele cumprimenta após estudar meu rosto minunciosamente. — Obrigado por me receber.

— Não tive muita escolha — eu rebato. O homem abre um sorriso indiscreto.

— Deixe que eu me apresente primeiro. Sou Dheva Udomkaewkanjana, pai do homem que colocou você atrás das grades.

Me reclino na cadeira de escritório destinada a mim. Um painel de vidro nos separa, o único meio de contato entre nós dois é um pequeno orifício ao centro, por onde posso sentir o cheiro de charuto emanando do terno do homem.

Ele parece esperar alguma resposta minha, mas não encontra. Seus cabelos, embora grisalhos, caem da mesma forma que os de Saint. Me pergunto como deve ser para o ator se assemelhar tanto a alguém por quem tem desprezo.

— Estou aqui porque tenho uma proposta — ele inicia. Me olha com curiosidade, como quem quer desvendar algo sem ter que perguntar. — Acredito que eu e você tenhamos interesses em comum...

— Meu único interesse é sair daqui e levar Becky comigo — eu argumento. — Não imagino que seja o mesmo que o senhor queira.

Suas mãos contornam o orifício que nos conecta, me fazendo arrastar a cadeira para trás.

— Seu interesse é que a verdade seja descoberta — ele replica. — Meu interesse é tirar meu filho do caminho, então creio que possamos trabalhar juntos para conseguir o que queremos. Se eu for o juiz do seu julgamento, posso...

— Está enganado — eu interrompo. — Não podemos trabalhar juntos. Não acho que você tenha razão em renegar um filho pela sexualidade dele. Saint pode ser um homem adulto responsável por suas ações e seus traumas não justificam o que ele fez comigo, mas entendo que ele teve seus motivos por causa do tratamento que recebeu de você. Eu quero justiça, mas não por meios corruptos ao qual você está acostumado. Quero justiça porque eu e Becky não merecemos ser condenadas por algo que não cometemos. Você quer vê-lo preso porque tem vergonha de que tenha seguido seu próprio rumo fazendo o que o faz feliz. Então nunca mais repita que temos os mesmos interesses.

Ele dá de ombros. Continua com um sorriso irritante nos lábios.

— Nossas motivações são diferentes, mas com o mesmo objetivo. Não vejo o que tem de errado nisso. Nunca me importei de Saint fazer suas escolhas, só precisava que ele aceitasse continuar com algumas das funções que não posso designar aos seus irmãos. — Ele cospe no chão, sem nenhum pudor. — Saint sempre foi o mais esperto e criativo, o que teria o futuro mais brilhante. Nunca neguei isso, é uma pena que tenha se dedicado a uma carreira pouco promissora. Eu não me importo com quem ele beija na boca, isso nunca foi um problema para mim. Mas me importo com a mancha no sobrenome de uma família voltada para o meio jurídico, e me envergonho de ver o que ele fez com as senhoritas.

— Você não vai me convencer com esse discurso — eu rebato. — Deveria ter deixado Saint fazer suas próprias escolhas, indiretamente você contribuiu para que eu estivesse nessa posição. Então não, não aceito nada que venha de você. Se vamos sair daqui, faremos pela verdade, sem ajuda de ninguém com caráter duvidoso.

Faço um gesto para que o policial que me trouxe aqui se aproxime e me leve embora. Não quero ficar no mesmo ambiente que esse homem, as coisas não se resolverão dessa maneira.

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