Paralelo

Epílogo - Becky, Freen e Bonbon

Becky POV

— Ok pessoal, obrigado por hoje!

As palmas irrompem o set pela última vez quando o diretor anuncia o fim das gravações.

Aperto meus dedos contra os de Freen enquanto a plateia abaixo de nossos pés se desfaz em sua comemoração barulhenta. Do alto da varanda onde nos encontramos, os convidados para a cena final de GAP parecem pequenas formigas de rosa e branco.

— Nós conseguimos — sussurro sem mover os lábios, que continuam sorrindo para a multidão.

Há um papel e uma caixinha no bolso oculto do meu vestido. Agora que o diretor encerrou as gravações e o fim de GAP está oficializado com o casamento de Mon e Sam, o objeto parece pesar uma tonelada em minha roupa. 

Talvez seja só o nervosismo. Minha mão entrelaçada à de Freen desliza com o suor e meu estômago está prestes a devolver todo o almoço de mais cedo. Tento me concentrar no calor humano que envolve a plateia de figurantes e amigos para não me deixar dominar pelo medo do que estou prestes a fazer.

Reconheço o rosto da menina Mali no meio de suas amigas, algumas delas responsáveis pelos vídeos que incriminaram o pai de Saint. A enfermeira Chanthira também faz parte da plateia, além de milhares de fãs que eu desconheço, embora vibrem sem pretensão de parar com a cena  que acabamos de concluir.

— Conseguimos, meu amor — Freen concorda com um sorriso capaz de fechar seus olhos.

É difícil resumir os últimos meses em poucos parágrafos, tamanha sua intensidade. Quando a Netflix comprou os direitos para regravar GAP, nossa história fora das telas já era conhecida no país inteiro. Tínhamos cada vez mais fãs pela Tailândia, pessoas que ansiavam por ver nossa estreia ou simplesmente curiosos que queriam saber o desfecho do drama dos bastidores.

As coisas evoluíram para outro patamar quando eu e Freen anunciamos o namoro. Rompemos as fronteiras do nosso país e nos tornamos um fenômeno mundial muito antes do primeiro episódio, o que agora representa uma responsabilidade dez vezes maior do que a inicial. Todos estão esperando por nós, mas isso não me assusta tanto quanto assustaria a Becky de meses atrás.

— Preciso te perguntar uma coisa — digo a Freen. Seu sorriso continua imenso e me traz uma onda de paz por saber que finalmente ela conseguiu reencontrar a felicidade.

Ela precisou de mais tempo e muita terapia para conseguir se libertar dos sentimentos que a prendiam nos últimos acontecimentos. Cada sorriso sincero em meio aos seus dias de crise eram como um pote de ouro para mim, e quando eles começaram a se tornar frequentes isso significou minha felicidade também.

Ela está feliz. Realmente feliz. Isso me enche de certeza do que estou prestes a fazer.

— Pode perguntar, meu amor — Freen responde perto do meu ouvido. 

Aperto sua mão que continua unida à minha. 

— Vem comigo.

Puxo-a para dentro do casarão em que o casamento de GAP foi encenado e corro com ela para dentro do nosso camarim. Ouço um gritinho espantado sair de sua garganta, mas ignoro-o assim como todos os outros murmúrios surpresos da equipe e da plateia cenográfica. 

Da última vez que meu coração bateu desse jeito, eu estava em um tribunal sendo julgada por um crime que não cometi. Agora, estou correndo por uma casa enorme de mãos dadas com a mulher que eu amo, prestes a fazer o pedido mais importante da minha vida. 

Solto nossas mãos quando chegamos ao camarim. Suas bochechas estão vermelhas e ela ofega um pouco. A aversão de Freen por atividade física continua a mesma, mas sorrio com sua tentativa eufórica.