8 - Bonbon

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De um dia na praia - em algum lugar do passado:

O sol estava alto no céu, de modo que fazia as sombras parecerem monstros gigantes. Bonbon olhava atento para a mancha acinzentada que o seguia pela areia, uma versão maior e mal contornada de si mesmo. 

Sua humana, Becky, também tinha uma sombra. Era alta, caminhava com a garota a passos sincronizados e se confundia com a sombra de outra pessoa.

Freen. Esse era o nome dela, Bonbon já havia aprendido. Assim como suas versões cinzentas que refletiam na areia, as duas humanas estavam de mãos dadas. Seus cheiros podiam ser detectados pelo focinho do cachorro que tentava acompanhá-las. Exalavam felicidade.

Era um odor familiar quando essa tal Freen estava por perto. Becky sempre soltava hormônios cheirosos na presença da humana maior, o mesmo tipo de hormônio que Bonbon sentiu quando a dona o viu pela primeira vez. Alguém já havia dito para ele que significava amor. 

Ele gostava de estar na companhia das duas. Se Freen deixava Becky feliz, também o deixava feliz. O sorriso que sua humana dava quando estava com ela era capaz de iluminar mais que o sol acima de sua cabeça.

Além disso, Freen fazia um carinho incrível na barriga do animal. Ele gostava da forma como ela o imitava, colocando a língua para fora em uma careta. Já ouviu Becky dizer a ele que a mais alta era o seu "Daddy", mas não sabia muito bem o que isso significava. 

Só sabia que devia ser algo bom. Com elas, ele se sentia em uma família.

Ele latiu quando viu sua dona correr pela areia, soltando das mãos de Freen. 

Vem me pegar! Becky gritou. 

Bonbon não sabia dizer se ela falava com Freen ou com ele. Era uma das poucas frases humanas que compreendia, então ficou empolgado para segui-la. 

A água salgada refrescava suas patinhas enquanto ele corria à beira da praia. Freen não os acompanhou; ela fez alguma piada sobre não gostar de exercícios e sentou em uma toalha estendida pelas duas. Mas Bonbon viu enquanto ela ria e tirava fotos  da cena com sua câmera analógica.

Quando alcançou Becky, estava ofegante. Ela sorriu e se agachou para pegá-lo no colo. 

Você é muito rápido sussurrou para o animalzinho. Ele não sabia o que significava, mas devia ser algo bom, porque recebeu dois beijinhos no topo de sua cabeça. 

Se acomodou no colo da dona enquanto ela voltava a correr, dessa vez na direção de Freen. O vento balançava suas orelhas e deixava os cabelos das humanas ainda mais bonitos. 

Quando Becky chegou, soltou o cachorro na areia. Ele se aninhou entre as duas com um latido baixinho. Um latido de felicidade.

Vamos tirar uma foto Freen pediu. Dessa vez, pegou o celular e posicionou na frente dos três. Os humanos chamavam aquilo de selfie. 

Becky juntou seu rosto próximo ao da outra. O animal precisava se esforçar para aparecer na tela. 

Diga xis! as duas gritaram. Bonbon latiu em resposta e mostrou a língua. 

Alguns cliques depois, foi liberado para voltar a correr.

Elas se acomodaram na toalha enquanto observavam o animalzinho brincar com um graveto que havia encontrado. 

Ele é muito fofo Freen comentou. 

Becky abriu um sorriso. 

Não mais que você. 

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