Água.
É a primeira palavra que vem à minha mente quando abro os olhos. Meu corpo está pesado, mas consigo sentir um rastro de água percorrer meu braço. Tento me afastar da goteira que insiste em pingar e molhar minha blusa, mas é como se meus membros não obedecessem aos comandos do cérebro.
Pisco algumas vezes para enxergar. A claridade parece excessiva aos meus olhos, mas presumo que isso se deve ao fato de eu estar acordando apenas agora.
Mas acordando de quê?
Um engasgo abafado sai de minha boca, arranhando minha garganta adormecida. Meus lábios estão secos, eu gostaria de poder passar um gloss ou tomar um gole de água.
A cama onde estou é dura e cheira mau. Ao redor, caixas de papelão se assomam em castelos recheados de entulhos e bugigangas de lojas de conveniência. Consigo distinguir um coelhinho de pelúcia com algodões escapando das orelhas e uma boneca sem o olho direito.
Tento me sentar para pegar o coelho. Meu corpo todo parece ranger em protesto ao movimento repentino, então desisto com um suspiro. Para onde foi a Becky lutadora?
Coço a cabeça com dificuldade. Onde eu estou?
Consigo me lembrar apenas de uma voz assustadora perfurar meus tímpanos antes de eu perder a consciência. Arrasto minhas mãos pelo bolso, em busca do meu celular, mas não há nada aqui. Nem mesmo o bilhete suspeito.
Que horas são? Eu preciso me encontrar com Freen. Que merda está acontecendo?
Estranhamente, não sinto medo. Parece que meu corpo está tão fraco que não consigo esboçar grandes reações. Consigo apenas respirar e deixar meu cérebro tentar formular uma resposta sobre quem me trouxe até aqui.
Em vão.
A água na goteira tem um tom amarronzado. Parece misturada à terra ou lama, talvez esteja chovendo lá fora. Não vejo janelas ou qualquer fresta que possa me dar uma noção de tempo e espaço. Tudo o que a única lâmpada pendurada no teto consegue iluminar além das caixas é a estrutura de cimento que as paredes e o teto formam, como se alguém estivesse com preguiça de terminar o acabamento do cômodo.
Tem uma escada também. Parece levar a uma porta, mas não consigo assegurar com certeza pelo ângulo em que estou vendo. Materiais de construção, livros e objetos empoeirados parecem amontoar-se uns sobre os outros em um canto na parede de trás.
Talvez eu esteja em um porão.
Me espreguiço algumas vezes, com intenção de fazer meu corpo reagir à inércia. Consigo me erguer sobre os cotovelos e me sentar na beira da cama. A cabeça pesa com o gesto, mas me mantenho firme. Pisco de novo, já adaptada à claridade artificial, e tento respirar profundamente.
Sinto meu corpo voltando à vida aos poucos. Já não está tão difícil me mover, e me arrisco a descer da cama. Parece mais uma maca de massagem velha.
Ao mesmo tempo em que recobro os sentidos, o medo começa a encontrar espaço na minha mente recém desperta. Minhas pernas ainda bambas se esforçam para esboçar algum tipo de corrida por entre as caixas e montes de tralha, enquanto o coração toma um ritmo descompassado.
Eu fui sequestrada?
Vou até a escada. Em passos trôpegos, subo os degraus. Meu corpo parece o de uma idosa centenária tentando avançar, mas foco na porta acima de mim e consigo chegar ao topo.
Obviamente, está trancada. Deixo meus joelhos deslizarem e cederem ao chão quando me dou conta do que está acontecendo.
— Socorro — balbucio. Soa arranhado, como se minha voz não fosse usada há muito tempo. Tusso para espantar a sensação de que a palavra continua presa na minha garganta. Inspiro fundo, antes de tentar novamente: — SOCORRO!
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Paralelo
FanfictionFreen Sarocha e Rebecca Armstrong tiveram suas vidas ligadas ao atuarem juntas em uma série tailandesa. Agora, um ano depois, estão prontas para encarar o desafio de contracenar em GAP the Series, onde serão protagonistas. Becky sabe bem da responsa...