13 - Freen

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Eu tinha lembranças melhores desse lugar.

A cama parecia mais macia. O lustre era maior e mais bonito. Tenho quase certeza de que as pétalas eram mais cheirosas também, e posso apostar que a champanhe teria um gosto melhor se eu tivesse conseguido bebê-la na primeira vez em que estive aqui. 

Hoje parece amarga em minha boca. 

Acho que era Becky quem dava magia a esse quarto. Talvez fosse seu sorriso que deixasse a cama tão felpuda, ou o lustre tão brilhante. Talvez fosse seu perfume que deixasse as flores tão cheirosas. Agora que estou sozinha, sem ninguém para me mostrar como se faz um coelho de sombras, tudo parece frio e sem graça.

Suspiro. Confiro o horário pela milésima vez. Já se passaram trinta minutos da hora que combinamos.

A garrafa de champanhe está começando a esvaziar. Me encolho em cima da cama, as mãos suadas abraçam meus joelhos e tento controlar a respiração. Será que não liberaram Becky para vir hoje?

Meu lado covarde fica aliviado com essa hipótese, mas me repreendo porque sei que preciso acabar logo com isso. Ela merece saber, e não posso privá-la disso por medo de sua reação.   

Ou ela não quis vir?

Balanço a cabeça em negativa. Isso não. Ela estava determinada demais, e eu a conheço o suficiente para saber que não desiste de nada a que se propõe a fazer. Às vezes não sei como dá conta de uma rotina tão exaustiva. 

Deixo meu corpo pender na cama e deito a cabeça no travesseiro. Eu disse à mamãe que voltaria antes da passagem do pneumologista no quarto, mas não sei se vou conseguir chegar a tempo. 

Não foi fácil vir até aqui. Tentei despistar ao máximo minha saída, atenta a qualquer movimento que parecesse com alguém me seguindo. Improvisei um disfarce com as mudas de roupa que Becky me trouxe e acho que tive sucesso.

Mas de nada adianta se ela não aparecer.

Sem os bichos de sombra, o teto parece maior. A janela entreaberta faz as cortinas dançarem uma coreografia fantasmagórica. Até o lustre parece assustador desse ângulo, tremeluzindo com o vento que balança seus pedaços de cristal e provoca ruídos de vidro quebrado.

Estremeço.

E se aconteceu alguma coisa?

A dúvida nocauteia meu corpo como se ele fosse de pano. Meus sentidos entram em ebulição, o suor frio escapa de mim sem que eu me dê conta — uma espécie de aviso silencioso de que eu devo seguir minha intuição. 

Fica difícil respirar. Agarro meu celular, que já marca cinquenta minutos de atraso de Becky. Procuro o aplicativo de e-mail, mas tudo na tela parece embaçado demais e levo alguns instantes para perceber que lágrimas estão se formando nos meus olhos. Digito a mensagem, sem me importar com a possibilidade de minha localização ser encontrada. 

"Você vem?" , envio. 

Não espero a resposta, desbloqueio o número de Becky e pressiono o botão de ligação. 

Meus batimentos cardíacos aceleram à medida que escuto cada novo bip  telefônico, sem qualquer tipo de resposta do outro lado. Tu... tu... tu... Já não sei se é o telefone ou meu coração. 

Deixe seu recado. Sua chamada será cobrada após o sinal.

  — Não — murmuro. Sai abafado, embora eu sinta um grito preso na garganta.  — Rebecca...

Caço o telefone de Nam. Talvez Becky só esteja gravando. Ela deve estar ocupada, o celular provavelmente perdido em um canto qualquer do camarim enquanto todos estão longe demais para ouvir. Só pode ser isso. Tem que ser isso.

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